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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

MENSAGENS E REFLEXÕES

MENSAGENS E REFLEXÕES

BRUDER KLEIN


Embarque na fantasia
Encha o coração de esperança
Transforme a vida em ventura
Conquiste o amor pela fé


Bruder Klein


Todos os direitos reservados pelo autor.
É proibida a reprodução dos textos originais, mesmo parcial, e pôr qualquer processo, sem a autorização, escrita, do autor.
Registrado na Biblioteca Nacional: EDA/70921 de 02/06/1.99l

E-Mail: mik346@hotmail.com


O autor solicita a opinião dos leitores:
Bruder Klein
Av. São João Batistas, 384 - Bloco B7 - Apto. 23
Rudge Ramos São Bernardo do Campo S P
09635-000 Tel. (011) 4368-9987
mik346@hotmail.com



À G U I S A D E P R E F Á C I O


Reunimos, aqui, algumas páginas esparsas do livro da vida. São algumas mensagens e reflexões que nos foram concedidas e que anotamos ao longo do tempo. Elas apresentaram-se à nossa mente em momentos muito especiais em nossa vida; momentos de sonho e fantasia em que o nosso espírito alçou vôo para as regiões desconhecidas, ou recolheu-se para dentro de nós, para meditarmos sobre coisas que atormentavam a nossa mente.
A nossa vida tem sido uma procura incessante do elo que nos ligue ao Criador. Aprendemos que fomos criados por um Deus de amor, que em momento algum nos abandona e, como um pai, cuida de cada um de nós, orientando-nos através do seu Santo Espírito, para que possamos alcançá-lo. Nos deu um potencial extraordinário e percepção para encontrarmos o caminho, que nos leva à sua presença, através do seu filho Jesus Cristo, pelo qual estabeleceu uma ponte para nos assegurar a trajetória. Ao homem cabe seguir os ensinamentos de Cristo de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo. Todos somos irmãos, independente de seitas, raças ou da cor de nossas peles, sabendo-se que o cumprimento da lei do amor em nossas vidas nos coloca em consonância com o Criador; tornando-nos receptivos para auferimos conhecimentos que nos levará em auxilio daqueles que necessitam de uma palavra amiga, de amor e compreensão.
Esperamos que as páginas que se seguem possam ser úteis a quem as ler; que elas possam inspirar, a cada um, o desejo de viver com mais amor.
Os méritos não serão nosso mas daquele que nos dá forças e nos inspira para que registremos aquilo que de alguma maneira poderá ser útil aos nossos semelhantes. Pois é através do Santo Espírito que poderemos receber o conhecimento e o entendimento.
Para aqueles que desejam um encontro mais profundo com o Pai, recomendamos a leitura da Bíblia, que é Deus falando através dos profetas e do seu filho Jesus Cristo, que veio ao mundo para redimir-nos de nossos pecados: “Porquê todos pecaram e destituídos estão da gloria de Deus; sendo justificados gratuitamente pela graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” Rom. 3:23,24) (grifo nosso)
Apresentamos estas páginas sob um pseudônimo pôr não nos julgarmos autor e sim unicamente um canal usado para fluir algo que é parte do patrimônio da humanidade. Achamos que a própria inspiração é um patrimônio universal e dela participamos por mais ou menos receptivos estejamos em um determinado instante. Por mais que tentemos não conseguiremos produzir algo que em algum lugar, em algum instante, já não tenha sido dito, de alguma maneira.
No final deste opúsculo apresentamos um conto (Walkyria) que se apresenta como um misto de sonho e fantasia, estando ainda misturado com algo de realidade; não uma realidade material, se pudermos assim dizer, mas uma criação subjetiva, presente em nosso íntimo e apresentando-se como ficção. Divagamos sobre alguma coisa que gostaríamos houvesse acontecido em nossa vida. Fantasiamos os acontecimentos para alcançarmos, mesmo que fosse apenas em nosso imaginário o que seria o ideal maior de nossa vida. E acreditamos que seja o ideal da humanidade. O encontro do amor, verdadeiro e correspondido apresenta-se como o ideal maior da humanidade e ele, aqui, talvez nunca seja encontrado, barrados pôr obstáculos intransponíveis de tempo e espaço. Precisaríamos ser super homens para vencermos esses obstáculos, para sermos senhores da eternidade e podermos abracar passado, presente e futuro, e podermos viajar pelo universo. Mas a vida não é sonho nem fantasia; é realidade sem ficção, razão que nos leva, muitas vezes, a nos afiliarmos a uma madrasta.
Desejamos solicitar para que não exijam muito de uma pessoa que terminou sofrivelmente o curso primário (4º serie do 1º grau). Na verdade não sei escrever; por certo muitos erros serão encontrados, mas creio que não prejudicarão a compreensão do conteúdo. Esperamos que as palavras simples que foram rudemente alinhavadas, possam servir para que espíritos mais lúcidos possam colocar-se a serviço da humanidade, criando ilusões, satisfazendo fantasias.


15/10/1.987

Bruder Klein

(Irmão Pequeno)


À minha companheira,
Aos meus filhos, netos e demais gerações


Daqui a alguns anos, quando eu já houver despido a roupa usada e gasta pelo tempo, que visto hoje; quando o meu espírito houver alçado vôo e pairar, livre, nas regiões do sonho; quando for uma doce lembrança nos corações transbordantes de amor, então . . .
Então, talvez, alguém, ao remexer em antigos guardados, encontrará um velho retrato e dirá: “este é meu avô (ou bisavô) a quem eu não conheci”. Porque uma fotografia é o instantâneo de um momento, que embora muito sugestiva, é a revelação do exterior e não revela o que é o verdadeiro homem interior.
Precisaríamos fotografar a alma! Um instantâneo que a surpreendesse em um momento precioso em que derramasse o seu conteúdo e revelasse toda a potencialidade do seu ser. Esses momentos de emoção realmente existem e, se gravados, poderiam apresentar-se como a verdadeira fotografia da alma e quem a contemplasse poderia conhecer, profundamente, esse ser “fotografado”, mesmo que decorridos muitos anos.
Isso é o que eu ofereço a vocês, aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos. Para que, na visão de vibrações cósmicas, possam ter uma pálida lembrança de um místico ancestral.
Que esse derramar abundante do meu ser, em momentos muito especiais de minha vida, possam propiciar; a quem os ler, a oportunidade e a inspiração para perceberem, nas entrelinhas, os fundamentos da vida, que é sonho e fantasia, mas é, também, realidade.
Que Deus nos ajude, sempre, a sabermos dosar, em nossas vidas, o sonho, a fantasia e a realidade, para que encontremos a medida certa e ideal que nos garantirá a felicidade e a daqueles que são de nós dependentes.

Bruder Klein











O P I N I Õ E S

Bruder Klein

Gostei bastante do seu livro. É verdadeiro, honesto, otimista. Acreditar na vida quando tudo parece tão difícil, caótico, é a maior mensagem que se pode enviar aos nossos semelhantes.
Alcino José de Souza Filho

Klein
Seu livro é riquíssimo em mensagens otimistas e inteligentes que penetram facilmente no íntimo da gente. É dotado de profunda sabedoria extraída de experiências provindas de sua vida, cotidiano e imaginação criativa que penetra na realidade do ser humano. Só uma pessoa que conhece a si mesmo, tem condições de transcrever tamanho conhecimento.

Savinho
27/04/1.988

Gostei muito dos seus escritos. São de leituras fáceis e demonstram toda a sua capacidade criativa.
À medida em que se vai lendo, mais se quer chegar ao fim, sempre preso a uma gostosa sensação.
Conhecê-lo me ensejou a felicidade de ler seus trabalhos que, com sinceridade, me fizeram bem.. Um Abraço do amigo
Mário Zamarian ( Malim)
17/08/1.989

É a tenacidade sofrida à busca de um ideal. Leitura atraente e fluente.
Quanto aos outros escritos é uma vida que se desenrola contando sua própria história.
A história é positiva e edificante.
Meu desejo que complete seu ciclo na conquista de sua total realização e ajuda, instrução dos que ficarem. Do Amigo Mário
(Prof. Mário Robertson de Sylos Filho)

Apesar da história de amor e de suspense do encontro, o autor caminha com os pés no cotidiano, inclusive citando nomes de ruas e bairros de São Paulo.
O autor revela capacidade de prender a atenção do leitor, criando uma história pura, que interessa tanto para adultos como o jovem.
Sentimos a presença do autor em todo o enredo, sugerindo que ele realiza um antigo sonho neste texto literário. Parabéns

Dr. Getulio Cardoso da Silva
26/01/1.990


Porque Bruder Klein?

Bruder Klein, em alemão, quer dizer Irmão Pequeno . Nós todos somos irmãos pequenos e só temos um GRANDE IRMÃO que é o Espírito Santo que tem descido à terra para ensinar-nos e inspirar-nos a uma vida com amor.

COMUNIDADE DE VIDA E AMOR

Comunidade de vida e amor será uma união de energias para a defesa dos direitos humanos, preservação e valorização da vida e aperfeiçoamento do ser humano, para que viva em harmonia, inclusive com a natureza.
O amor tem de ser uma conquista de cada dia; necessitamos estar atentos para não perdermos as oportunidades que se nos apresentam de a cada dia darmos de nós; doarmos a nossa alma, o nosso coração em benefício de todos. A principal comunidade de vida e amor é a família, composta dos cônjuges e dos filhos. Será aí que deveremos, em primeiro lugar, exercitarmos o amor desprendido, que depois poderemos distribuir por todos aqueles que cruzarem o nosso caminho. Se eu não for capaz de doar amor àqueles que estão perto, como poderei amar aos que estão longe?
A vivência em amor não é fácil, razão porquê deveremos exercitar a cada dia.

UM BOM AMIGO

Sempre nos orienta e nos educa. Quer positiva ou negativamente sempre estará nos oferecendo uma valiosa lição. Quando é positivo o seu conteúdo, nos ensina a trilhar o caminho do bem; quando abriga uma mensagem negativa estará nos orientando sobre coisas que não deveremos fazer.
O LIVRO é, sem dúvida nenhuma, o nosso melhor amigo. Para conhecê-lo bem deveremos lê-lo pelo menos três vezes: a primeira vez será uma leitura completa para reconhecimento; a segunda deverá ser feita, anotando-se, em papel à parte, as perguntas que o texto suscita; a terceira deverá ser feita procurando-se, no contexto, as respostas às nossas perguntas.


Í N D I C E

TÍTULO PAG.
À Guisa de Prefácio 03
Dedicatória 04
Opiniões 05
Porque Bruder Klein 06
Índice 07
Encontremos o Paraíso 10
Liberdade 11
Ode a Mococa 12
Onde Nasci 13
Sensibilidade 14
Comunidade e Cristianismo 15
Um Pai Agradecido - Mapa do Tesouro - Sonho 16
Aniversário 17
Desencontro - Sorriso 18
Rosa Minha . . .Querida Rosa 19
Meditando Sobre uma Poesia - Encontro 20
Devaneio - Meditando 21
Imagem - Necrológio - Desdobramento 22
Então ? 23
Unidade Social e Unidade Cristã 24
Jardim de Flores 25
Liberdade 26
Criação 27
Vida Eterna 28
Máscara 30
Pessimismo 31
Usura 32
O Pregador 33
Meditação 34
Dúvida - Amor 35
Teresa Menina 36
Crescimento 37
Chuvas Primaveris - Desilusão 38
Saudade - A Luz Que Salva 39
Amor Ideal 40
Paloma 41
Criança 42
Saber Sentir 43
O Que é Felicidade 44
O Maior Defeito 45
Lágrimas 46
Solidão 47
O Fim 48
Direito de Sonhar 49
O Profeta 50
Shangrilá 51
Relembrando 52
Caminho - Procura da Verdade 53
Seara 54
Vôo 55
Banda na Praça 56
Procura 57
Partir 58
A Gruta 59
Anonimato 60
Rolando a Vida 61
Cruel Realidade 62
Fome de Amor 63
Ligação Transcendental 64
Chuva de Lágrimas 65
Pelas Estradas da Vida 66
Velha Amargura 67
Dia dos Namorados 68
Natal - Criação 69
Tempestade 70
Continuando a Procura 71
Vida Fluida 72
Noite de Insônia 73
Homem Deus 74
Quem Sou Eu? 76
Carência 77
Ações e Palavras 78
Drummond, 17 de Outubro de l.987 79
Retorno à Vida 80
Cidade e Campo 81
Ouvindo a Natureza 82
Destino Implacável 83
Desesperança 84
Solidão a Dois 85
Meus Filhos 86
Perda Irreversível 87
Solidão II 88
Reencontro 89
Doce Espera 90
Amor 91
Pensamentos 92
Walkyria 96



E N C O N T R E M O S O P A R A I S O

Existia um país, que de tão pequeno limitava-se a um simples ponto no mapa. No entanto tornou-se mundialmente conhecido pelas sábias leis que orientavam o seu povo, que, por isso, tornou-se no mais feliz da terra.
Os governantes de todo o mundo freqüentemente insistiam para que lhes fossem ensinados os códigos daquele país, recebendo como resposta que nada havia a ensinar, visto que suas leis baseavam-se na simplicidade. O clamor foi tão grande que afinal foi marcada uma assembléia onde todas as nações do mundo fizeram-se representar pelos seus mais altos mandatários.
Assomou à tribuna, o primeiro ministro, (um homenzinho que contrastava a sua pequenez com uma enorme simpatia).
- Meus prezados Senhores, aqui estamos reunidos para satisfazer as suas vontades. Como os demais países, de a muito tempo vimos reunindo e aprimorando as nossas leis até acumularmos todos os conhecimentos que se fizeram possíveis. Isto é o que conseguimos:
Nesse momento abriu-se uma cortina e foram mostradas, a todos, enormes pilhas de livros.
- Porém - continuou o homenzinho - chegamos à conclusão que esse acúmulo de tratados não funcionavam e nomeamos uma comissão de sábios, que transformou esse monturo, nisto aqui.
Tirando um pequeno papel do bolso do colete, passou a lê-lo: “Não terás outros deuses diante de mim; não farás para ti imagens de escultura; não tomarás o nome do teu Deus em vão; lembra-te do dia de descanso; honra ao teu pai e à tua mãe; não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não cobiçarás a mulher do teu próximo nem aquilo que a ele pertença.” No entanto, o que nos rege é unicamente a síntese desse decálogo que é: “Ama a Deus sobre todas as coisas e ama ao próximo como a ti mesmo.” Esse procedimento que passamos a viver, meus senhores, foi o que nos conquistou a felicidade suprema.
Todos os presente baixaram as suas cabeças, reconhecendo ser aquilo uma admoestação para que retornassem ao caminho do qual se haviam desviado . . .
Essa história é uma fantasia, mas aquele ponto no mapa bem poderia ser a nossa comunidade. Para usufruirmos daqueles benefícios bastaria que conhecêssemos o evangelho, fazendo dele a nossa norma de vida. Deveremos nos impregnarmos dos maravilhosos ensinamentos de Cristo capacitando-nos a captar a sua essência que é o amor. Quando dedicarmos as nossas vidas, com amor, em benefício de nossos semelhantes estaremos cumprindo todas as leis, porquê a lei das leis é a lei do amor e o eterno amor é o espírito das leis. (Êxodo 20:2-17; Marcos 12:30,31)




L I B E R D A D E


Para conseguirmos completa liberdade mental e psicológica, ou pelo mesmo tentarmos penetrar a verdade do que seja essa liberdade, teremos de livrarmo-nos de preconceitos e tabus. Assim, livres, poderemos passar a discutir as razões desses preconceitos e tabus, eliminando-lhe os efeitos que a educação, dentro dos limites estabelecidos e permitidos nos impingiu . Como poderemos, de outra forma, discutirmos assuntos controvertidos como a religião, casamento, divórcio, aborto, educação sexual, liberdade de expressão? Se presos pelos padrões tradicionais de educação discutiremos estérilmente.
O primeiro passo, para resolvermos os nossos problemas seria livrarmo-nos dos princípios transmitidos e através de um maior conhecimento dos fatos da vida, partirmos para uma investigação e procura da verdade essencial .



_________________________


O homem enfrenta os maiores sacrifícios para dar uma orientação sábia à sua vida; quando chega à beira do túmulo percebe que não viveu.


__________________________

Quando duas pessoas precisarem exigir, entre si, os seus direitos, não haverá mais possibilidade de se entenderem.


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A verdadeira religião é o amor que reúne a humanidade em uma só família.
E X T E R E R I O R I Z A Ç Ã O D E U M S E N T I M E N T O


O D E A M O C O C A



Te conheci em minha juventude,
Em ti reconheci virtudes;
Sonhos vivi, projetei meus ideais
À sombra de tuas palmeiras imperiais.

Oh! Mococa, a ti confesso meus amores,
Ao teu povo irmão ofereço o coração;
A Deus elevo, por ti, minha oração,
Para que jamais mal algum lhes cause dores.

Ao fruto do teu solo me juntei,
No ventre do amor a vida fecundei.
No teu povo encontrei a amizade,
Que no peito expandiu-se em fraternidade.

Como filho a bela terra amei,
Aos irmãos mil afetos externei.
Do povo irmão recebi o abraço,
Temperado, mais forte do que o aço.

Vivi feliz em tuas ruas, em tuas praças,
Aí enfrentei lutas, alcancei graças;
Respirei das matas o ar oxigenado,
À noite, maravilhou-me o céu estrelado.

Hoje distante me encontro do teu solo,
Embalado queria encontrar-me em teu colo;
Em outras plagas, resta-me a saudade,
O amor maior que guardo da cidade.






Rudge Ramos /1.987




O N D E N A S C I







Cidade que eras quando nasci,
Mas que assim não te conheci.
Para o progresso poder receber
A liberdade precisastes perder.

Mas mesmo sem liberdade,
Sem mais foros de cidade,
Ainda conservastes a certeza
De jamais perder a pureza.

Com outras raças caldeastes
A tua cidadania emprestastes;
Em tuas plagas, de baianos a sergipanos
Junto com teus filhos, todos são paulistanos.

Espalhastes, alcançastes o céu
Ao passado longínquo lançastes o véu;
Crianças já não jogam bola em tuas ruas,
Mas, em tuas favelas, jazem nuas.

De humana e pacata mudastes em cruenta,
Da Santo Amaro de ontem só resta saudade;
Anônimos teus filhos perdem a fraternidade,
Nas manchetes, hoje, te chamam a violenta.



Rudge Ramos/09/03/1.987



S E N S I B I L I D A D E





Quero penetrar, buscar bem fundo
Unir duas almas para que tudo fique junto
Alcançar o ponto onde a sensibilidade
Aflora e estabelece a tranqüilidade.

Viajando nas nuvens da minha fantasia
Busco o elo que eleva e que extasia
Entrelaçar as almas em carinho
Viver o amor em suave ninho.

Um conteúdo que arrepie e que sele
A união carnal da suave pele
Tão necessário para que haja compreensão
E não mais vivamos na ilusão.

Colorindo suavemente a relação
Revelando sincera a intenção
Viver sem solidão um grande amor
Afugentar a incompreensão que causa dor.

Duas vidas juntas prá vencer
Usufruir da primavera a suavidade
Viver a natureza com toda a intensidade
Pra que a flor do amor não venha a fenecer.



C O M U N I D A D E E C R I S T A N I S M O


“Espírito de Comunidade” é a ação conjunta dos participantes de um grupo, para a solução dos problemas comuns. Cada membro contribui com uma parcela de conhecimentos e de boa vontade para a formação de um “fundo” capaz de gerar conforto e tranqüilidade para a comunidade. Assim sendo, quanto mais se efetiva a participação dos membros, na vida comunitária, mais crescem as possibilidade de retribuição em benefícios, em tranqüilidade e conforto.
A participação ativa somente acontece, quando o homem consegue esquecer-se de si mesmo e compenetra-se que é parte de um todo, representado pela complexa organização social, que equilibra a balança dos direitos e deveres. Direitos e deveres, esses, que relacionam os homens com Deus e entre si, impondo uma norma de conduta de cada criatura para com os seus semelhantes. Essa mensagem é que vem sendo proclamada a quase dois mil anos por aqueles que seguem os ensinamentos cristãos.
A conduta dentro dos padrões cristãos gera o amor para transmitir calor a uma comunidade inspirando a cada membro dar de si em benefício de todos.
Eis porquê a comunidade deverá, sempre, alicerçar-se nos sadios princípios do cristianismo.



U M P A I A G R A D E C I D O


Rudge Ramos 16/08/1.974

Talvez o senhor já me haja esquecido; eu sou um pai agradecido! Bati à sua porta em um momento de desespero e fui atendido porquê em seu lar reinava uma luz que partiu das alturas para iluminar o mundo; em sua casa reinava a luz da esperança. O senhor também era pai e sensibilizado pelo amor dispunha-se a ajudar outros pais necessitados. Quando o conheci pude vislumbrar, em seus olhos, a luz da verdade e descansei visto que estava depositando em suas mãos a minha própria vida, que era o futuro do meu filho.
Sua vida era orientada pela justiça do Cristo e o senhor devolveu o meu filho à vida para que ele, em seu futuro pudesse, com a força da justiça, auxiliar outros que lhe batessem à porta. E assim tornei-me um pai feliz.


O M A P A D O T E S O U R O

Leia a Bíblia. Ela é Deus falando e transmitindo a sua mensagem para todos aqueles que professam o cristianismo. Nela eu encontrei a verdade que se expressa identificada com o meu pensamento mais amadurecido. Será onde você também poderá encontrar o caminho, a verdade e a vida, e assim poderá ser libertado de toda a sua angústia, ansiedade e amargura. Essa verdade o libertará para a vida.


S O N H O


Se o teu sonho fosse o meu sonho, então ao desejar-te sorte, tão feliz também me sentiria. Porém, apesar de o meu sonho não ser o teu sonho, mil venturas a ti desejo. Nem só realizando somos felizes, mas muito mais sabendo-te feliz. Assim, se por acaso quiseres me desejar tudo de bom, mande-me uma simples mensagem dizendo: Sou feliz!


A N I V E R S Á R I O




14 de Agosto! Hoje é aniversário de alguém! E quem é esse alguém? É apenas uma lembrança !
Eu a conheci quando tinha 14 anos e ela não mais de 10 ou 11. Os nossos olhos encontraram-se e disseram tudo que se passava em nossas almas. Estávamos em uma idade em que a sensibilidade acorda em nosso ser e tudo fica gravado de maneira indelével. Foram poucos meses de embriaguez; não posso dizer que foi um namoro porque o nosso relacionamento foi apenas através do olhar. Mas esse olhar extravasava como se fosse uma fonte vinda diretamente do coração.
Ela se foi, porém! Um dia, quando voltei do trabalho, ansioso para revê-la, recebi a noticia de que ela havia partido . . . Para onde? Perguntava o meu coração aflito . . . Nunca mais a encontrei! Transformou-se em um mito que tem me acompanhado por toda a vida. Por mais que desejasse e tentasse nunca mais o meu coração pode aquietar-se porque nunca se esquece do primeiro amor!
Parte de minha personalidade talvez tenha sido moldada pela saudade; a emotividade que sinto em mim, a amargura que às vezes me assalta, devem ser provocadas pelo desejo secreto que o meu eu sentiu, de parar aquele momento e, como não foi possível ele sempre volta ao passado. Essa vontade incontida é um misto de amargura e doçura, porque a realização do desejo poderia destruir a imagem tão bela que guardo em meu coração.
Sabe-se lá por onde andará a deusa dos meus sonhos da juventude! Onde estiver, já não será a mesma, tanto física como psicologicamente, enquanto em minha mente continua a ser a mesma doce criança.
Hoje, já avançando em anos, com filhos e netos, tenho a impressão que aquela menina adorável é a minha filhinha mais nova. Benditas as doces recordações, benditos os nossos sonhos da adolescência, bendita a saudade!
É tudo isso que nos empurra para a frente; é o que nos exalta nos momentos felizes e é o que nos ampara em nossas amarguras. Onde estiver, criança, receba os eflúvios do meu espírito e perceba, através da sua sensibilidade, todo o desejo que tenho de encontrá-la. Tenho a certeza que isso ocorrerá quando ambos formos crianças novamente. Nesse evento, seguremos as nossas mãos e não permitamos que nada nos separe. Unamos não as mãos materiais e sim aquelas que unirão o que realmente somos: a essência da vida.


D E S E N C O N T R O

O eterno desencontro! Tempo e espaço; tradições e convenções, separando tragicamente o que deveria estar uno. Porque deveremos encontrar a compreensão se o mundo é feito de incompreensão? As pessoas que verdadeiramente se amam não deveriam aceitar o que as fizesse felizes? E se outros não aceitam, por acaso nos amam? E se não nos amam deveremos nos curvarmos ao seu egoísmo? Não! Essas pessoas agem visando unicamente aos seus próprios interesses. Se protegem e nos destruem! Se aceitarmos as suas imposições estaremos nos aniquilando. Isso seria um auto-suicídio condenável. Deveremos lutar pelo que realmente desejamos e se as pessoas aceitarem muito bem; se não o fizerem não serão pertencentes à mesma essência que nós. Quem nos ame verdadeiramente não se curvará a convenções nem nos fará imposições, Simplesmente aceitará o que nos proporcione a felicidade.



S O R R I S O - I D I O M A U N I V E R S A

AUGUSTA, 06/111.9/72


O sorriso é caridade e é esmola. É ele que nos abre todas as portas e nos concede os maiores favores; é felicidade suprema, pois é por seu intermédio que conseguimos a compreensão de nossos semelhantes, para que também possamos compreendê-los; é sorrindo que afastamos de nós o orgulho, o egoísmo e tantas outras imperfeições morais, o que nos enseja o desejo de nos tornarmos melhores, para a efetivação do ideal cristão de amor e fraternidade. Amor fraterno que nos aproxima de Deus por acolhermos os ensinamentos de Cristo de amarmos ao próximo como a nós mesmo.
O sorriso é a tradução universal do amor e é por intermédio dele que nos tornamos irmãos, independente do idioma que falemos. Sorria sempre e afaste os infortúnios; substitua as preocupações pela fé no futuro; futuro risonho porquê a fé concretizará a nossa felicidade diante da paz e tranqüilidade de nossas consciências impregnadas de amor.

R O S A M I N H A . . .Q U E R I D A R O S A


Sim! Porque não é apenas a Primavera, é a flor mais bela, Rainha do meu jardim – Princesa dos meus sonhos, vida da minha fantasia . . .
Eu sonhei que estava sonhando e , no meu sonho, eu era uma velha roseira e do tronco do meu coração floresceu uma rosa e ela era você. Então eu chorei e as minhas lágrimas derramaram-se torrencialmente sobre você, como fonte de vida. Enquanto a sua vida florescia a minha se esvaia.
Senti a necessidade de desnudar o meu coração para que eu não partisse sem revelar todo o meu amor. E foi assim que eu o descobri:
Em um desses dias aziagos em que rebuscamos as mágoas do passado, senti que não era real a minha existência. A vida é amor e eu não o sentia; parecia-me, até, que, igualmente, não era alvo dessa chama abrasadora. Não amava e não era amado! Uma tal descoberta põe fim a qualquer perspectiva de vida; se não existe amor não existe nada! Chegarmos a essa conclusão é a coisa mais triste que se possa imaginar e assim não nos convém mais viver.
No meio do meu desengano, percebi uma pequena luz que foi aumentando de intensidade até o ofuscamento; e descobri que amo você!
Um amor que nunca pensei existir. Amor de mãe? Amor de filho? Amor de amante?
Não, um amor que abrange todas as dimensões. Desejaria ser mãe, filho, amante, esposo; queria ter você só para mim, junto a mim, em um amor egoísta que nem seria bom para você. O amor nessas dimensões não satisfaz! O amor é uno, o amor é “todo” e o “todo” é Deus e Deus é amor sem egoísmo. Amo você em todas as dimensões: como filha, como irmã, como mãe, como mulher; e acima de tudo amo você pelo que é. Uma pessoa humana que ama-nos, também, com esse amor completo, desprendido, dando de si mais do que nós a você.
Esta descoberta me restituiu a vida. Não mais posso me lamentar das agruras da vida; não devo mais lembrar-me das desilusões sofridas, pois amo e sou amado e isso é um supremo bem.
Rosa querida . . .querida flor, aos seus pés deponho o meu amor, exprimido com ardor; eis que do teu coração recebi vida.
Que bom se o meu sonho fosse real! Que bom se esse amor sem dimensões ou que abrangesse todo o ser, realmente existisse! Eu continuaria sonhando para que a pudesse amar; se o seu sonho, também, fosse o meu sonho!
E se o meu sonho não for o seu sonho?
Os sonhos são desencontrados pelas convenções criadas pelos homens. Tempo e espaço separam os que se amam. Abrimos mão daquilo que nos pertence, que é o nosso destino e que de outra forma poderia ser venturoso.
Então!!!
Então???


M E D I T A N D O S O B R E U M A P O E S I A


. . . na realidade não podemos esquecer os bons momentos de nossa vida e, muito menos, os nossos melhores momentos. Um evento maravilhoso nos faz esquecer o passado e logo depois nos tira as perspectivas do futuro. O trágico, porém, é que não conseguimos o “presente”. Então nos transformamos em uma figura patética; sem passado . . .sem presente . . .sem futuro! Uma figura que acalenta um sonho impossível; que é um sonho, por isso evaporou-se no tempo e no espaço, ficando só o sonhador. Eu sou um sonha-dor!

E N C O N T R O




Encontrei o meu amor e passei por uma das experiências mais estranhas da minha vida. Senti-me como um espírito sem corpo; por mais que procurasse me comunicar não conseguia; era como se ela não me enxergasse; procurava os seus olhos e não era visto. Senti um vazio tão grande, uma melancolia, que fiquei incapacitado para definir se sou um espírito sem corpo ou ela é um corpo sem alma.
Não é possível que alguém seja insensível a ponto de não sentir as vibrações de um sentimento tão profundo! . . .Penso que seja egoísmo de minha parte pretender a correspondência aos meus sentimentos.
Que amargura!
O que não pode ser deve ser esquecido e eu continuarei tentando. Procurarei preencher a minha vida nem que seja de um imenso vazio.



D E V A N E I O



Felicidade é um estado de alma que nunca conseguimos alcançar. É um estágio que jamais a alma humana conseguirá vislumbrar. É uma miragem! Quando estamos prestes a alcançá-la, se desfaz diluindo-se no espaço. Logo depois ressurge novamente para desaparecer logo pretendamos alcançá-la. Como os ruídos que nos parecem reais e as imagens falsas que enganam os nossos sentidos, a felicidade aparece como a exaltação de nossos sentimentos no afã de suprir a nossa necessidade primordial. O homem debate-se em sua existência à procura de um ideal elevado. A vida se apresenta como algo vazio e sem expressão. Custa-lhe muitos sacrifícios resistir ao pesado fardo da existência; se o faz é por pressentir que a vida material é uma conveniência para a evolução espiritual . Temos ciência da verdade contida na lei de “ ação e reação” segundo à qual tudo que nos é impingido, é uma reação direta do nosso procedimento anterior. Isso faz parte da vida evolutiva espiritual. A nossa existência, através das diversas fases de sua evolução é uma verdadeira contabilidade por partidas dobradas; não é possível a existência de uma conta credora sem a correspondente devedora.





M E D I T A N D O
Jabaquara, 09/09/1.973

Percebi, em minha meditação, que foi sentida unicamente a minha presença física e veio-me à mente o final do romance “A Carne” de Júlio Ribeiro: O personagem procurou amor e somente encontrou paixão e atirou-se à uma solução desesperada que não lhe solucionou o problema.
Se foi sentida apenas a minha presença física , agora , à distancia, poderá haver o encontro espiritual. Você aí e eu aqui; separados fisicamente mas juntos em espírito. A minha mente não conseguiu uma definição lógica para as minhas dúvidas, uma vez que não imagino como se pode esquecer um grande amor com tal rapidez, ou por outro lado, como fingir com tanta perfeição. E diante de um procedimento dúbio, qual a face verdadeira?
Afirmei conhecer as pessoas e o conceito que estabeleci foi aquele que externei, de autenticidade e de pureza espiritual; se por acaso falhei os meus padrões de valores estariam desfeitos e me poriam em dúvida se sequer existo. Se pensamos, se raciocinamos, se estabelecemos parâmetros de julgamento, isso prova a nossa existência. Ou somos fruto apenas do nosso pensamento? Isso provaria que não existimos materialmente emergindo a essência que é a alma e isso bastaria para que nos realizássemos para a eternidade





I M A G E M

A imagem que você projetar, de si, no espelho, será a mesma que os outros estarão vendo. Agora, sorria e perceba como todos e tudo se transformará à sua volta.

N E C R O L Ó G I O


Não lamentem a minha morte,
Antes, invejem a minha sorte.
Se crêem que vivi com amor,
Que este evento não lhes cause dor.

Trilhei ásperos caminhos,
Adormeci em suaves ninhos,
Trabalhei, cansei, vivi, amei,
Tantas nuanças, várias, que nem sei.

Andei procurando a trilha que conduz
Por íngremes caminhos, à luz
Aprendi que onde existe a dor
Imediatamente vemos surgir o amor.

Quando tombamos febris na cama,
Quando nada aqui nos seduz
Percebemos, felizes, que Deus nos ama,
Que para alcançá-Lo temos Jesus.




Eu sou o desdobramento dos meus ascendentes e me desdobro em meus descendentes. Cada desdobramento é a extensão de um mesmo ser. Então eu sou meus pais e meus filhos são a minha pessoa. E entre os meus filhos não poderá haver divergências, visto serem a mesma pessoa e são a minha pessoa que os ama. Como poderá alguém repelir uma parte de si mesmo sem ficar mutilado? Unamo-nos pelo passado, no presente e pelo futuro quando deixaremos uma herança de paz e amor.

E N T Ã O ?

Antes era uma vegetação luxuriante. Fruto das fontes naturais ou de chuvas de verão?
Hoje é tudo deserto: A febre causticante transformou aquele oásis de felicidade em agreste região.
Os pássaros se foram! Já não ouvem-se os alegres cantos matinais, nem a sua algazarra ao por do sol.
O rio, que cortava aquelas matas, hoje, visto do alto do monte mais próximo, assemelha-se a imensa cicatriz. Tudo à sua volta é desolação e tristeza; confundindo-se com o cinzento dos sentimentos tornou insensível até as almas dos homens!
Apenas um cacto sobrevive, porque esta planta é como o amor e a tudo resiste e, solitário, espera que algum viajor, sedento, corte-lhe o corpo para saciar a sede. Ainda assim, ferido na carne, com cicatrizes profundas, que nunca param de sangrar, continuará à espera de uma gota de orvalho que o reanime, porque não lhe resta nem mais a esperança de uma lágrima, visto que até os seus olhos secaram.
Em outro jardim, talvez, a primavera continua, porque as flores, volúveis, afeiçoam-se às mãos hábeis dos jardineiros e, transplantadas para outras terras, olvidam o passado e não mais desejam os calorosos beijos dos colibris. Banham-se nas chuvas provocadas pelas nuvens da saudade, mas realçam o seu perfume para a conquista de novos amores.
E eu, que desejaria ouvir novamente o suave canto dos pássaros nas suaves tardes primaveris! É primavera e nada existe. Nem flores nem pássaros. Por mais que grite só ouço o eco da minha agonia debatendo-se nas pedras da desilusão. Tudo é solidão! Não consigo a caridade de um carinho!
Mas, porque?
O espírito que antes povoava estas paragens certamente encontra-se aprisionado no calabouço da dúvida e sem coragem para empreender uma fuga perigosa.
Então!!! Então???



U N I D A D E S O C I A L E U N I D A D E C R I S TÃ



Uma comunidade tem necessidade de unidade social para que haja, por parte de seus membros, a conscientização dos problemas comuns e a conseqüente preocupação de formar uma frente de pressão que obrigue ações positivas de seus participantes. Essa pressão, de uma maioria consciente forçará a minoria inconseqüente à modificação de suas atitudes nocivas, passando a existir um única corrente impulsionada em direção de objetivos altruísticos.
Para que possa, porém, alcançar um nível elevado, uma comunidade necessita mais do que unidade social; precisa, paralelamente, desenvolver uma consciência cristã. Cristianismo como modo de vida, sem cogitarmos de religião como organização. Se envolvêssemos seitas estaríamos desfazendo o elo necessário à evolução e ao desenvolvimento dos valores espirituais a que devemos aspirar. Cada um de nós tem a sua religião unindo-se ao grupo por ele formado, mas terá a obrigação de não esquecer-se que não só os integrantes do seu grupo deverão ser considerados irmãos e sim a totalidade da comunidade. Embora separados por denominações diversas, deveremos atermo-nos unicamente à base de onde emergem todos os credos: A palavra de Deus. O seu plano para a salvação da humanidade. Assim, conscientes do caminho a seguir deveremos adotar a lei das leis que é a lei do amor e cumprirmos o preceito cristão de amarmo-nos uns aos outros. Dessa maneira estaremos, realmente, estabelecendo uma unidade inquebrantável que poderá garantir um convívio sadio, feliz e muito mais do que isso, estará consolidando a mais sagrada das instituições que é a família.


J A R D I M D E F L O R E S

Na vida construímos um jardim de flores
Das emoções da vida vertemos os humores
Das flores do jardim criamos os amores
Que, se não vingam, terminam em estertores.
Sentimentos, mágoas, ilusões,.
Transportam-nos a buscar lições.
Do passado reviver o romantismo,
Manter a vida com muito otimismo.
Buscar viver fora do ativismo,
Reservar-se mais à introspeção,
Manter o espírito vivo, em ação.
Aprofundar a busca, cada um, do Ser,
Contribuir para ver o amor nascer,
Do amor usar para oferecer
A mão firme para suster o irmão.
Que ninguém grite de agonia em vão
Que a todos seja assegurado o sonho,
Que cada vida seja um jardim risonho.
Que a chuva benfazeja e boa
Não caia e penetre a terra atoa
Mas que engravide e fertilize e crie,
Que do seio da mãe terra tire
Não só flores mas o que precise
Para a fome do irmão minorar
Para que não venha a se desesperar
E o medo o faça a vida tirar.
Se construirmos um jardim de amores
Se a vida for profusão de flores
Felizes encerramos nossos sonhos
E a Deus elevamos mil louvores.



L I B E R D A D E





Estendo livre minha alma
Para alcançar o horizonte
Da gloria não procuro a palma
O amor quero derramar igual a fonte.

Que iluminado seja, o futuro, pelo sol
Dando calor, afeto, ao coração
A esperança voltada pró arrebol
A fé viva transluzindo coloração.

Acima de tudo procuro a harmonia
Que dá a paz e tudo tranqüiliza
Quero compor, do amor, a sinfonia
Fazer da vida fúlgida poetiza.

Pelos verdes olhos a esperança que luzia
Do espírito o conteúdo derramava
Transformando a existência em fantasia
A ventura que estiolava-se clamava

Se a alma o horizonte alcançar
Se o amor como fonte derramar
Então no futuro irei confiar
E na ventura livre me lançar.


C R I A Ç Ã O




No princípio criou Deus céus e terra
Esta, porem ,era disforme e vazia
Pelo poder criador ergueu-se a serra
Tudo era trevas mas o Santo Espírito já havia.

E disse haja luz
Fez o dia e o período noturno
Já nesse dia tudo reluz
Separa águas e águas concluindo o dia segundo.

Separa terra e mares
Cria a planta para dar fruto
Criou árvores para purificar os ares
Tudo deu ao homem para que tivesse o desfruto

Da terra criou o ser vivente
Sendo o homem sua obra principal
O animal para fazer este contente
O homem com perfeição sem igual.

Criou Deus o homem complexo
Macho e fêmea para o amor os criou
Para que espalhassem o que Deus semeou,
Para que juntos espargissem os reflexos.



V I D A E T E R N A


É verdade que o homem possui uma vida eterna. A Bíblia isso nos ensina: “Estas coisas vos escrevi para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus.” (I João 5:13)
O problema será saber onde passaremos eternidade! Existem duas opções: Gozo eterno ou tormento eterno. Não desejamos, aqui, entrar em consideração sobre o que seja eternidade, mas teremos que considerar que será um período muito longo.
É evidente que o desejo de todos será alcançar o gozo eterno e para isso teremos que nos colocarmos em consonância com o Criador, através dos ensinamentos cristãos, que foram codificados na Palavra de Deus (a Bíblia), de onde obtemos o entendimento, auxiliados pela inspiração do Espírito Santo. Deveremos seguir a lei de Deus que é o amor; amor em toda a sua plenitude. Embora, em nosso entendimento pensemos que amamos de fato às pessoas, na realidade estamos bem distantes desse sentimento maravilhoso.
O verdadeiro amor é capaz de todos os sacrifícios (até doar a própria vida, como fez Jesus) e não almeja pagamento ou reconhecimento; ele é desprendido e anônimo, não espera reciprocidade, Embora esta poderá ser o reflexo do verdadeiro amor.
Quando somos alvo do verdadeiro sentimento é impossível não sermos impregnadas, o que nos fará refletir, também, não somente para aqueles que nos dedicaram, o sentimento, mas a todos os que nos rodeiam. O amor é como o sol, que com a sua claridade tudo revela. Ele abre os corações, as almas, as consciências, para que tudo sintetize-se em um só ser. Ele é um fator de empatia, nos faz sensíveis para que possamos sentir como os outros sentem.
O evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é exatamente a revelação, ao homem, de que é possuidor de uma vida eterna abundante, e que a maneira de alcançá-la é estabelecer a comunhão com Deus, através da ponte que é o seu Filho, e firmar-se no vínculo do amor.
É evidente que todos desejamos alcançar essa certeza que nos dará plenitude de vida, mas é necessário que se nos mostre a maneira.
E como fazê-lo?
Quem tem que tomar consciência é o verdadeiro ser que é o espírito. Mas, não poderemos nos esquecer que aquilo que é a verdadeira essência, está envolvida pela matéria; Existe o homem material e o homem espiritual. Para que tenhamos a possibilidade de alcançarmos a alma necessitamos transpor os obstáculos representados pela matéria, pela personalidade e outros fatores influenciadores; como a educação e o meio ambiente. Teremos que explorar cada camada do ser, provando o nosso amor, concretamente, em cada fase, até podermos contar com receptividade motivada pela amizade. Somente conseguiremos transmitir, comunicar-nos, quando a pessoa puder confiar em nós pelo desenvolvimento de um relacionamento vivido com amor, conjuntamente.
Deveremos aproximar-nos, de nossos semelhantes, como pessoas que são, sujeitas a toda a sorte de apreensões e preocupações, tanto objetivas como subjetivas. Ajudá-las no equacionamento dos seus problemas, desinteressadamente, para que se tornem receptivas para a ação do Espírito Santo em suas vidas; que será quem poderá convencê-las do pecado, da justiça e do juízo, transformando-as e preenchendo-as de pensamentos positivos e de amor. Amor que, também , se irradiará em todas as direções, para alcançarem outras pessoas.



M Á S C A R A




“Tiremos as nossas máscaras e nos apresentemos, aos outros, como realmente somos; esse simples ato nos libertará de todo o medo e ansiedade, e nos tornará seres autênticos e felizes.”
“A autenticidade é um atributo precioso, pouco encontrado no mercado.”
“Estamos, sempre, preocupados em apresentar-nos, aos outros, através de disfarces; deixamos, assim, de apresentarmos, às pessoas, as qualidades que elas procuram em nós.”
Quem sou eu?
Um anônimo em meio a uma multidão.
No entanto eu sou alguém.
Tenho um nome; possuo um RG; sou eleitor, filho, pai, esposo. Sou funcionário de uma determinada companhia, o que me relaciona com uma quantidade enorme de pessoas. Possuo uma casa, um automóvel e todos os objetos de que tenho necessidade.
Apesar de tudo isso posso ainda a continuar a não ser eu mesmo e fazer de conta que sou outra pessoa. Então terei de vestir uma máscara que me fará parecer com o que desejo ser. Resultado: Sendo eu, eu mesmo, o único papel que sei desempenhar com alguma perfeição, é o meu mesmo. Ao falar assim estou sendo até modesto demais, porquê interpretando a minha pessoa, não existe ator, por mais capacitado que seja, que o faça melhor. E nesse caso, por melhor ator que eu também possa ser, nunca poderia interpretar, tão bem, o papel de outra pessoa. Ao mudar de papel eu estarei perdendo o relacionamento com o meu mundo, com aquelas pessoas que estão capacitadas a entender o meu modo de ser. Deixo de existir para um mundo com o qual estava harmonizado, para penetrar em outras esferas onde fatalmente estarei fracassando.
Isso ocorre com todos aqueles que abrem mão de suas personalidades para tentarem ser o que não são. Ficam, geralmente, no meio do caminho, não sendo o que antes eram e não realizando a transformação pretendida. Terminam como verdadeiros fantoches.


P E S S I M I S M O


Aos dezoito dias do mês de Setembro do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de hum mil e novecentos e setenta e quatro. Hoje, estou em um dos dias mais nostálgicos da minha vida. E porquê? Nem eu mesmo sei, mas a verdade é que acordei relembrando frases de amigos meus, que segundo eles nascem em períodos negativos: ”Estou com uma agonia da natureza.” “Tenho vontade de tomar um trem e ir até o fim da linha.”; tais frases espelham mais ou menos o meu estado de alma neste dia. Por quê esses sentimentos de impotência diante do mundo se apossam de nós em determinados períodos, sem que haja uma razão concreta?
Da mesma maneira que deveremos estar atentos para pressentir os estados de felicidade, que nos acometem, deveríamos estar atentos para podermos pressentir a aproximação das depressões. Acreditamos que esta última é uma síndrome que precisa ser analisada para que encontremos a cura.
Dizem os entendidos no assunto, que esses estados nos atingem quando existe um forte desejo do espírito em abandonar o corpo. De maneira consciente, não tenho o desejo de emigrar; acho que a vida nos oferece momentos maravilhosos, principalmente quando podemos amar alguém. E eu tenho tantas pessoas queridas que por elas me agarro à vida! Sinto como uma missão amar e orientar esses entes. Então não desejaria desertar deste campo de lutas; mas será que não estará havendo um conflito entre o querer inconsciente e o não querer consciente? É bem possível! Essa poderia ser a razão desse abatimento em que me encontro hoje. Espero que como aconteceu de outras vezes, a nuvem passe e o sol torne a brilhar, tendo como pano de fundo, o céu azul; e dizem, também os entendidos, que “tudo azul” é sinal de que tudo está bem. Porém, esse conceito está tão deturpado a ponto de não mais ter sentido. Agora mesmo um amigo me perguntou: Como vai? e respondi: tudo azul! E não está azul e sim cinzento, em minha opinião. Digo cinzento como sinônimo de coisa desagradável, porquê nada me deprime mais que um céu encoberto. É uma questão de conceito de cores que é completamente indefinível; aprendemos por orientação de outros e nunca sabemos se o que vemos é exatamente o que outras pessoas estão vendo.
Hoje é hoje em nossa vida e está separado dos demais dias e esperamos que amanhã seja, realmente, outro dia, que venha nos alegrar com o nada dos acontecimentos. Sim, por que se por nada mergulhamos na depressão, por nada poderemos subir ao encontro do sol e do céu azul. E se não for amanhã será outro dia, em breve; somos como a natureza, temos verão e inverno, temos outono e primavera. A primavera aí vem para nos alegrar com a sua temperatura amena; com toda a sua profusão de flores e de perfumes e, o que é mais importante, para inspirar-nos a uma vida com mais amor. O amor é vida e o resto, irmão, é a mente apodrecida que gera. A ordem é amar; só amar!

U S U R A



Rudge Remos, 25/02/1.987



Um mal terrível não tem cura
No egoísmo entrega-se à usura
Por orgulho mata, estraçalha o amor
Sem perceber que frustra, causa dor.


O sentimento transforma-se numa flor
Cuida desse jardim com muito ardor;
Degrada-se, humilha-se, se maltrata
Para a porta escancarar a entrada.


A emoção que tudo leva ao sonho
Tempera o espírito que antes era insano
Arrebata dos sentidos a certeza
Mas eleva, promove a alma à pureza.


O coração que aspira esconder
O amor que abrasa, tentando acender
O fogo eterno da alma, a paixão
Que apaga os sonhos e leva à solidão.


Não permita Deus que a usura
Que com egoísmo e orgulho cause dor
Age Tu que és Deus que cura
Preenche a vida, o coração de amor.



O P R E G A D O R

Com a cabeça calva, cabelos brancos nas têmporas, um aspecto de uma pessoa vivida. apresentou-se o pregador, à grande multidão que acotovelava-se no templo para ouvi-lo.
E ele falou: Com humildade apresento-me aos irmãos, para falar-lhes de coisas que, certamente, todos podem ensinar-me, pois são sobejamente conhecidas as virtudes do povo desta cidade, as quais já ultrapassaram os seus arredores e chegaram aos grandes centros, onde mais precisam de exemplos como os que tem sido dados aqui.
Venho falar-lhes do amor! Não para ensinar-lhes, mas para que minhas palavras, ressoando em seus perfis, voltem a mim e possam orientar-me. Para que, passando por esta cidade onde tanto se cultua o amor ao próximo, fique impregnado desse bálsamo e assim possa modificar a minha vida, passando a viver virtuosamente como se vive aqui.
A maior dádiva que Deus nos legou foi o sentimento de amor ao nosso próximo. O amor que é resignação e perdão; é caridade e compreensão. É o sustentáculo da fé, porquê é percebendo o grande amor que Deus dedica a suas criaturas, que nos conscientizamos de que Ele nunca nos abandonará. A cada necessidade está sempre presente, nos acalentando, nos amparando, para que possamos resistir, com resignação, tudo aquilo que nos cabe passar. É amando aos nossos irmãos, indistintamente, sem olharmos a cor de suas peles, sem atentarmos para a religião que professam, que ganhamos força suficiente para enfrentarmos as vicissitudes da vida. E com amor, o fardo, que nos cabe carregar, se tornará mais leve, porquê o aceitamos com resignação. Este é o grande segredo que o amor revela: Resignação! Temos que aceitar os acontecimentos da vida como eles se apresentam, desde que não os podemos modificar. Aceitar com paciência e resignação, uma vez que em nossa ignorância, desejamos coisas sem sabermos se elas serão boas ou más para nós. Mas o Pai nos concede aquilo que realmente temos necessidade. Temos de aceitar, também, as pessoas tais quais são, desde que desejamos que nos aceitem como somos; com os nossos defeitos que são invisíveis aos nossos olhos.
Aqui é exatamente isso que se pratica. Por isso estamos aqui. A fim de respirarmos essa atmosfera de amor e compreensão e, soltos das amarras do orgulho e do egoísmo, possamos confiar nas pessoas com quem temos de conviver. Obrigando-as também a confiarem nos outros, para que assim formemos uma grande corrente de amor e de fé cristã. Para isso pedimos as suas orações. Para que o Pai nos ajude e ajude a humanidade. Que Deus nos ouça.
O pregador contemplava aquela floresta de rostos iluminados onde transpareciam a bondade, a compreensão, o amor. Esforçava-se para lembrar o nome daquela cidade, desde que a vinha procurando a longos anos; por mais que desejasse, porém, não conseguia. Então, aquela visão foi evaporando-se e ele sentiu-se sozinho, em seu quarto, diante do espelho. Ele falava para si mesmo.
Após alguns instantes de meditação, compreendeu que aquilo que procurava por longo tempo sempre estivera bem ali ao seu alcance. Bastaria transpor a sua porta e dar alguns passos para que encontrasse o seu próximo a quem tinha o dever de amar e ajudar.


M E D I T A Ç Ã O





Medito! Sou uma criação de Deus e como tal possuo o germe da perfeição a qual deverei desenvolver até chegar ao aprimoramento máximo. Quando imagino ser uma criação de Deus não me refiro à minha parte material e sim a centelha que denominamos espírito.
Busco o elo que me liga ao Criador e só poderei descobri-Lo se me encontrar a mim mesmo. Recolho-me e alcanço o fio que me leva ao descobrimento de quem sou: Ninguém! A quanto tempo trilhando o caminho em direção à luz que é o meu objetivo e me tornaria alguém! E por que não alcancei? Por que! Por não ter tido a capacidade de eliminar do meu ser as falhas que me corrompem. O orgulho e o egoísmo me têm derrubado a cada passo! Quantas oportunidades me foram oferecidas! Não soube aproveitá-las, por sempre desejar me colocar acima das outras pessoas, julgando-me infalível e investido de uma missão de aperfeiçoamento. Percebo, agora que evolui apenas materialmente, faltando empreender uma longa caminhada para alcançar os verdadeiros valores que deverei possuir. Mas não é tarde, pois conhecendo a realidade, tomo a resolução de não mais errar.
E reconheço que é uma missão impossível!



D Ú V I D A



O amor que produzi, com tanta intensidade, tamanha quantidade, foi demais, acumulou. Previ a necessidade de prover as amizades; a mãos cheias espargir, mas não soube distribuir!
Os meus ideais de formar, entre a companheira, os filhos e com todos que conosco se relacionassem, um elo de comunicação, baseado no amor e compreensão, não encontrou ressonância. Enquanto, todos nós, produzíamos, amor em quantidade, só acumulávamos, sem sabermos distribui-lo.
Não houve o encontro. O convívio nada provou. Formou-se um vácuo entre as pessoas, pois todos desejavam doar sem saber como, e o amor acumulado vai nos sufocando.
Não sou egoísta, amo a humanidade como extensão da família; por pátria considero o universo; minha crença é em Deus que é amor. Busco a perfeição para que o meu espírito evolua; para que quando chegue ao fim da vida haja cumprido uma missão. Mas como? Meu Deus, o que é que eu faço?




T H E L O V E W H A T I S L I F E


The love what is life
Single alert in the beyond
Because the life divert of the love
And the lost cause the death.


O amor que é vida
Só é vivo no além
Porquê a vida separa do amor
E a perda causa a morte.




T E R E S A M E N I N A





Teresa: Uma menina apoiada nos cotovelos, olhando-me fixamente desejando transmitir tudo que lhe ia na alma. Essa a visão que tive ontem.
É interessante como nos ocorrem essas visões e podemos perceber a presença de uma alma que nos é familiar. Quando a vi tive a certeza de conhecê-la a longos anos. Tão longos que não consegui determinar nem quando nem em que circunstâncias; necessitaria que me esforçasse demasiadamente e me concentrasse dentro de mim mesmo, para alcançar aquele passado longínquo. Não é necessário, porém, o importante é a convicção de que participamos de algum evento; um acontecimento importante para nós. Talvez alguma missão que haja ficado interrompida e que tenha de ser concluída. Nenhuma manifestação física envolve esse encontro e sim algo de muito maior profundidade. Nada acontece em vão e esse encontro e a convicção que tenho, sem mesmo poder testar a veracidade, que existe algo misterioso que deverá nos unir para que possamos realizar aquilo que é um ponto comum entre nós. Pensamentos afins com a força magnética que deverá levar um grupo a objetivos definidos. E nada obstará a caminhada para a purificação. Os objetivos são sadios e Deus protegerá a trajetória.
Deverá ser assim: (sinto firmemente, mesmo não sabendo quais serão os próximos passos) Uma comunidade que irá transformar as personalidades individuais em um só pensamento, uma voz, uma vontade. Uma força mental capaz de sobrepujar o tempo fazendo-o parar. Será o Shangrilá ou o Edem?
Esperemos o tempo a que teremos que vencer com a nossa força positiva e com a ajuda do Supremo Arquiteto.
A realização será no presente estágio ou em uma vida futura?



C R E S C I M E N T O


Jabaquara,26/08/1.975

Para os que ficam, como para os que vão, a vida continua. Existem muitas maneiras de servir a Deus, em qualquer das casas do Pai. Isso é o que todos deveremos conscientizar-nos. Deveremos crer, convictamente, que a nossa vida é eterna e que nossa alma estará salva no momento em que nos entregarmos confiantemente às obras do Espírito Santo de Verdade; Esse Espírito envolve a nossa alma revelando-nos a verdade e nos dá forças para nos afastarmos das impurezas materiais e caminharmos em direção à luz, que é a perfeição espiritual. A meta da humanidade é a perfeição espiritual e quando encontramos o caminho que nos leva a ela, passamos a viver, já, o paraíso. É aquela paz que nos é dada pelo amor. É o céu alcançado, já, nesta vida. Quando mergulharmos novamente na verdadeira vida que é o mundo espiritual, poderemos aquilatar a evolução que alcançamos durante o estágio. Atentem para isso: À medida que a humanidade vai tomando conhecimento, consciência, vai afastando-se o véu do santuário e nos são reveladas as verdades sobre a vida espiritual. No inicio era-nos apresentado tudo, veladamente, gradualmente; à medida que o nosso entendimento vai evoluindo, vamos penetrando as verdades que o Pai nos faz saber. Esse maior entendimento não nos vem pelos conhecimentos intelectuais e sim pelo coração, através do amor que é a centelha explosiva da perfeição espiritual. Assim, nessa trajetória rumo ao centro do universo, vamos trabalhando, cada um de acordo com a vocação, ou talento, recebido do alto. É preciso que nos entreguemos completamente e cumpramos tudo aquilo que, através da inspiração, nos for ditado como norma para alcançarmos a perfeição. A vida continua . . .aqui ou em outra parte porquê . . .


C H U V A S P R I M A V E R I S


Amigo, irmão, pai, é cada uma das coisas, ou tudo isso o que desejaria ser para você. Devemos a você a afeição e o convívio amigo em fases que realmente necessitávamos. Você deu-nos até mais do que devia e, agora, avaliamos o sacrifício que a obrigou o seu grande coração. Coração que tem sido um sol na vida de muitas pessoas e que dá calor às suas virtudes, em prol dos que precisam.
Sinceridade, lealdade, caridade, solidariedade, paz, amor, são flores de um jardim encantado que nos ajudam a ajudar aos outros, dando-nos uma sensação de leveza de alma, ligando-nos solidamente aos nossos semelhantes. Quando, porém, não soubermos cultivá-las, nos afastaremos das pessoas amigas, terminando por ficarmos SOS.
Que as nuvens das preocupações se precipitem, como chuva benfazeja, em seu jardim, conservando-o em constante primavera, impregnando a sua alma, cada vez mais, do suave perfume das virtudes, prêmio de suprema felicidade. E, se o destino permitir rogamos para que participemos desse evento.


D E S I L U S Ã O



Ah! Que desespero amar, sem esperança de encontrar!
Sonhar sem concretizar.
Silenciar esperando findar.
A agonia represada pelas desilusões da vida.
Neste momento em que as desilusões afloram;
Resultado de múltiplas nuanças,
De cruéis mudanças;
Hora em que morrem esperanças!
A agonia como afiada faca dilacera minha alma.
Já não almejo fama;
Gostaria, sim, de não estar na lama.
Quantas caminhadas empreendi na vida,
Quando vislumbrei o sol brilhante e vi,
Através de reflexos prismáticos,
As belas, suaves cores do arco-íris.
No roxo vi a fé; no verde a esperança;
No azul a harmonia;
No vermelho, que lembra sangue derramado,
Em vez de amor, vi um coração dilacerado.



S A U D A D E


Rudge Ramos,24/02/1.987


Como de amor uma mensagem
A flor que eu oferecer queria
Seria a mais bela homenagem
De saudade um pleito a Walkyria.


A L U Z Q U E S A L V A


Quando desorientado me vi
Nas encruzilhadas da vida
E rebuscando dentro de mim
Não mais encontrei sinais de afeto!
Sentindo do vazio o desespero
Na desilusão de não mais encontrar
O amor dentro de mim!
E nessa busca desesperada;
Analisando perdas, tramas, frustrações,
Que caracterizaram todo o meu ser!
Já na agonia da incerteza,
Se ainda haveriam sentimentos puros?
No negro túnel da existência reencontro,
Limpo o meu espirito;
Lúcido a divisar a luz.
E para felicidade minha,
Não terem morrido os sentimentos.
Pois descobri, que apesar do vazio,
Uma luz cintila, brilha: Que o amor ainda vive;
Que eu amo você.



A M O R I D E A L


Rudge Ramos, 17/03/1.987


Desejo dizer sem tom irônico
Mesmo na hora do amplexo
Que o meu amor é platônico
E jamais almeja sexo.


Desnudas de corpo duas almas
É que mais refletem o amor
Jamais esperam palmas
Do físico não precisam tirar suor.


O amor é a fusão de duas vidas
Cujos espíritos se enlaçam e se abrasam
E unidas nunca serão vencidas
Os que se lhes opõem é que se arrasam.


A união que a vida transforma em esperança
E para o futuro caminhando vai vencendo
Guarda do passado, gravada a lembrança
Mas em tempo algum estará envelhecendo.


O amor derrama-se como fonte
Quando são as almas que se unem em amplexo
Quando é mais forte não procura sexo
E unidas buscam novo horizonte.



P A L O M A


Rudge Ramos 18/03/1.987


Que a humanidade elimine as bombas
Para que possa almejar a esperança
Que de paz surjam brancas pombas
Para construirmos o futuro da criança.


Para que a nossa Paloma cresça
E a inteligência possa oferecer
E que a mortalidade infantil desça
E a natureza não venha a fenecer.


Que os homens defendam a ecologia
E seja preservado o verde vida
Que não se conserve só a ideologia
Mas que combata tudo que trucida.


Que haja empenho no amor
Para que vivam todos como irmãos
E a fraternidade não seja um favor
Para que felizes todos dêem as mãos.


Que o amor se derrame como fonte
Para que as vidas se enlacem
E as almas se entrelacem
E haja para a criança novo horizonte.



C R I A N Ç A


Rudge Ramos, 17/03/1.987


Ser inocente, do futuro a esperança
Marcha solene rumo ao horizonte
Eis o destino o que espera da criança
Que ao fim do caminho seja rica fonte


Que de realizações enriqueça a humanidade
Que com presteza defenda a ecologia
Que traga paz, amor, fraternidade
Natureza, paz, amor, em suave trilogia.


A inteligência alargando-se bem firme
Temperando o espírito prás lutas
Qual jequetibá de forte cerne
Que, do alto, reina sobre a imensidão das matas.


Qual idade mais bela contemplamos
Que a da criança os passos ensaiando?
Quando sonhamos e o futuro divisamos
E as aspirações desse ser vamos sonhando.



Da educação a esperança está em Deus
Ele protege a trajetória até o céu
Os filhos todos recebe como seus
Jamais um inocente deixa ao léu.


Se nosso futuro repousa na criança
O dever nos manda que as ame
Dos percalços jamais alguém reclame
Pois por paz e amor se nos paga em esperança.







S A B E R S E N T I R

Rudge Ramos, 20/03/1.987

Quando eu chegar ao fim da jornada
E olhando para trás procurar analisar
Quais foram, as realizações
Os ideais que procurei alcançar.



E envolvido pela lembrança
Dos acontecimentos que feliz eu vivi
Então rebuscarei em minha mente
E me aprofundarei em meu ser.


Desnudarei a minh’alma
Procurarei conhecer.
Já não terei a certeza
De tudo entender, de tudo saber.


Procurarei renascer para a vida
Reiniciar e procurar aprender
Os segredos da alma
A buscar a ligação com o infinito



Para extrair do amor a essência
E renovar os meus votos sagrados
De união mística com o Ser
Para então descobrir a verdade


Que antes de pensar em saber
Os mistérios da mente
É preciso maior sensibilidade

Pois antes de saber
É necessário sentir
Para sentir como saber.




O Q U E É F E L I C I D A D E

Todos nós almejamos a felicidade como meta de nossa existência. O que é, realmente, a felicidade para cada um de nós e qual a maneira de alcançá-la?
Na realidade nunca conseguimos alcançar aquilo que imaginamos que seja; por isso nos é difícil defini-la. Sentimos vez por outra um sentimento que dizem ser a felicidade.; uma sensação de bem estar físico, mental e psicológico que gostaríamos se prolongasse pelo restante de nossos dias. O que provoca essa estranha sensação? Nunca conseguimos analisar corretamente os antecedentes que culminaram com aquele estado, para que colocando os acontecimentos na mesma seqüência, venhamos a fazer que se repitam, para nos proporcionar o mesmo estado. Os momentos de felicidade que sentimos são, aliás, tão rápidos e espaçados que não nos pega prevenidos para a análise. Eles vêem, nos entusiasmam e, quando menos percebemos, já tudo se modificou inexplicavelmente dentro de nós, e mergulhamos na depressão.
Seria útil que realizássemos um preparo mental para que pudéssemos pressentir a aproximação do êxtase e anotássemos, nos mínimos detalhes, os acontecimentos que culminarão com aquela sensação de euforia. Como tese é ótima, mas na prática nos veríamos com tal numero de variáveis que nos impossibilitaria de alcançar o objetivo.
Imaginando que conseguíssemos, como poderíamos nos preparar mentalmente para que nos tornássemos receptivos?
Será necessário que o nosso comportamento saia completamente da rotina a que nos habituamos. Teremos que olhar para o nosso interior e meditarmos sobre os segredos que envolvem a nossa alma. Iremos nos aprofundando cada vez mais até encontrarmos aquela insignificante centelha que somos nós. Daí compreenderemos a diferença que existe entre o verdadeiro eu e tudo aquilo a que damos importância e que nos dá a idéia de felicidade. Felicidade para nós como seres imperfeitos, porém “conscientes” da nossa perfeição. Então, tudo aquilo que julgávamos importante e grandioso para a nossa personalidade acabará ficando diminuto, justamente diante daquela centelha insignificante.
Quando isso ocorrer estaremos nos encontrando. Estaremos tomando consciência de nossa fragilidade e quanto deveremos trabalhar para que o nosso verdadeiro eu alcance alguma luz.
Isso será apenas o começo mas teremos crescido descomunalmente em comparação com o que éramos antes. Teremos ganho uma nova visão das coisas e estaremos nos capacitando para discernir o que verdadeiramente tem valor para nós. Afloraremos sentimento puros, nos tornaremos receptivos e mentalmente preparados para a análise das causas. Estaremos trilhando a estrada que nos levará à felicidade, que não é outra coisa senão o caminho do amor. Amor no sentido amplo: do próximo aos nossos inimigos; das flores aos animais; de Deus a nós mesmo.


O M A I O R D E F E I T O





Quantos mutilados faz a guerra, mas quantos mais faz a vida! Na guerra ou na paz, os ser humano está sujeito a traumatismos físicos, mentais ou psicológicos; fatais ou parciais, deixando muitos mutilados. Existem mutilados e “mutilados”; os primeiros perdem parte de seus corpos mas não os abandona a vontade de viver; mesmo privados de órgãos importantes enfrentam a sua desgraça e vencem as suas dificuldade. Os “outros”, embora não sofrendo perdas físicas, perderam a vontade de lutar e arrastam-se pela vida, com pena de si mesmo, culpando tudo e todos pelos seus infortúnios. Vivem uma sub-vida, porquê perderam a vontade de sorrir; e a incapacidade de sorrir é a maior das mutilações.



L Á G R I M A S

Mococa,31/05/1.985


Lágrimas, lágrimas, lágrimas!
Emoção, emoção, emoção!
Inundando este poço profundo
De deserdados de coisas boas e más.

Emoção de encontro inusitado
Vivendo um momento de estio
Em que pela solidão visitado
Tenta dissipar o fastio.

Visito visões do passado
Pesaroso de não ter encontrado
Os belos sonhos pressentidos
Que viriam no futuro gerar.

Noto cicatrizes profundas no ser
Tantas que não queria dizer
Marcas de castigo cruento
Profundos, escarpados, cinzentos


Procuro no verde natureza a verdade
Que através de transcendental
Inspiração fora da cidade
Compatibilize-se com a minha idade.


Anos vividos sonhando a esperança
De realizações concretizadas
Querendo que o amor como uma lança
Acabasse com um ser martirizado.


Do alto da vida contemplo a morte
Que malvada destruiu a sorte
Com lágrimas a emoção morria
Com emoção as lágrimas rolaram.




S O L I D Ã O

A frustração se manifesta pelo vazio; vazio pelos ideais não realizados. Ideais de amor, de pessoa humana, de relacionamento afetivo. Essa frustração instalada nos torna solitários. A solidão não é questão de existir ou não existir; é questão de sentir. Nós a sentimos mesmo entre uma multidão, ou em pequenos grupos. Ela nos dá a vontade de sair a procura de algo que nos falta; sentimos falta de alguma coisa que satisfaça a nossa necessidade. Necessidade subjetiva, pois na maioria das vezes possuímos mais do que o razoável para satisfazer a parte material de nossa vida.
Como fugirmos a essa sensação de vazio?
O equacionamento desse problema que aflige a humanidade traria a fortuna a quem o resolvesse, porquê disso depende a nossa alegria e nossa felicidade. Talvez seja uma procura infrutífera mas temos que perseguir e lutar para tentarmos encontrar a solução. Não para ganharmos dinheiro e sim para nos satisfazermos, tanto por nos livramos do inconveniente da desolação como pela satisfação de transferir, aos nossos semelhantes, algo que os ajude.
Talvez dois solitários não somassem as suas solidões e sim um neutralizaria a solidão do seu companheiro! Achamos que o encontro de dois solitários poderia criar um relacionamento que os condicionasse à descoberta de algo que os livraria desse sentimento desgastante: dessa sensação de que falta alguma coisa. Talvez esse encontro fosse o inicio da solução do problema, pois o solitário é uma pessoa a quem falta o diálogo. Ele necessita de um canal de comunicação que o possibilite a exteriorização de seu potencial. É uma pessoa que possui um profundo conteúdo de idéias que não tiveram a oportunidade de serem concretizadas: viver um grande amor: trabalhar pelo bem da humanidade; amar aos seus semelhantes altruisticamente. A impossibilidade de consumação desses ideais o sufoca.
É tão triste viver só; principalmente quando não estamos sozinhos! O retiro espiritual até que é positivo, por que, quando estamos sozinhos, recolhidos para dentro de nós mesmo, poderemos aprofundar o nosso conhecimento através da sensibilidade e é nessas oportunidades que alcançamos uma ligação transcendental e aflora, em nossa mente, as verdades mais significativas para a nossa existência.
Mas quando enfrentamos a solidão a dois; quando sentimos bloqueado o nosso poder de comunicação e, desaparece o nosso relacionamento com a pessoa que está ao nosso lado; enveredamos para a mais profunda das frustrações. É a negação da vida, do amor, das virtudes!
Quando nos sentimos assim, somente um poder maior, uma ligação transcendental, poderá nos trazer de volta à vida!


O F I M


O fim! O que é o fim?
Como será o fim?
Quando será o fim?
Como saberemos quando chegar o fim?
O que sentiremos no fim? Existe o fim?
Deus não teve começo e não terá fim!
O homem é feito à imagem de Deus.
Para o homem não haverá fim!
Deus é eterno! O homem é eterno!
Deus sabe tudo! O homem precisa conhecer.
O homem precisa aprender; para que possa saber.
Para que possa confiar!
Para que se alimente de fé; e armazene a esperança;
E tenha sempre na lembrança, que não terá fim.
Existe algo depois da morte; aí encontraremos melhor sorte:
A paz . . .
Desnudos de corpo, estaremos limpos de espírito,
E tomaremos sentido
De que já passou a dor e só resta o amor.
Sobrará a virtude, para novas atitudes.
E daremos as mãos; e teremos um mesmo pensar.
Para que possa nascer a união
Que nos fará caminhar . . .por caminhos novos.
E possamos alcançar, depois do vôo alçar,
A ligação com o Ser
E assim renascer.



D I R E I T O D E S O N H A R


17/10/1.987


Não nos arrebate o direito de sonhar
Você poderá desejar material fidelidade
Mas permita que possamos sonhar
E mesmo no sonho a felicidade encontrar

É tão bom sonhar um grande amor
Que existe alguém para nos felicitar
Sem julgar ser isso um favor
E que juntos possamos a vida desfrutar

Somos atingidos pelo desamor
Quando percebemos que o sentimento morreu
Assalta-nos a dúvida, a angústia, o temor
A nossa vida como o amor feneceu

Vivemos sonhando a esperança
De nossa vida poder reconstruir
Mas os sonhos são sonhos
Que a vida insiste em desfazer

Agora o que nos liga à vida
E consiste no elo da existência
É o direito subjetivo e inalienável
De desperto ou em sonho, continuar a sonhar.



O P R O F E T A

. . . é o que foi dito pelo profeta Joel:


E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre

toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e

sonharão vossos velhos;

Até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito

naqueles dias e profetizarão.

. . . E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.




Atos 2:17,18,21;




S H A N G R I L Á


Jabaquara, Agosto de 1.974


Este livro (que tento escrever) servirá para angariar fundos para a construção de uma cidade utópica; ela será projetada nos moldes antigos e a sua vida interna será a mesma que podia-se presenciar séculos atrás (cheias de paz e tranqüilidade) quando o “progresso” não havia transformado os seres humanos em frustrados e sofredores (seres que transitam por aí, entre blocos de concreto, com uma pressa imensa, sem saber onde deseja chegar).
Essa cidade, que poderemos batizar de “Shangrilá”, será o paraíso universal. Lá, as existências prolongar-se-ão indefinidamente, devido ao modo de vida que será sem pressões e tensões.
No seu portal de entrada faremos inscrições que ensejarão, às pessoas que por ele passarem, mudarem de vida no sentido de nascerem de novo; colocaremos, ali, um enorme espelho mágico para que as pessoas contemplem-se e analisem os seus semblantes e também o seu interior, para aquilatarem se consideram-se o tipo de pessoa com quem gostariam de viver. Só depois de operada uma transformação completa será permitida a entrada desde que cada um assuma o compromisso de professar a única religião que haverá ali: A religião do amor.
Passando pelos testes, o cidadão, investido de seus direitos e deveres, poderá viver na comunidade, destituído de vícios e conduzindo-se dentro da moral e da disciplina.
Na cidade não poderão entrar veículos poluentes; serão permitidos os carros puxados a cavalo ou de propulsão humana, como a bicicleta.
Embora pareça utópica uma cidade onde se viverá em contato permanente com a natureza e sem preocupações, ela existe e poderá ser concretizada em nosso coração, bastando que cultivemos a compreensão e o amor para com nossos semelhantes.

(Idealizamos a criação de uma comunidade alternativa “COMUNIDADE DE VIDA E AMOR’ para preparar as pessoas a viverem em amor, inclusive com a natureza.



R E L E M B R A N D O


Jabaquara,23/08/1.974




Como a nossa vida é incerta e imprevisível!
Há um ano atrás eu estava vivendo um dos mais belos sonhos. Como é bom sentirmo-nos amado, ter alguém que se preocupe em fazer a nossa vida agradável! Nessa ocasião estava vivendo um período assim, embriagado de amor.
Porém, o destino, cruel, destruiu aquele sonho de amor que havia envolvido a minha vida, depois de tantos dissabores por que havia passado. Digo destino cruel, mas ele não tem a responsabilidade por tudo aquilo que passamos. Os culpados somos unicamente nós. Fomos nós, que traçamos o nosso Karma, pelos procedimentos anteriores. É a lei da “ação e reação”. Para cada ato que praticamos virá uma reação correspondente. Quando passamos por experiências penosas deveremos meditar e conscientizarmo-nos que são as reações, ou conseqüências do nosso próprio procedimento. Fomos nós que gravamos, na roda do tempo, tudo aquilo que, no retorno, teremos de passar.
Colhamos uma lição através de tudo aquilo que nos acontecer e evitemos tomar atitudes que causem experiências penosas aos nossos semelhantes. Assim evitaremos passar, futuramente, pelos mesmos sofrimentos que causamos. Eliminemos de nossos corações, todo o rancor, toda a maldade e amargura e, quando ele estiver limpo, agradeçamos a Deus, não por palavras e sim por atos de amor e compreensão para com nossos irmãos, indistintamente. Assim, com o coração limpo e sem mágoas, poderemos recordar, com saudade, de todos os belos sonhos que vivemos. Traremos, para o presente, tudo aquilo que vivemos intensamente, alegrando o coração, como o tínhamos a um ano atrás, neste dia.


C A M I N H O

Os ensinamentos bíblicos são válidos somente se forem vividos. Quando desejamos, simplesmente, interpretá-los, geralmente racionalizamos, deturpando-os em favor do interesse de pessoas ou de grupos.
Para vivermos a moral cristã, exarada da Palavra de Deus, não necessitamos de intermediários profissionais para nos orientar, pois se formos sinceros nos tornaremos receptivos para recebermos a luz, diretamente do Criador, ou por canais por Ele mesmo escolhidos.



P R O C U R A D A V E R D A D E

Rudge Ramos, 29/08/1.987

Oh! Deus!
Dá-nos sabedoria!
Para que mais que amar,
Saibamos fazer as pessoas
Sentirem quanto as amamos.
É tão difícil enxergar
Quando precisamos provar!
O amor não é um objeto
Que podemos apalpar.
Ele não aparece ao acaso
E sim ao fim de longa vivência
Pela fusão de duas almas
Quando, acima de tudo, há o desprendimento
E se torna num sentimento
Que toma conta do ser
Sem mais querer saber
Ou ouvir, do consciente a razão
Um sentimento que abrasa
E transforma a matéria
Torna a vida em etérea
Eliminando a incerteza.
Dá-nos, Senhor, essa certeza!


S E A R A



Mococa, 24/08/1.987


O caboclo com um sorriso nos lábios
Estende o olhar pela roça, a espreita,
Contemplando a natureza com seus desígnios sábios,
Já chegou a hora da colheita.

Os cachos abundantes e dourados
Do arroz que trará a fartura
Balançam sobranceiros ao vento
A despedir-se do campo de cultura.

Logo estará embalado
Seguindo para os centros de consumo
Alimentará o homem cansado
Transformar-se-á em vigor e calor.

Quando o homem cansado
Sentar-se à mesa para comer
Estará pedindo que seja abençoado
Aquele que Deus deu o saber

E que no tempo certo plantou
Para o fruto da terra colher
E cada um possa comer
O que o Pai frutificou.


V Ô O


Jabaquara, 25/07/1.974

Um dia me deitarei e não mais me levantarei. E a minha família, os meus amigos dirão: Ele morreu!
Mas será falso, porquê aí é que estarei mais vivo do que nunca. O que ocorreu foi que me concederam a oportunidade de um vôo espiritual e pude contemplar toda a maravilha que existe nessa outra esfera. Depois de me maravilhar com todo o trabalho humano e desprendido que é realizado, percebi toda a mesquinhez da vida material, e como falhei na missão que deveria realizar nesta curta passagem por este “vale de lágrimas”, quando deveria doar mais amor e ajudar tantos irmãos que tinham necessidade de uma palavra amiga. Diante disso implorei para que me fosse dada nova oportunidade, visto que o tempo que me restava seria curto para a realização de uma missão de espalhar o amor entre os homens.
Então peço-lhes, não pranteiem a minha morte material, e si, regozijem-se pelo meu renascimento espiritual. Ajudem-me na missão que terei de empreender, espalhando o amor em torno de vocês. A missão não é só minha e sim nossa; ao procederem de maneira altruística vocês estarão preparando a base, para juntos darmos, aos nossos semelhantes, tudo de nós.
Parti mas voltarei para participar do mesmo grupo. Não sei como, mas fiquem atentos para que não aconteça de me repelirem. Cada pessoa que cruze os seus caminhos deverá ser tratada com amor, pois não importa a aparência que apresentem, em seu interior poderá estar o espírito que algum dia vocês consideraram como amigo, como pai, como esposo, como irmão.
Porque é como irmãos que deveremos nos considerarmos, independente de crenças, de raças, de cor. A crenças, as raças, a cor, têm separado a humanidade e não é assim que deveremos proceder. Deveremos considerar todos como irmãos e, livres de preconceitos, libertados do orgulho, do egoísmo, do rancor, estendermos a nossa mão a todo aquele que vier ao nosso encontro.
Não derramem suas lágrimas sem ser para que lavem os seus corações e transforme-os em seres receptivos para as coisas boas da vida. Assim será válido, porquê depois de lavarem os seus corações vocês se transformarão em seres voltados para o próximo e se dedicarão à propalação do amor e isso lhes trará alegrias tornando-os felizes.
Desprendam-se o mais possível das coisas materiais pois elas são colocadas à nossa disposição para que com elas possamos ajudar aos nossos irmãos mais necessitados; elas são, unicamente, um meio que nos ajudará a alcançar o verdadeiro objetivo que é a nossa missão. Fiquem atentos e preparem o meu caminho; nesse trabalho de auxilio e amor ao próximo vocês encontrarão a verdadeira alegria de viver.
Sejam tolerantes com os seus irmãos para que sejam tolerantes, também, com os seus erros. Somos todos pecadores dependentes da complacência de nossos semelhantes e da misericórdia de Deus.
Algum dia estaremos juntos. As posições se modificam e, se hoje sou pai é bem possível que no futuro seja o mendigo que irá bater em suas portas para pedir-lhes um pouco de amor e de pão.


B A N D A N A P R A Ç A


Mococa, 16/08/1.987



Toca, banda; toca um dobrado
Daqueles quentes, bem ensaiados
Acorda meu espírito infantil
De ouvir-te fico assanhado.

Mil imagens percorrem minha mente
Tu te identificas com a banda do meu povoado
Parece, até, que todas as bandas do mundo
São uma banda só.

Olhem o homem do bumbo e o do trombone
Aquele do prato, parece seu Zé do Bonde;
Sax, clarineta, tudo bem ajustado
Até dá gosto ver tanta dedicação


Ha! Que saudade da minha infância
Festa do Divino, São Sebastião
Quando inocência existia
Quando namoro era de bilhetinho.

Meus olhos extravasam emoção.
Que pena que os anos passaram!
E que haja do passado rompido o elo,
E que nem eu mais exista tal qual era!




P R O C U R A





O fato de nos contradizermos através dos tempos não leva a crer que sejamos falsos, apenas que reformulamos e atualizamos os nossos princípios pela maior vivência e compreensão dos fatos da vida.
Tudo deriva-se do conhecimento e a busca é incessante. Por mais que possamos saber hoje, sobre qualquer assunto, amanhã será outro dia que nos trará novas reflexões. A busca do conhecimento é um mergulho em águas tão profundas que a visão da mente encontra-se momentaneamente cega. Somente com o tempo é que vão delineando-se os contornos das formas. Quando procuramos externar aquilo que entendemos, geralmente, o fazemos de modo incompleto. É um fato semelhante ao que ocorre com o sentido da visão: Se nos encontrarmos, repentinamente, em um local escuro e tentarmos descrevê-lo, não o conseguimos. À medida que a nossa vista vai acostumando-se à escuridão, vamos divisando os objetos ao nosso redor, com maior precisão. Até o momento em que conseguimos descobrir o interruptor elétrico e acionando-o faz-se a luz. Nesse instante constatamos que a descrição, que havíamos feito, está bem distante da realidade. Com a visão mental ocorre algo semelhante. O homem está sempre à procura de uma verdade que nem ele mesmo sabe, realmente, qual seja. Nessa procura desesperada ele mergulha no mais profundo do seu ser, por acreditar que somente através da meditação poderá alcançar o fio do enigma que o atormenta. Ao penetrar nas sombras tenebrosas da sua ignorância, começa a divisar vultos disformes aos quais esforça-se para identificar. À medida que vai clareando a sua mente adquire o poder de decifrar partes de um todo que somente tem explicação lógica pela análise do conjunto. Afoitamente passa a admitir o conhecimento adquirido como conclusivo e abraça-o como fruto da verdade essencial e final. À medida que sua mente aclara-se mais, chega ao conhecimento de outras nuanças que afinal misturando-se entre si irão constituir a depuração de tudo aquilo que originalmente acreditava. Daí a necessidade de reformular os seus pensamentos para a realidade presente que, a bem da verdade, nunca poderá ser definitiva.
Na epístola de Tiago (1:5) encontramos: “Se, porem, alguém de vós, necessita de sabedoria peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera, e ser-lhe-á concedida”. Este é o segredo que poderá levar o homem ao conhecimento de toda a verdade. Mas, a maneira de conseguirmos a concretização do almejado é, ainda, Tiago que nos ensina no versículo seguinte (1:6) “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando, pois o que duvida é semelhante a onda do mar impelida e agitada pelo vento.” Essa fé traduz-se na entrega total à vontade do Criador para que por Ele sejamos transportados por caminhos espinhosos ou floridos que nos conduzirá ao lago do conhecimento. E para que por Ele, ainda, sejamos mergulhados, sem receio, até o lodaçal das regiões abissais. Será lá que aprenderemos os segredos do desconhecido e do incerto que nos dará o conhecimento da única verdade que inconscientemente tanto desejamos penetrar: A certeza da vida eterna. Na Bíblia, que é a palavra de Deus, você poderá conhecer a verdade: “Estas coisas vos escrevi para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do Filho de Deus.” (I João 5:13)



P A R T I R




Partir! Partir para uma vida nova!
Deixar as mágoas, amarguras,
Fazer o que der vontade
Procurar mudar, buscar algo realizar.

Tantas lutas para até aqui chegar
Rosas, espinhos, tivemos que pisar
Engolir mágoas, mergulhar na angústia
Conhecer o negro e assim mesmo amar.

Amar para não desesperar
Doar de mim sem reclamar
Sem recompensa poder esperar
Vendo a frustração a se instalar.

Quero passar a um outro ciclo
Novos eventos, concretos, criar.
Viver a vida sem divinizar
Me misturar, com a massa fundir.

Será que a vida me dará nova chance
De reconstruir a partir de estilhaços,
Um novo horizonte espargido de paz
Ver o sol brilhar, iluminando outra vez o amor?


A G R U T A


Jabaquara, 08/08/1.974


Penetrei na caverna e fiquei admirado. Era como uma dessas grutas para abrigo de uma santa. Estava completamente vazia e silenciosa! Um silêncio tão profundo que comecei a ouvir as batidas do meu coração. Afirmei a atenção e aquelas batidas foram aumentando de intensidade até eu perceber que não eram mais batidas e sim uma voz que partia de dentro do meu ser. Era eu falando mas era como se fosse um estranho , dado os conceitos elevados, inteiramente alheios aos meus mudos sentimentos. E a voz dizia: “Pai, sou aquela pequenina centelha que um dia fez parte de Vos e que embora devesse conservar as mesmas características de perfeição, não teve a força necessária para evoluir e mal consegue iluminar esta gruta solitária. Desejo crescer e tornar-me útil a ponto de fornecer algum calor aos sentimentos, transformando este lugar frio e solitário em um albergue onde os viandantes cansados de suas desilusões possam encontrar o conforto de um abrigo; a satisfação de receberem um sorriso e de serem compreendidos.
Assim continuou aquela voz a dizer coisas tão belas e eu, ficando cada vez mais confuso porquê aquela era a minha voz mas não era eu quem falava e tudo saia daquela gruta fria que era parte do meu interior, e eu estava dentro dela.
Até que enfim comecei a compreender que aquela voz era o meu verdadeiro eu que tentava iluminar a gruta escura que era o meu coração.



A N O N I M A T O


Se algum dia eu escrevesse um livro, escreveria sob um pseudônimo. O que escrevesse seria o fruto da inspiração da vivência do que realmente sou eu. Aquilo que aflora em nossa mente é a soma de tudo que aprendemos durante séculos de peregrinações, por diversas esferas, através de estágios que vivemos sob diversas identidades. Logo o que transmitimos hoje não pertence ao eu que somos no momento e sim à soma de toda a nossa experiência. Como pretendermos, tendo tão pequena participação, nos apropriarmos de uma obra de séculos? Isso seria imoral e destruiria todo o valor da mesma.
O proveito de um livro para quem o escreve nunca poderá ser material. É justo que aqueles que trabalham na parte material de uma obra receba vantagens materiais, mas quem a cria não poderá desejar tão mísero pagamento pelo que está transmitindo. Quem transmite verdade, conhecimentos úteis, recebe o pagamento através do auxilio que fornece a quem o lê. O pagamento do autor é o reconhecimento, pelo público, do valor de sua obra e soma-se pelo bem estar que essa obra venha a oferecer a quem a lê.
Pergunta-se se uma obra não deverá trazer benefícios materiais e, inclusive ser, o seu valor, uma herança para os filhos? Respondo que, o proveito dos filhos deverá ser pela moral que transmitirem as obras de seus pais. Se não souberem colher os ensinamentos que elas venham a transmitir de nada adiantará os frutos materiais.




R O L A N D O A V I D A


Mococa, 16/08/1.987



Rolando a vida sem pudor
Viajei nas asas da ilusão
Sem olhar a necessidade que sentiam
De um gesto de amor os irmãos

Defraudei a vida de sentido
Roubei do inocente a esperança
Busquei só prá mim a ventura
De a felicidade possuir

Não percebi do Ser a mágoa
A dor pelo meu descaminho
Ignorei a luz que Divina fruía
Não senti a mão que em mim pesava

Mas atingido por célere castigo
A Deus roguei me desse luz
Que pelo sangue de Jesus
Fosse o meu pecado lavado

Transformado renasci prá vida
Superei do passado o mal
Viverei procurando no futuro
A sublime, a doce flor do amor.



C R U E L R E A L I D A D E

Mococa, 12/08/1.987


Velhinho que volta da roça
Quando o sol já se vai recolhendo
Cantando feliz entra em sua choça
Encontra a velhinha o feijão escolhendo

Já se foram os filhos crescidos
Já se foram até alguns netos
Para outras coisas foram nascidos
Intelectuais, alinhavam alguns sonetos

E o casal que o amor uniu
E que venceu valente o tempo
Conserva do passado a esperança
Da felicidade guarda a lembrança

Quantas lutas travaram no passado
Para o futuro dos filhos garantir
Sonhando que no futuro, entrelaçados
Teriam a segurança por porvir

Agora, esperando juntos a morte
Assoma cruel realidade
Os filhos se foram prá cidade
Sozinhos se quedam em triste sorte.


F O M E D E A M O R


Mococa, 20/08/1.987



Esta fome incontida
Este desejo de receber afeto
A mágoa no coração sentida
Me machuca e me transforma em dejeto

O afeto não se pode comprar
Ele tem de nos ser oferecido
Nasce de um coração que quer amar
De um desprendimento consentido

Desejaria assim amar
E no meu caminho encontrar
Corações a derramar
Para minha fome saciar

Meu coração calejou
Nas lidas e lutas da vida
E até agora não encontrou
Em outro ser a guarida

Desejo profundamente amar
Quero o amor espalhar
Sem precisar a ninguém explicar
Por de “meu amor” te chamar.



L I G A Ç Ã O T R N S C E N D E N T A L


Mococa, 15/10/1.987


Vamos emergir o nosso egoísmo
Vamos envolvê-lo pelo amor Divino
Vamos restaurar a mensagem do evangelho
Para que nos religuemos ao infinito.

Tenhamos bem presente a realidade
De que o homem possuiu e perdeu a capacidade
De experimentar e expressar o verdadeiro amor
Para ligar-se a Deus e viver sem temor

Restaurando a capacidade teremos vida
Não vida física que é transitória
Mas vida em plenitude
Que com Deus durará pela eternidade

Isso não nos transformará
Para sermos melhor homem
Antes de enriquecer nosso intelecto
Trará riqueza para a nossa alma

O caminho para o infinito
Para uma ligação transcendental
É enriquecer a alma imortal
Abandonando o egoísmo e abraçando o amor




C H U V A D E L Á G R I M A S



Jabaquara. 10/05/1.973




As lágrimas são como as gostosas chuvas de verão; vêem, lavam as ruas e as praças, levando, de aluvião, as sujeiras da cidade. Depois amainam a sua impetuosidade e a cidade, como uma jovem índia, saída do banho, se resplandece ao sol. Assim são as lágrimas! Lavam as nossas mágoas, livram o nosso espírito, levam todas as agruras que passamos e que nos infelicitavam, Nos conforma e nos conforta. Feliz de quem chora; isso é sinal de que nem tudo está perdido. Feliz de quem chora pelo que não perdeu. Mesmo que julgue haver perdido o que possuía de mais precioso, cedo chegará à conclusão que ainda muito lhe resta e, principalmente, o que realmente tem valor. Porquê, aquele que chora exterioriza sentimentos puros; nos prova que tem um espírito bem formado e a sensibilidade para condoer-se, também, das aflições de seus semelhantes.
Por amor, por piedade, por saudade; quantas as razões porquê derramamos nossas lágrimas! Benditas sejam, porque nos transforma em seres conscientes, receptivos e preparados para que, através de nossos sofrimentos, possamos confortar os nossos semelhantes. Depois de vertermos nossas lágrimas sentimos um alívio e uma paz por concluirmos que não somos seres voltados para o mal. Somos, sim, entes humanos conscientes de nossas fraquezas e necessidades. Afloramos um sentimento de bondade, de amor e esperança, que nos prova que não estamos sós; que dependemos de outros, assim como existem outros que dependem de nós; que fazemos parte de um todo, inseparável, cuja unidade depende desses sentimentos puros.
Consolemo-nos e derramemos nossas benditas lágrimas!



P E L A S E S T R A D AS D A V I D A


Mococa, 12/08/1.987


Ah! Que vontade de me por no estradão!
Abandonar, largar de vez a’gonia.
Assumir sem lágrimas a solidão,
Não mais querer transformar a vida em sinfonia.

Quando o amor que é vida morreu
Rolando esperanças pelo chão
Quando nossa alma a perda já sofreu
Não mais sacia a fome o simples pão.

Assola-nos a desventura, o vazio
Debatemo-nos no labirinto da dor
Abate-nos, do inverno, o estio,
Foge-nos a esperança de amor.

Olhamos para trás a rever as ilusões
De mil quimeras que a vida nos traria
Sonhos de amor transformados em aflições
É a realidade que tudo contraria.

Sigo pela estrada sem destino
Talvez ainda encontre suave ninho
O imprevisível amor talvez me dê carinho
Para que ainda ouça suave sino.



V E L H A A M A R G U R A


Mococa, 24/05/1.987


Lá na capital paulista,
No bairro de Santo Amaro
Quando, na adolescência, eu sonhava
Conheci uma linda menina

A cor dos seus olhos eu nem sei
Mas o seu sorriso comigo guardei
Agora, do fundo do coração
Prá Walkyria faço uma canção

Em solitário me transformei
Desde que um dia ela partiu
Para Itapeva foi e se escondeu
Outro destino longe de mim escolheu.

Eu cresci amargurado
Por nunca ter o meu amor reencontrado
Minha vida foi marcada de saudade
Minha alma sofreu desamparada

Quase meio século passado
De esperança o coração envelheceu
Quando, logo, meus olhos se fecharem
Levarei esse amor prá eternidade.


D I A D O S N A M O R A D O S


Jabaquara, 12/06/1.973


Hoje, dia dos namorados, dia em que os corações encontram-se festivamente, os espíritos entrelaçam-se em manifestações de compreensão; todos vivem suas emoções, pensando, sonhando com o futuro. Que tenho eu? Nada! Tenho o passado! Guardo em mim, em meu coração, as emoções vividas, algures, no tempo. Tenho bem presente os sonhos da juventude. Ainda me lembro do sentimento de entusiasmo que contribuía para eu idealizar coisas incertas que se esfumaçaram na poeira dos anos decorridos.
Que profundo mistério é a vida! Muito maior do que a morte, que a nós se apresenta como o fim de um estágio. Depois do final de um estágio não sabemos o que virá, mas na vida esperamos acontecimentos, pintamos realizações, lutamos para alcançarmos, porém a fogueira do destino tudo consome.
Onde os sonhos da juventude, as emoções vividas, as Walkyrias que povoaram minha existência? Estão perdidos no tempo e no espaço e por mais voltas que dê, nunca mais viverei as mesmas emoções, porquê o passado fica só dentro de nós. Mesmo que tentássemos reconstruir um acontecimento não o conseguiríamos. Ainda que adaptássemos o ambiente, que escolhêssemos a hora apropriada e que reuníssemos as mesmas pessoas, dizendo as mesmas palavras, não conseguiríamos despertar as mesmas emoções.
Se não conseguimos reconstruir o passado e se o futuro é incerto em realizações, deveremos viver apenas o presente. Mas é tão triste viver sozinho! Sinto um vazio tão grande que nem a vida ou a morte poderão preencher. Afundei-me em um poço que vem até o fundo da terra. Sinto-me em pleno inferno. Só que o inferno é de gelo. Quero subir, saltar obstáculos; disponho-me a conquistar a felicidade a qualquer preço. Desejo deixar este mar encapelado e atracar em um porto seguro, onde possa encontrar afeto, amor e refrigério para a minha alma!


NATAL


Jabaquara, 24/12/1.973

Sozinho em meio a uma multidão!
O relógio assinala exatamente 0 hora. Quase dois mil anos nos separam do evento que hoje comemoramos. Todos abraçam-se, comem, bebem, e eu fico imaginando se valeu a pena o sangue derramado por Cristo para a salvação da humanidade. Humanidade hipócrita que, enquanto deseja boas festas e felicidades a todos, na realidade só pensam cada um em si. Por isso é que me sinto sozinho embora esteja entre uma multidão. De pessoas queridas, é verdade, mas que não pensam como eu. Imagino, então, uma família formada, não pela força do sangue, e sim por espíritos que se compreendessem e se amassem realmente, e fico desejando descobrir onde se encontram aqueles que realmente fazem parte de minha vida espiritual. Talvez encontrem-se nas próprias pessoas a quem amo, porém incapacitadas a transporem as matérias que os envolvem, para fazer aflorar a sua essência. Onde quer que estejam, recebam, neste Natal, esta mensagem de amor e paz de um irmão desterrado, que tanto necessita de ajuda! Se conseguirem ouvir a voz deste solitário, saindo da multidão, venham ao meu encontro para formarmos a “nossa família”.
A você que está distante, que assim mesmo não está tanto como tem estado, eu envio a minha mensagem. Quisera tê-la presente, mas não fisicamente, porquê de nada vale possuir alguma coisa se esse algo não nos possuir. O amor não é só dar e não é só receber; tem que ser as duas coisas ao mesmo tempo, em uma constante troca, para que haja algo maravilhoso em nossa vida. Assim, eu desejaria a sua presença espiritual, consentida e livre. E a não ter isso, não desejo nada.

C R I A Ç Ã O

Deus, no auge de sua inspiração criadora, em um só momento, deve ter criado a mulher e a flor. Esta, com seu colorido e perfume, enfeita a natureza e fornece o seu néctar para a formação do mel. A mulher, com a sua sensibilidade e doçura, é quem contribui para a estabilidade do lar, onde a criança forma o caráter que a faz contribuir para o bem da humanidade.


T E M P E S T A D E


O vento forte revoluteia
Torna-se cinzento o céu
Estende-se lúgubre como teia
Parecendo mais, de luto, um véu.

Os relâmpagos cortam o espaço
Reboa o estrondo estridente
Recolhe-se a beata em seu regaço
Faz sinal da cruz e trilha o dente.

Cai a chuva igual diluvio
Corre pela sarjeta a enxurrada
Contrastando co’a lavra quente do Vesúvio
Espalha-se fria, enregelada

Tudo leva com impetuosidade
Lava o céu, retira o cinza
Logo espraia-se pela cidade
O arco-íris esplendido centraliza

A cidade, como jovem índia, sai do banho
Espreguiça-se divina, sob o sol
De novas conquistas, ativa, faz o rol
Relembra, já livre, os amores de antanho.










C O N T I N U A N D O A P R O C U R A


Quando. . . A emoção envolve o nosso ser,
Quando o coração dilata-se no peito,
E a pressão empurra e revolve os humores,
E a emoção sobe, transbordando pelos olhos
Umedecendo a face.
A sensibilidade aflora...
Tornamo-nos num filtro que purifica a alma.
Esta se extrapola e envolve o homem físico transformando-o
Regenerando-o e levando-o por caminhos novos.
O passado acaba-se sem possibilidade de retorno,
O presente que é um átimo do tempo esvai-se,
E impossibilitados de prever o futuro,
Nos transformamos em seres sem perspectivas.
Este rápido momento,
Transforma-se num tempo de saber Divino.
O saber transforma-se em conhecimentos novos,
E buscamos o Ser primeiro,
O Verbo que transmite o amor.
Já não sentimos dor, embriagados de certeza,
De verdade sem saber de que.
Esse momento transforma-se num vazio,
Vazio repleto de incertezas.
Mergulhamos no profundo do desconhecido
Sedentos de uma ligação transcendental.
Conseguimos o elo sobrenatural
Que pára e estende o tempo,
Que delimita e expande o espaço.
Já não somos seres naturais.
Desde que não existe tempo e espaço
Sentimo-nos prisioneiros do universo,
Desaparecidos na imensidão do infinito.
Como voltarmos a seres naturais,
Emergirmos das regiões abissais?
Voltarmos à vida igual,
Sem artifícios de poder gerar,
Acontecimentos tais?
Podermos sentir novamente a emoção,
Criar aspectos normais
E sermos um feliz mortal!





V I D A F R U I D A

Minha vida frui como um rio da Amazônia
Em meu peito pororoca o Solimões
O tédio me abraça causando insônia
Deste mal quero tirar lições

Uma alma criada para o romantismo
Jamais poderia quedar-se na rotina
Agoniza abandonada no ostracismo
Espera a morte, não foge à triste sina

Já se foram os sonhos da juventude
Esmigalharam como poeira do caminho
Mergulhou a alma em profunda quietude
Procura o coração um suave ninho

Desejo a felicidade alcançar
Prá ser dono do destino, lutar
Quero ser leve para o vôo alçar
Vencer sem ser preciso a vida tirar

Luto para a vida conservar
Vejo na natureza a vida
Assisto triste a devastação que trucida
Sofro porque o homem não sabe preservar.



NOITE DE INSÔNIA

Mococa 15/08/1.987

Noite quente, céu pouco estrelado
A lua estende seu manto prateado
De minha janela a tudo alheado
Contemplo a abobado estrelada.

Vejo a cidade que descansa
Algumas poucas janelas mostram luzes
São retardatários que ainda chegam
Cansados do dia de trabalho

Logo se acomodam e aquietam
E a noite silencia medrosa
Dir-se-ia que fecha a porta do passado
Abrindo a de entrada de um novo dia

Os galos cantam o amanhecer
Com seus cantos roufenhos
Logo estabelece-se a alvorada
Parecendo até uma multidão que grita

Sopra agora um vento gostoso
O sol desponta para iluminar um novo dia
A cidade se agita e se agiganta
Sai o homem-povo para procurar ganhar o pão.


H O M E M D E U S


Jabaquara, 08/05/1.973

No princípio era o Verbo e o Verbo se fez homem. Era exatamente aquela força invisível capaz de criar tudo que desejasse. Criar a matéria com a força do pensamento, como os nossos ancestrais. Criar a matéria como o homem atual cria a roupa para cobrir aquela matéria inicial que é o seu corpo. Sim! A força criadora que , diríamos, força mental, e que julgamos seja o próprio atributo do nosso cérebro. Será? Ou estará, unicamente, ali alojada, sendo o cérebro apenas um utensílio criado para servir de intermediário do ser, que somos nós, e o exterior?
Afinal, quem, ou que, somos nós? Simples matéria, ou manipuladores da matéria? Isso prova que, em realidade, somos a força inicial que se envolveu pela matéria. Porém, o envolvimento foi tal que ofuscou a centelha criadora.
O homem necessita reencontrar-se a si mesmo através da meditação. Precisa mergulhar na sombra onde irá encontrar os valores essenciais ao seu desenvolvimento espiritual. Necessita libertar-se de qualquer cadeia que o prenda a dogmas. Tornar-se livre para encontrar Deus em si mesmo. Deus existe e o homem é Deus, contanto que consiga encontrar e desenvolver, dentro de si, os valores essenciais atribuídos a quem é digno de criar.
Qual obra poderá ser maior do que a de transformar-se em Deus? E essa obra só poderá ser conseguida pelo homem. É necessário, porém, que deseje ardentemente e, mais do que isso, viva como se fosse. Quando conseguir alcançar esse estado, estará livre de tudo que atormenta o homem comum, porque não será mais comum e poderá dizer: Eu sou Deus!
O caminho para alcançar é “ser” e não “desejar ser”; É viver nos estado de quem “alcançou” e não de quem “deseja alcançar”. Terá que conseguir isso em contato com o mundo porque aqui é o céu (também, porque o céu é um estado de espírito) assim como é aqui que encontramos o inferno: Dentro de nós! “Céu e inferno nada mais são do que concepções criadas pelo homem, para definir a satisfação do dever cumprido ou a inutilidade de ter vivido.”
Não importam recompensas futuras e sim aquilo que podemos sentir imediatamente. O céu, no sentido apresentado pelos teólogos é uma situação, ou lugar, que não nos parece real por ser duvidosa a sua existência. porém, a satisfação que nos oferece o dever cumprido é um sentimento imediato; abstrato mas presente, quando agimos em conformidade com os preceitos morais que, antes de serem reunidos pelo homem, já eram um imperativo da própria natureza das coisas; essência do espírito humano; essência que emerge do que é bom, é puro, é amor. A verdadeira fonte de vida é o amor que jorrará inesgotavelmente quando o distribuirmos aos nossos semelhantes. Se nos transformarmos nessa fonte e saciarmos a sede daqueles que procuram por amor e compreensão, estaremos criando alegria, criando felicidade, criando vida; seremos dignos criadores e uma imagem das qualidades que imputamos a Deus.


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Estou escrevendo um livro que nunca será editado. As páginas desse livro são meus pais, meu irmão, minha esposa, meus filhos, meus amigos. Formamos, todos juntos, um pequeno trecho do livro da vida.


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Perguntaram-me como ousava eu escrever um livro, sem conhecimento das mínimas regras de português, cometendo erros de ortografia e de concordância? Respondi-lhes que: Quando escrevo não me dirijo aos homens que cuidam tanto da correção lingüistica e sim aos espíritos dos homens que se atem mais ao conteúdo das coisas.


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Escrever corretamente não é tarefa de quem pensa. É preferível que corrijam a nossa gramática de que tenha que corrigir os nossos pensamentos.



Q U E M S O U E U ?



Mococa, 21/09/1.987



Quem sou eu?
Quem sou eu que transito pela vida,
Possuído de profunda amnésia?
Quero mergulhar no meu ser
Buscar no eu mais profundo
A verdade da minha existência.
Pairam nuvens esparsas no ser
E encobrem o que eu queria saber,
Descobrir o que fui no passado,
Para que pudesse ressarcir,
Dos prejuízos, os irmãos ofendidos.
Apagar os males que de mim receberam.
Desejo mergulhar no passado
Para, livre, o presente poder viver,
E espargir para o futuro,
Do amor, os reflexos.













C A R Ê N C I A


Mococa, 23/09/1.987



Andei mendigando pela vida
Para ver se encontrava alguém
Que me desse amor,
Que me oferecesse alento

Meu coração estava carente
Minha alma quedava-se silenciosa
A própria vida estava ausente
Fugia-me essa chama preciosa.

Contemplava a gente que passava
Esperava ansioso uma destra amiga
Mas só o que se me oferecia
Era, no peito, crucial adaga.

Quero viver um grande amor
Não me satisfaz simples paixão
Esta tão somente causa dor
Deprava a vida e a leva ao chão.

Desejaria encontrar, no meu caminho o amor
Que me amparasse sem ser esmola
Que fosse um sentimento que consola
Que com seu carinho afugentasse a dor.

A Ç Õ E S

E

P A L A V R A S



Jabaquara, 16/05/1.973



Ações, palavras, sonhos, para um porvir melhor. Melhor para aqueles que nos são caros.
Ideação de um objetivo. Falamos e agimos com a intenção de transmitir uma mensagem. Desejamos ser compreendidos mas as palavras como as ações são falhas. Ou antes, a falha é nossa. Não sabemos dar às palavras o peso certo, a ênfase necessária para que nossos semelhantes percebam a intenção pura. Quando agimos, quando falamos, desejamos transmitir o que vai em nossa alma; desejamos transmitir todo o amor que existe em nosso íntimo, mas é como se, conhecendo um idioma, tivéssemos de nos comunicar através de outro desconhecido. Assim sendo, emitimos a nossa mensagem mas não nos fazemos entender.




D R U M M O N D, 17 de Outubro de l.987





A inspiração saiu de férias
Para refazer-se do susto
Vestiu roupas de cores sérias
Protestou pelo que não achou justo.

Por longos anos andara viajando
Gozando, dos esplendores, a paz
Singrando os mares, velejando,
Nas asas da imaginação falaz.

Mas o seu maior prazer
O que lhe dava mais gosto
Era, com certeza, trazer
À contemplação, daquele menino o rosto.

Menino que cresceu
E de sua cidade se foi
E assim um poeta nasceu
Para cantar o amor, o homem, a flor.

Mas hoje tudo findou!
Dos cântico só ficou a saudade
Morreu o poeta, foi morar na eternidade,
Como águia seu vôo alçou


R E T O R N O Á V I D A


Em uma manhã de suave primavera, quando, do alto de uma montanha, contemplamos o nascer do sol, penetra em nossa mente todo o segredo da natureza. O rei dos astros transfunde em nosso ser aquele calor que é transmitido através dos séculos (quantos?) dando vida e calor a todo o ser vivente. Percebemos que não unicamente através de um poder térmico e sim, sobretudo, ele nos infunde sensibilidade aos sentimentos. Nessa manhã festiva em que o sol aparece, sem rival, como senhor absoluto, sentimos renascer, em nosso íntimo, nova dose de esperança. Esperança de vermos realizados os nossos sonhos que até ontem eram estrelas inatingíveis. É a claridade exterior que traspassa a barreira da incompreensão, para atingir bem fundo, aquela centelha que está prestes a apagar-se. Da desilusão pelos fracassos passados vemos renascer uma força deslumbrante que ofusca tudo de negativo que já nos ocorreu. Transbordamos de alegria, de positividade, de amor!
Que gloria maior poderíamos aspirar, já no outono da vida, senão esse milagre de transformarmos a nossa desgraça em retorno a um período florido? Dizemos desgraça como sinônimo de aspirações não realizadas. Sim! Porque todos nós aspiramos por mil coisas no alvorecer da vida e a maioria presencia o passar dos anos, unicamente para verem desmentidos todos os programas ensaiados. A vida é tão dura justamente porque, na maioria das vezes, o homem, na sua obscuridade mental não tem capacidade de definir os seus ideais. Tece uma teia de desejos baseados em uma complexidade impossível de consumação. Elabora padrões de conduta que passa a seguir e que o impossibilita de realizar-se como ser humano. Impossibilita, assim, a realização de seus ideais, condicionando-se, dessa maneira, à infelicidade definitiva.
Quando, completamente desiludido da vida, sai sem rumo, à cata de um fio de esperança, e nessa corrida desesperada é levado a um lugar solitário, onde ouve o suave murmúrio da natureza, que o embriaga; e nessa embriaguez mental, presencia o nascer de um novo dia, o sol elevando-se no horizonte, suavemente, transformando as sombras da noite com seus raios deslumbrantes, também beneficia-se interiormente, transformando, todo o negrume do seu coração, toda a angústia de sua alma, em uma forte esperança que iluminará o seu futuro.
Não importa a idade que tenhamos, sempre poderemos adormecer no inverno e despertarmos na primavera. E quando isso ocorrer, firmemo-nos em nossos dons positivos para que nunca mais sejamos atingidos pela estação fria.
Organizemos nossas vidas para que possamos seguir o exemplo de pessoas abastadas que acompanham as estações quentes e floridas, fazendo turismo através do mundo. Façamos, também, turismo. Só que as nossas excursões não deverão estender-se pelos quatro recantos do mundo. Viajemos para as regiões de Fé, da Esperança e do Amor.





C I D A D E E C A M P O

Rudge Ramos,25/02/1.987



No campo o homem fere e cava o chão
Pensando que na mesa terá pão
Na cidade o operário ergue a obra
Na certeza que prá família terá sobra.


Mera ilusão, logo vem o desengano
Sai um do campo e vira cigano
Melhor sorte não tem o operário
Com a família vai viver em um tugúrio.


Ao magnata apelam, gritam em vão
Suas esperanças morrem, vão ao chão
Enquanto patrão voa para América do Norte
Os dois lamentam triste sorte.


Melhor justiça se faz mister
Para que todos o necessário possam ter
Supérfluo não engorda quem o tem
Mas ao pobre o pouco ajuda e faz bem.


Temos que usar de sabedoria
Fazer patrão e empregados darem as mãos
Criando paz, justiça e alegria
Para que todos vivam como irmãos.



O U V I N D O A N A T U R E Z A

Rudge Ramos,28/02/1.987


Ouço uma suave melodia
Que a alma transforma em sinfonia
Como orquestra toca a alvorada
Alegre acorda a passarada


O sol desponta no horizonte
Os animais enveredam-se prás fontes
A mata espreguiça-se e estala
Armadilhas arma ao intruso que atrapalha


O sol brilha como oiro
Sai prá capina o crioulo
Cai a chuva e fertiliza
Prá completar o adubo se utiliza


Da terra gera a planta verde vida
Defende-se da praga que trucida
Transforma-se o grão em alimento
Para ao homem cansado dar sustento


Oh! Que bela música se entoa
É a criança que é participante
Nesta terra bela em que cada um é viajante
E a vida toda assim se escoa.


D E S T I N O I M P L A C Á V E L


Rudge Ramos, 20/03/1.987


Luto contra um destino implacável
Que me trouxe à vida uma tormenta
Procuro livrar-me das correntes
Que me prendem ao passado.


Quantas esperanças o passado prometia
Que tombaram à beira do caminho
Me feriram mágoas transportadas
Para um coração cheio de carinho


Olhando para trás fico sonhando
Almejando a ventura alcançar
Buscar bem no fundo a lembrança
Do grande amor que fracassou


Quero ver renascer a harmonia
Desejo ver luzir nos olhos a esperança
Para tirar da alma tanta angústia
E para transformar a minha vida


Olhando para a frente vejo o amor
Que no passado longínquo me deixou
Volta para que possa preencher
O coração, a vida, até o fim!


D E S E S P E R A N Ç A


Rudge Ramos, 30/03/1.987


Quando a natureza que é bela
E que é feita para alegrar
Para a criação amparar
E ao homem sempre suster.


Encontra-se com seus protegidos
E rudemente se sente agredida
E assiste morrer a fraternidade
Sentindo o amor que é vida fenecer


Quando o homem só pensa em si mesmo
E tudo faz para enriquecer
Pisando sem piedade o irmão
E, orgulhoso, só dá vazão ao seu ser


E a criança, abandonada por todos
Sente perdida a esperança
Fugindo-lhe o futuro das mãos
E, assustada, solta do peito a’gonia


Então Deus que é vida se ira
E cura dos inocentes a dor
Castiga sem piedade a mentira
Junto co’a natureza revive o amor.


S O L I D Ã O A D O I S


Mococa, 23/08/1.987


Oh! Angústia da separação!
O vazio de estar sozinho!
Não causado pela morte.
Essa até seria melhor sorte!
Mas presente a sequidão de estio
Que da vida tira todo o brilho.
Do passado vêm-nos a lembrança
Da juventude repleta de ilusões,
Saudade dos sonhos projetados
Que pelo futuro foram rejeitados
Tirando do peito a ilusão
E plantando em seu lugar a solidão.
Agora o que nos causa dor
É que não haja mais amor.
Duas vidas juntas, separadas,
Dos corações as portas já fechadas.
Embora as almas tenham sede
E enfermas repousem em sua rede,
Implorando a caridade de um carinho
Para, de amor, criar um ninho;
Um obstáculo veda o caminho;
O orgulho, o egoísmo, a ingratidão,
Que do ser degenera a aptidão.
Lanço meu grito de agonia
Que como bela e triste melodia
Ecoa no labirinto de minhas ilusões.
Procuro no profundo do meu coração,
Para da sede do amor tirar uma oração;
Busco o elo que me liga a Deus
Para que cada ser ligue-se ao que é seu.
Que eu não seja alvo da irrisão,
Que entre nós, a dois, não haja a solidão.


. . .M E U S F I L H O S!



Jabaquara,08/08/1.9/74


Você . . .Você . . . e você . . .,meus filhos!
A princípio éramos dois e estávamos embebidos na ilusão do amor e, desse amor, veio a vida . . .aquela que tanto desejávamos: um filho. Veio você e a alegria de ser pai de um menino que levaria meu nome adiante. Então eu amei você mais do que tudo na vida.
A vida continuava e desejávamos mais alegrias e Deus nos ouviu mandando uma menina, e veio você. Nasceu em minhas mãos e era minha filha e, ao mesmo tempo, a irmã que não havia possuído. Então eu amei você mais do que tudo na vida.
E Deus nos reservava mais alegria e veio você. E não querendo o conforto dos hospitais veio nascer em casa; no lar onde todos nós viveríamos felizes. Então eu amei você mais do que tudo na vida.
Um filho, uma menina e um caçula e a alegria de possuir o amor de vocês e de dedicar a vida para protegê-los. E o amor que dedicava a cada um de vocês era todo o amor que possuía e essa dádiva preciosa de amor transformava-se em uma fonte inesgotável.
Meditando nesse amor compreendo todo o amor que Deus dedica às suas criaturas. Se nós, que somos tão mesquinhos, podemos dedicar tanto amor, é para se ter fé inabalável no Pai misericordioso, porque Ele nunca nos faltará em nossas necessidades. Por isso eu peço a Ele que vocês se amem tanto como eu os amo.
Isso eu peço por você . . .por você. . .e por você . . .meus filhos! Isso eu peço a você . . .a você . . .e a você . . .meus filhos.



P E R D A I R R E V E R S Í V E L


Mococa, 26/08/1.987

Eu te perdi no dia em que te conheci.
Talvez porque não soube amar,
Ou não soubesse incentivá-la ao amor.
Mas. . . a realidade, mesmo, é que eu não a amava!
O amor foi feito para os pares certos;
É necessário haver o encontro,
E que as almas se misturem;
Que as pessoas se conheçam
E mergulhem na essência do Ser
Purificando-se . . .
Dando-se umas às outras.
Mas . . .você também não me amava!
Essa é a realidade!
Cruel realidade!
Duas almas enredadas
Duas vidas aprisionadas.
Vítimas da covardia,
Não vislumbram possibilidade de retorno.
Envolvidas pela rotina
Duas vidas se estraçalham.
Eu te perdi . . .
Tu me perdeste . . .
Nós nos perdemos . . .



S O L I D Ã O II


Mococa, Agosto de 1.987


Sou um homem só!
Não que eu não tenha amigos,
Não que eu não tenha pessoas ao meu lado,
E sim porque não estou ao lado delas!
Me esquivo da vida, das amizades!
Não sou como as pedras do caminho!
As pedras do caminho!
As pedras que rolam pelo caminho!
Rolam pela poeira,
E para elas não há esperança.
Mas por certo não gostariam de ser
Como as pessoas que passam
Que costumam dizer
Tudo que sentem
Quando estão a caminhar.
Com um gemido latente
Mostram que não estão contentes
Com a vida que levam.
Reclamam de seus amores
Que não lhes prestam favores.
Lamentam a triste sorte
De se encontrarem sós . . .
Escolheriam fácil a morte!
Embora tenham com quem dividir
E até se possam divertir.
As pedras não são assim,
As pedras que rolam pelo caminho . . .
As pedras que rolam no pó,
Porque as pedras não estão só.
Embora se batam e se firam
Na poeira do caminho
E a si mesmo causem dor
Elas se dão umas às outras
Podem até ensinar ao homem
Os caminhos do amor..



R E E N C O N T R O



Reencontramo-nos na eternidade,
Relembramos o passado com saudade.
Trocamos idéias sobre nossas missões
Despedimo-nos outra vez em ansiedade.


Era mister o sofrimento,
Pois acima de nossos sentimentos,
Urgia o tempo para que em um só pensamento
Partíssemos para a realização de novo evento.


Triste era o que se nos impunha
Embora fundidos em um mesmo ser
Solidificados em um mesmo pensar
Deveríamos seguir por caminhos diferentes.


Para que um ao outro nos encorajássemos
Se nos permitiu um breve encontro,
Retemperamos nossas almas irmãs,
Para em seguida dizermos novamente adeus.


Quão distante hoje nos encontramos
Duas almas gêmeas que se amam tanto!
Você aí cuidando de uma família etérea
Eu, aqui, em igual mister te esperando.



D O C E E S P E R A



A vida se desenrola
Numa doce espera
Sempre chega a hora
Quando não se desespera.


Mesmo que venha a amargura
Mesmo que a vida fique vazia
Teremos a paz bem segura
Ainda poderemos criar a fantasia.


A fantasia nos enche de esperança
Porque nos anima a confiar no futuro
E sempre teremos gravado na lembrança
Que teremos um porvir seguro


A segurança nos trás a certeza
Que uma força nos conduz
Nos orienta e dirige com presteza
E leva-nos para o que nos seduz


O que nos seduz é uma bela vida
Que desenrolamos em doce espera
Tendo a certeza que quem não desespera
Estará seguro nos seio dela.


A M O R


O amor é o encontro de duas almas em um plano superior à matéria. Dizem que os olhos são o espelho d’alma e nós dizemos que a voz é o compasso do coração. É através dos olhos que podemos vislumbrar toda a pureza de uma alma e é através da voz que percebemos a emoção provocada pelo nascimento do amor. Esse sentimento reflete-se à luz, quando os olhos se encontram e as palavras tremulam no labirinto das emoções. Então as almas misturam-se como em uma taça de cristal e transbordam, jorrando como uma fonte inesgotável, porque o verdadeiro amor é imortal.
Porém, o homem, material, sente em si transformações físicas que o fazem modificar o sentimento imortal em matéria perecível e, os influxos sublimes do êxtase terminam em cinzas.


P E N S A M E N T O S

Só começamos a viver quando aprendemos a perdoar.

O perdão sincero deverá apagar todos os vestígios da afronta.

Infeliz daquele que diz: Não sei perdoar. Como poderá perdoar-se a si mesmo?

O fraco que perdoa o forte, transforma o forte em fraco.

Só é forte aquele que sabe respeitar o direito de seus semelhantes.

Não deveremos nos escandalizar pela mudança de padrões através dos tempos; a moral válida é a do tempo em que vivemos.(Falei Moral, porque a imoralidade nunca será válida em tempo algum.)

As necessidades do homem em um determinado período é que orientam o conceito de moral de uma época.

Quando discordarmos de alguma coisa, antes de a combatermos, deveremos procurar conhecer-lhe profundamente o conteúdo.

Quando agimos com inteligência e espírito de tolerância, acabamos por descobrir qualidades naquilo que condenávamos.

O fraco que perdoa o forte, transforma o forte em fraco.

Se raciocinarmos conscientemente chegaremos à conclusão que as faltas que imputamos aos nossos semelhantes, na maioria das vezes são a projeção dos nossos defeitos.

O fraco que perdoa o forte, transforma o forte em fraco.

Amamos a criança e respeitamos a velhice porque nelas contemplamos o nosso princípio e fim.

O amor é caridade, resignação, dedicação, desprendimento, sofrimento.

Onde houver o egoísmo nunca florescerá o amor

O amor, a música e as flores, são manifestações dos deuses para brindar a humanidade.

O amor é uma planta que adora o sol e a liberdade sadia dos campos; jamais florescerá onde sinta-se abafado pelo ciúme, pelo egoísmo e pelo orgulho.

Das cinzas dos amores fracassados renascem novos sonhos de amor.

A lei das leis é a lei do amor; o eterno amor é o espírito das leis.

Se encontrar um ser que me dê amor e compreensão que importância poderei dar à sua cor ou condição social?

Se novamente iniciássemos o mundo baseados na lei do amor, aboliríamos a necessidade de todas as outras leis.

A verdadeira religião é o amor que reúne a humanidade em uma só família.

É uma pena que o amor seja como as flores; tanto valor e tanta beleza para uma vida efêmera.

A multiplicidade e a variedade de comunicações que recebemos, através da inspiração, é a prova de que o nosso espírito tem uma vivência muito maior do que a idade que aparentamos.

Aquele que segue a religião por hábito está mais longe de Deus do que o ateu, que é sincero consigo mesmo

Pedi a Deus que me desse uma convicção religiosa que me encaminhasse ao seu encontro; recebi inspiração para que abandonasse as religiões.

Se conseguires, com tuas palavras, sensibilizar as cordas da alma conseguiras a mais bela melodia.

Quem oferece compreensão ao necessitado já purificou a sua alma para a salvação.

Desejei ir ao Paraíso para encontrar a felicidade. Quando lá cheguei pude vislumbrar, com saudade, a felicidade que havia abandonado.

O amor, para mim, é a religião na qual desejo ver abrigados todos os irmãos da pátria universal.

Aprenda os segredos da vida e da morte olhando para dentro de si mesmo.

Somente encontrando-se a si mesmo você poderá definir o que realmente deseja como opção à felicidade.

A verdade é uma verdade contra a qual não há contestação.

Existe a mentira piedosa e a verdade ultrajante; deveremos saber distingui-las antes de condenarmos ou absorvermos quem as haja praticado.

Nem sempre a verdade se faz necessária, assim como nem sempre a mentira é condenável.

A liberdade só é conseguida quando, conhecendo a verdade, nos desligarmos dos preconceitos e tabus.

Quando, injustamente, nos acusam de uma falta, estão nos outorgando o direito de cometê-la.

Os puros de espírito florescem na primavera.

No desejo de conquistar a felicidade para os que nos são caros, esquecemo-nos de procurar saber o que lhes seria uma ocorrência feliz.

Céu e inferno nada mais são do que concepções criadas pelo homem para definir a satisfação do dever cumprido ou a inutilidade de ter vivido.

Ás vezes, em nome de uma suposta dignidade, somos obrigados a amar em silêncio; porém não fora os preconceitos, esse amor poderia ser proclamado livremente, visto que os sentimentos sinceros e verdadeiros jamais terão de que se envergonhar.

A humildade gera um estado de receptividade para aprendermos e, os conhecimentos assim adquiridos são os únicos que poderão exaltar os seus contemplados.

Alcançando a felicidade faltará pouco para sermos felizes; isso porque ao homem sempre faltará alguma coisa.

O que é felicidade? Estado de alma que alcançamos facilmente quando dedicamos nossas vidas, com amor, ao próximo.

Se a vida apresenta momentos felizes para cada um de nós, solidarizemo-nos, juntando esses pedaços, para transformarmos a nossa existência .

Deveremos ter por pátria o universo, por irmãos a humanidade e por religião o amor.
Quando te disserem basta, você ainda terá muito a falar; quando todos te quiserem ouvir, você já poderá calar-se.
Quando transpuseres os umbrais da minha afeição, deixa lá fora o egoísmo, o orgulho e a ambição; ensinar-me-ás, então, tuas virtudes e, juntos retornaremos à vida para ensinarmos a humanidade a ser feliz.

O sorriso é o idioma universal.
Antevi o céu quando a criança me sorriu.
O sorriso é uma arma que penetra nas mais guarnecidas fortalezas.
Sorria e prolongue a sua vida.
A imagem que você projetar, de si, no espelho, é a mesma que os outros estão vendo. Agora sorria e perceba como tudo se transforma à sua volta.
O sorriso é uma arma importante na conquista; será importante você cultivar a vontade de sorrir, pois a incapacidade de sorrir é a maior das mutilações.
A maior herança que um pai poderá deixar aos seus filhos é a certeza de que muito os amou e de que sentiu-se amado. Em prejuízo de todos os bens materiais, seria meu desejo deixar-lhes essa dádiva suprema!
Antes de discutirem sobre a herança material que eu possa vir a deixar-lhes, meditem no que consegui transmitir-lhes quando juntos convivemos; se nada encontrarem, lutem entre si por seus direitos, porque de nada adiantou eu ter vivido.
Se não tiveres sensibilidade para a percepção mental e espiritual, jamais passarás dos prazeres da carne, ignorando toda a beleza da eternidade.
À medida que vamos purificando o nosso espírito, vamos transformando o nosso coração em morada do Criador.
Se agirmos com dignidade converteremos a nossa alma à perfeição.
Quando jovens vivemos para o futuro; quando avançados em anos o que nos anima são as lembranças do passado; porque nunca podemos viver no presente?
O importante em uma frase, em um pensamento, não é quem o emitiu ou a maneira que o fez, mas, unicamente, a verdade que encerra.
A verdade não está nos que nos querem dizer e sim na interpretação que tiramos daquilo que nos dizem.
Das entrelinhas dos escritos falsos podemos extrair a essência da verdade.
Quando falamos ou escrevemos damos a conhecer todo o potencial de nossa personalidade.
Ao homem e à mulher devem ser concedidos direitos iguais; existem coisas, porém, que a nenhum dos dois será lícito praticar.


W A L K Y R I A

Como, de amor, uma mensagem
A flor que eu oferecer queria
Seria a mais bela homenagem
De saudade, um pleito a Walkyria

Bruder Klein
23 de Julho de l.943!
O inverno era sentido no seu maior rigor. Um vento enjoado e cortante fazia com que todos se recolhessem às suas casas. Eram seis horas da tarde , e os pássaros, tristonhos, procuravam os seus ninhos a fim de se protegerem, para enfrentarem a noite, que como um manto negro, envolvia tudo em sombras.
Ao longe, ouvia-se um ronco de motor. Era um velho caminhão que subia a estrada acidentada, serpenteando para desviar-se das enormes valas produzidas pela erosão. No seu interior viajavam quatro pessoas: O motorista, um homem atarracado aparentando, mais ou menos, quarenta anos; uma senhora, de trinta anos presumíveis, feições severas; uma menina de dez ou onze anos, cujos olhos, lindos, demonstravam uma certa melancolia, naquele momento. Talvez motivada pelo cansaço ou por algo que passava-se em seu íntimo; finalmente, um menino de três anos de idade, cabelos alourados e encaicheados, olhos claros. Pela expressão de suas fisionomias deduzia-se terem empreendido uma longa viajem. De todos, o menino era o mais disposto; tendo dormido durante boa parte da viajem, acordava bem disposto para apreciar a chegada em Itapeva, onde, dali por diante passaria a residir. Vendo que chegavam à cidade perguntou à mãe:
- Mamãe, o papai está nos esperando?
- Sim, Zetinho, daqui a pouco você o verá.
- O Sr. Alécio veio na frente para comprar um cavalinho para o Zetinho passear - disse o motorista, em tom de brincadeira - ele me disse isso.
Depois, dando expansividade ao espírito quis brincar, também, com a menina.
- Só a Walkyria é que está muito triste, estou desconfiado que deixou algum namorado lá em São Paulo.
- Não, não deixei, Seu João, sou ainda muito nova e depois . . .nunca vou me casar!
- Todas dizem a mesma coisa, porém, quando chega a hora mudam de idéia.
- Comigo não será assim - respondeu a menina - tenho certeza.
- O namorado dela é o chinelo, pelo menos por enquanto, ela precisa, ainda, comer muito feijão, para depois começar a pensar em bobagens - disse Da. Ângela, mãe de Walkyria, ponto fim a brincadeira.
Walkyria estava lívida. Se adivinhassem o que se passava em seu íntimo, não estariam tripudiando em sua alma, em seu coração!
“Realmente”, pensava, “essa viajem, para longe de São Paulo, seria o fim de sua vida. Ao desabrochar da idade sentia-se irremediavelmente perdida por distanciar-se daquele, que pela primeira vez, havia feito pulsar o seu coração! A decisão de seu pai, de mudar-se para o interior, matara, no nascedouro, o amor que, sentia, nunca mais ser capaz de esquecer”.
Ao mesmo tempo em que Walkyria assim pensava, outro drama era vivido em São Paulo, quando um rapaz de quatorze anos, olhos verdes e cabelos castanhos, chegava em casa, em um bairro distante do centro.
- Sua benção mamãe.
- Deus te abençoe, meu filho.
Dirigiu-se ao banheiro para o seu banho e depois de vinte minutos sentava-se à mesa, onde já estavam sua mãe e sua priminha, que já jantavam. Durante o jantar o pensamento de Nielk - esse era o seu nome - trabalhava.
“A uma semana que não via a sua amada. Uma longa semana de trabalho, voltando tarde para casa o havia impossibilitado de ver, sequer de longe, aquela que era a dona incondicional do seu coração. No dia seguinte, porém, seria sábado e logo depois do almoço, quando voltasse para casa, iria passar em frente da casa dela e a veria! Não faria mal se a mãe de Walkyria lhe advertisse balançando-lhe a mão como a dizer-lhe:
- Pare de olhar para cá senão vai apanhar.
”Passaria quantas vezes quisesse, a rua era pública!”
Entregava-se a esse devaneio, alheio a tudo que passava-se à sua volta.
“Como era feliz! Que deliciosa embriaguez lhe provocava aquele primeiro amor! Sentia ser, para sempre, a razão de sua vida e se o perdesse não seria capaz de resistir!”
Sua priminha chamou a sua atenção.
- Sabe, Nielk . . .aquela família vizinha . . .a Walkyria?
- Sim, o que é que tem? perguntou Nielk , “desinteressado”.
-. . .eles mudaram.
Se lhe tivessem anunciado ter desprendido-se a abóbada celeste e que estava prestes a ser esmagado, não teria sido tão forte o choque recebido! Nielk quase desfaleceu e a custo conteve-se, tentando esconder, dos demais, o que passava-se consigo.
À dona Lourdes não passou despercebido o drama que atormentava seu filho, porém, Verinha, alheia a tudo que se passava, continuou:
- Sabe, titia, a Walkyria era namorada do Nielk, ela me falou um dia.
- Não fale bobagem, menina, repreendeu Da. Lourdes.
- Eu nunca pensei nisso - mentiu Nielk - só conversava com ela às vezes em que o irmãozinho dela fugia de casa para vir conversar comigo. Então ela vinha buscá-lo. Ele gostava muito de mim.
-É, disse Verinha, quem mandava ele fugir era ela, para poder vir buscá-lo e conversar com você. Não era só o Zetinho que gostava de você, ela também gostava.
Essa revelação descontrolou ,ainda mais, o espírito já descontrolado do rapaz. Pediu licença e retirou-se para o seu quarto. Lá, sozinho, entregou-se completamente à sua dor.
“Que angústia sentia! Por acaso a Walkyria estaria sentindo o mesmo que ele? Não, não era possível! Se gostasse ao menos um pouco dele teria deixado algum endereço! Lembrou-se que ela contava apenas onze anos! Era, ainda, uma criança! Ele mesmo, sendo homem e tendo três anos a mais que ela, talvez não tivesse tido a iniciativa! Revoltava-se contra a sua timidez. Não fora ela e teria conversado com Walkyria; entre eles teria havido um entendimento e, nesse momento, talvez, ele saberia onde encontrá-la. Porém, se nunca falara de amor, como ela poderia imaginar os seus sentimento? Essa duvida o esmagava. Possuía apenas um nome :Walkyria - seria assim mesmo que se escrevia? Assim, como . . ..poderia encontrá-la? Nem, ao menos, sabia o seu nome completo. Teria de dar um jeito de encontrá-la!
. . . passaram-se quatro meses
Em uma tarde de sábado, em que se dirigia para um campo de futebol, próximo à sua casa, Nielk encontrou-se com o negro Gonçalo. Imediatamente reabriu-se-lhe a ferida, ainda não cicatrizada. Gonçalo havia trabalhado, muito tempo, na fábrica onde o pai de Walkyria era gerente; talvez ele lhe fornecesse alguma informação!
- Como vai, Gonçalo? a quanto tempo não o vejo.
- Bem, obrigado, e você?
- Eu estou bem. Onde você tem andado?
- Estou residindo no interior - respondeu Gonçalo - fui trabalhar em Itapeva, com o Sr. Alécio. Aquele que era seu vizinho, lembra-se?
- Sim, o filhinho dele ia sempre lá em casa.
- Amanhã volto para lá - continuou Gonçalo - vim só visitar minha mãe. De quando em quando tenho que vir ver a velha, matar saudade. Até outro dia, Nielk
- Até outro dia, Gonçalo.
Nielk gostaria de perguntar por Walkyria, saber mais alguma coisa, porém, não teve coragem. Só com o que havia conseguido já irradiava de felicidade. Era como se já houvesse encontrado a sua amada. Saber para onde ela havia ido era um grande passo! Não sabia se o lugar era perto ou longe mas isso não importava, chegaria lá! Agora, já antegozava a alegria de reencontrar aquela que era a razão de sua vida.

E o tempo passava!

Os projetos de Nielk não eram fáceis de serem realizados. Sendo órfão de pai, era obrigado, juntamente com seu irmão mais velho, prover às necessidades da casa. E depois, como poderia fazer uma viajem? Que explicações daria à sua mãe? Era difícil concretizar o seu sonho, porém ele acarinhava-o, tendo a certeza de algum dia realizá-lo.
Mais três anos passaram-se. Nielk contava dezessete anos e chegou o dia a tanto esperado. Parecia ter-se passado um século! Simulou ir passar uns dias das férias com o seu colega Walter, que se mudara para Jundiai e foi diretamente para Itapeva. Sua mãe dera-lhe consentimento para viajar.
Tomou o trem na Estação da Estrada de Ferro Sorocabana, viajando em um vagão de segunda classe, sem as mínimas condições de conforto; parecia-lhe, porém, cavalgar em uma nuvem divina. As horas transcorreram rápidas, embalado que estava pelo seu sonho maravilhoso.
Via-se frente a frente com Walkyria; como ela deveria estar linda! Havia-se passado tanto tempo! Será que ela lembraria dele? Tinha a certeza que sim! Assim mesmo, simularia um encontro casual. Depois que a localizasse se apresentaria e sondaria os seus sentimentos. Se ela não manifestasse sentimentos iguais aos seus, também nada diria. Isso seria o seu fim e não desejava admitir nem por hipótese. E se não a encontrasse? Afinal de contas sabia unicamente o seu primeiro nome e não poderia sair perguntando pela cidade se a conheciam!
O trem chegou à estação eram dezoito horas. Tomou um táxi e pediu que o mesmo o conduzisse à cidade que deveria distar uns três quilômetros.
- Onde posso me hospedar? perguntou ao motorista.
- Bem, posso levá-lo no Hotel Itália. Lá os quartos são muito bons e a comida é ótima, de primeira, informou o motorista.
- Está bem, pode levar-me para lá.
- O Sr. não tem parentes aqui? quis saber o motorista.
- Não, eu nasci e criei-me em São Paulo e todos os meus parentes residem lá, respondeu Nielk.
- Então . . .o Sr. veio passear aqui! Não vai ter muito que ver nesta cidade estagnada. Isso por estar nas mãos de meia dúzia de pessoas. Eles estão bem e não ligam para o trabalhador, a quem o progresso da cidade seria fundamental. Se o governo pegasse essas terras que não são aproveitadas e dividisse para quem deseja trabalhar, a cidade, em pouco tempo, cresceria!
Estavam, já, entrando na cidade, que ficava aquém da imaginação de Nielk . Umas poucas ruas estreitas ladeadas por construções seculares. Uma Praça (Anchieta) onde se erguia a igreja local. Esta deveria ser mais antiga de que a maioria das construções que circundavam a praça.
O táxi percorreu algumas ruas e virando à esquerda, em sentido contrário ao caminho que levava à praça, e foi parar na frente do hotel. O motorista acompanhou Nielk até a portaria, levando-lhe a mala; recebendo o preço da corrida, retirou-se.
Na portaria foi recebido pelo proprietário do hotel; um senhor de descendência italiana, calvo, com rosto avermelhado, que ostentava um sorriso nos lábios
- Seja bem vindo ao Hotel Itália, jovem, esperamos que a sua permanência seja longa.
- Não sei quantos dias ficarei aqui. Penso que não muitos dias, tudo depende da realização dos meus projetos. Terei que voltar a São Paulo o mais breve possível.
O hoteleiro deu uma ficha a Nielk e este a preencheu: Nielk Jowla Rimidalw, procedente de São Paulo; residente à Rua Voluntário Delmiro Sampaio, 462 - Santo Amaro.
Em seguida foi conduzido ao quarto numero 14. O primeiro do corredor, à esquerda. Tomou um banho e depois de tomar apenas um copo de leite que pedira ao hoteleiro, deitou-se e adormeceu, pensando no que poderia lhe acontecer no dia seguinte.
Acordou, no dia seguinte, com o repicar dos sinos. Era domingo e os fieis eram chamados para assistirem à missa. A princípio assustou-se, parecia-lhe estar sonhando, porém reencontrou-se logo e saltou da cama. Tomou banho e aprontou-se para ir à missa. Quase nem tomou café, tal era a sua ansiedade de tudo conhecer e tentar realizar o sonho de a tanto tempo acalentado.
Saindo do hotel, andou um quarteirão e encontrou-se na Praça Anchieta, atravessou-a e penetrou na igreja. Ao transpor a porta de entrada fez um pedido íntimo:
“Padroeiro desta cidade, fazei com que se cumpra o meu desejo e eu encontre aquela que é a razão da minha vida, da minha existência!”
A igreja estava lotada e Nielk ficou em pé, bem atrás, de onde podia ver tudo; dali assistiu à missa. Quando o padre encerrou a cerimônia e os fieis começaram a se retirar, Nielk não se moveu; era uma ótima oportunidade para examinar as pessoas que saiam. Talvez Walkyria estivesse ali. Tudo em vão! Não conseguiu divisar nenhum rosto conhecido. Ele sim, era notado como pessoa estranha no lugar. Essa foi a sua primeira decepção, o que o fez pensar que Deus não fizera soar a hora do reencontro. Continuaria procurando e que fosse o que Deus quisesse!
Saindo da igreja andou pela cidade tomando conhecimento da localização do cinema, de diversas escolas e do campo de futebol. Realizar-se-ia, à tarde, um jogo que era comentado por todos. Talvez lá . . . (não queria precipitar-se, antecipar) pensou; talvez lá viesse a encontrar o preto Gonçalo. Ele deveria ainda morar lá e se assim fosse seria bem possível que estivesse assistindo à partida de futebol.
Nielk almoçou ao meio-dia e como o sol estava muito intenso, resolveu deitar-se um pouco e descansar. Às 14,00 horas levantou-se e saiu do hotel, dirigindo-se para o campo de futebol. O movimento era intenso. A todo instante chegavam caminhões lotados que traziam, das fazendas, homens, mulheres e crianças. para assistirem à peleja.
O jogo começou e o entusiasmo era geral. Uma torcida louca a favor de time local que terminou por vencer o adversário por 3X2; o adversário também contava com um ótimo conjunto de craques.
Nielk, embora gostasse de assistir a uma partida de futebol, quase não prestava atenção aos lances. Distraia-se a percorrer o campo, na ânsia de deparar com um rosto conhecido, que lhe abrisse uma esperança. Nada, porém! Outra decepção somou-se à que havia sofrido pela manhã. Agora só restaria o cinema; ela deveria ir! Sendo domingo, imaginava que seria o melhor dia para encontrá-la. Tomou um lanche no hotel e saiu a passear pela praça, aguardando a hora do início da sessão cinematográfica. Antes do início já se postava à porta do cinema, ficando ali até as luzes começarem a apagar-se, quando resolveu entrar, imaginando que ela pudesse ter entrado sem ele perceber. Ao terminar o espetáculo, quando Nielk dirigia-se para o hotel, estava desalentado; uma angústia oprimia-lhe o peito e imaginava que nunca a encontraria.
N dia seguinte levantou-se cedo e foi ficar em frente ao colégio alimentando novas ilusões. De desilusão em desilusão viu passarem-se os dias percorrendo todos os recantos da cidade, sem conseguir lograr o seu objetivo. Depois de oito dias, quando esgotaram-se as suas esperanças, tomava o trem de volta para São Paulo. Terminava, assim, um triste capítulo de sua existência. Chegara ali com o coração cheio de esperança e se retirava mais amargurado do que nunca . . .
Dali por diante Nielk foi acometido de uma apatia por tudo. Nada o interessava! Gravou-se-lhe uma idéia fixa passando a, inconscientemente, procurar a quem dedicou todo o seu amor. Aquela lembrança alojou-se no seu subconsciente que o obrigava flertar com todas as moças que encontrava, na louca procura daquele amor que perdera na adolescência. Os seus flertes eram sem maiores conseqüências, uma vez que logo caia na realidade, percebendo não ter encontrado a pessoa querida. Um desses flertes foi de maiores conseqüências traindo o próprio consciente.
Nielk passava pela rua onde havia residido ao tempo de criança e chegando no meio do quarteirão, encontrou-se com uma moça em companhia de um menino, o que o impressionou profundamente. Ela sorriu-lhe ao passar e a sua imaginação volveu no tempo, e deu-lhe a nítida impressão de ter Walkyria à sua frente, com o Zetinho, seguro pela mão...O seus subconsciente ganhou na luta com o consciente e ele atirou-se à conquista.
- A Senhorita me permite uma pergunta?
- Pois não, respondeu-lhe ela.
- A pouco tive a impressão de conhecê-la e, embora haja constatado o contrário, sou obrigado a admitir que fiquei impressionado, me simpatizei muito com a Senhorita. Gostaria de saber . . . mora a muito tempo neste bairro?
- Não, respondeu a jovem, eu estou de passeio aqui. Estou em casa de meu irmão que reside a dois meses aqui e é gerente do Banco Continental, este é meu sobrinho. Eu resido em Bauru, com meus pais.
- Meu nome é Nielk Jowla Rimidalw, apresentou-se o rapaz, gostaria de ter o prazer de encontrá-la novamente.
- Confesso que o prazer seria mútuo. Meu nome é Jamile Rocha. Meu irmão chama-se Luiz Rocha e reside à Rua Anchieta, 2.348. Ele não é muito severo e se quiser aparecer lá?
- É certo que passarei. Amanhã, está bem? Eu passarei por volta das 20,00 horas.
Despediram-se e Nielk exultava de contentamento. O seu subconsciente atirava-o nos braços de Jamile fazendo-o confundi-la com Walkyria.
No dia seguinte o serviço no escritório transcorreu maravilhosamente. Fazia tempo que Nielk não produzia tanto! Entregava-se ao trabalho com a alegria imensa desejando que o tempo passasse rápido.
Às 20,00 horas estava em casa de Jamile que o apresentou ao seu irmão e à sua cunhada Carmem. Passou, desde então, a freqüentar a casa e a respirar aquele ar de felicidade. Joãozinho, sobrinho de Jamile afeiçoou-se de tal maneira a Nielk que não o deixava, a cada vez que ia a sua casa. Jamile que viera passar apenas quinze dias com o irmão, prolongou a sua estadia.
Um dia, porém, o inevitável teria de acontecer. Jamile era professora em sua cidade e as aulas brevemente iriam recomeçar. Nielk acompanhou-a à estação e quando dela se despediu, prometeu-lhe fazer uma visita na primeira oportunidade. Quando o trem se afastava e Jamile acenava-lhe com um lenço, Nielk sentiu reviver toda a sua antiga angústia, sendo necessária toda a sua fibra para que não rompesse em soluços. Sentiu no peito a mesma opressão que havia sentido quando, a anos atrás, sua priminha lhe falara: “Nielk, você sabe aquela família . . . a Walkyria . . . eles mudaram . Antes de completar um mês, da partida de Jamile, Nielk desembarcava em Bauru. A saudade que sentia não lhe permitiu maior demora. Jamile não se conteve de felicidade, quando, à noite, ele apresentou-se em sua casa. Apresentou-lhe seus pais, dois velhinhos simpáticos, que já conheciam Nielk através das referencias de Jamile e das informações de Luiz.
Diversas vezes Nielk viajou para Bauru, até que dezoito meses depois casava-se com Jamile.
Depois de uma rápida lua de mel na Cidade Maravilhosa, voltaram para instalarem-se em Bauru. Nielk pedira transferência para a filial da firma para a qual trabalhava, não querendo que sua esposa se afastasse de seus velhos pais. Ali viveram até l.960, ano em que faleceram os pais de Jamile. Nada mais os prendia ali e Nielk aceitou uma proposta para voltar a trabalhar em São Paulo.
Instalaram-se em Santo Amaro onde continuaram a trajetória feliz, em companhia dos filhos do casal: Jair e Célia. Nielk assumiu o cargo de diretor da “Ordene” - “Organização de Negócios”, e Jamile, que adorava o magistério, passou a lecionar no Grupo Escolar Paulo Ribeiro.
Cícero Aguiar, diretor desse estabelecimento de ensino, sempre desenvolvera uma vida pacata. Muito estudioso, era tido como exemplo de perfeição no que dizia respeito ao ensino. Contava nessa época, trinta e cinco anos e se não era rico tinha o suficiente para não necessitar se preocupar com o futuro. A par de sua capacidade intelectual, Cícero, possuía um elevado padrão moral. Tudo, para ele, deveria ser filtrado pelo bom senso. Isso o levou aos trinta e cinco anos sem contrair matrimônio, embora já tivesse noivado algumas vezes.
Ao conhecer Jamile, Cícero ficou profundamente impressionado com a sua beleza e foi, mesmo, acometido de intensa paixão. Estava ciente que não poderia fraquejar para que não viesse a macular um lar. Em que pesasse tudo isso, não resistiu fazer represar-se aquele sentimento de solidão que a tanto tempo estava reprimindo em seu peito. Sempre respeitara as convenções sociais, mas agora que encontrava a eleita do seu coração, esses valores já não lhe pareciam tão importantes. Poria de lado essas tolices e lutaria pelo seu amor, transpondo os obstáculos e só desistiria se encontrasse resistência por parte de Jamile. E se tal ocorresse poria fim aos seus dias.
Ao mesmo tempo em que Cícero debatia-se numa verdadeira revolução de princípios, outro drama se passava na alma de Nielk. Durante muitos anos transferira para o subconsciente, a imagem de Walkyria e ao voltar a viver em Santo Amaro, essa imagem revivia em sua mente e renascia em seu coração o amor que a tanto tempo encontrava-se recalcado. Ao passar pelo local onde a havia conhecido, revivia toda a sua angústia, sentindo ter gasto a sua vida na inconsciente procura da amada. Já não sentia amor por Jamile e percebia que o casamento, para ele, fora uma fuga. Ao casar-se com Jamile havia sido traído pelo seu subconsciente que havia projetado, nela, a imagem de Walkyria. Que farsa covarde lhe havia pregado o destino!
Os dias passavam-se e cada vez mais se acentuava o deprimente estado de alma de Nielk. Precisaria tomar uma atitude que o libertasse dessa angústia, sem magoar o coração sensível de Jamile, a quem estimava muito, não sendo capaz de causar-lhe um desgosto.
Um dia em que esperava a esposa, na secretaria da escola, ocorreu-lhe uma idéia, que não imaginara antes. Walkyria fora aluna do curso primário daquele estabelecimento e, se conseguisse saber mais alguma informação, algum detalhe sobre ela, isso facilitaria encontrá-la. Imediatamente tratou de aproveitar a sua idéia.
- Sr. Rafael - dirigiu-se ao secretário - tenho interesse de adquirir alguns detalhes sobre uma família minha conhecida e o Sr. poderá me ajudar.
- Pois não, Sr. Nielk, no que puder ajudar estarei às ordens.
- Trata-se de uma família que foi minha vizinha no tempo de criança. Mudaram-se a muitos anos e nunca mais tive noticias. Eram pessoas a quem dedicava muita amizade, razão porque teria muito prazer em encontrá-los. A única indicação que tenho é que uma das filhas esteve matriculada neste Grupo em 1.943, mais ou menos. Ela chamava-se Walkyria, o pai Alécio e a mãe Angela. Residiam `Rua Voluntário Delmiro Sampaio.
- Não deve ser difícil, disse o secretário, não devem haver muitas pessoas com esse nome.
Dirigiu-se a uma estante e apanhou alguns livros de matrícula aos quais passou a folhear. Nielk aguardava o resultado daquela pesquisa com o coração a pular-lhe no peito. Se houvesse tido essa idéia a vinte anos atrás, na certeza teria encontrado a sua amada , na primeira vez que fora a Itapeva!
Se não tivera essa inspiração, com certeza não havia chegado a hora.
- Aqui está, disse o secretário, sim, deve ser este!
Nielk, que acompanhava, viu o dedo do secretário percorrer a linha onde se lia: Walkyria da Silva Coutinho, nascida no Acre, no dia 14 de agosto de l.932; filha de Alécio Coutinho e Ângela da Silva Coutinho. Residente à Rua Delmiro Sampaio, 473.
- É esse mesmo, disse Nielk.
O secretário tomou um pedaço de papel, anotou os dados e entregou o papel a Nielk. Este guardou-o no bolso, agradeceu ao funcionário. Nesse instante tocava a campainha que encerrava o período e ele retirou-se para encontrar-se com a esposa. Estava exultante de contentamento por possuir, agora, dados concretos, que possibilitariam encontrar Walkyria. Jamile notou o seu ar de felicidade.
- O que aconteceu, viu algum passarinho verde? falou sorrindo
- Não, porque?
- Você está com uma fisionomia feliz! Tem andado esquisito ultimamente!
- É que realizei uns bons negócios para a firma, mentiu Nielk, e isso me faz satisfeito. Hoje iremos fazer um programa diferente, iremos jantar fora e , talvez, dançar, para comemorarmos.
À Jamile, também, estava acontecendo algo surpreendente. Um sentimento que a vinha torturando desde o dia em que conhecera Cícero. Não queria admitir, mas era certo que estava apaixonada por aquele homem que lhe causara tão forte impressão. Jamile vivera no interior, apegada aos seus pais, a quem amava muito, nunca pensando em casamento, nem namorados tivera, até o momento em que conheceu Nielk; fora ele o seu primeiro namorado e depois de pouco mais de um ano estava casada. Fora relativamente feliz, desde então, dividindo a sua atenção entre o marido, os filhos e seus velhos pais, em uma vida tranqüila, não tendo tempo de raciocinar sobre os seus verdadeiros sentimentos. Ao conhecer Cícero, que lhe causou tão forte impressão, começou a pensar se acertara ao casar-se com Nielk; na verdade não o amava, sentindo unicamente um grande afeto e respeito por ele. O seu coração, só agora despertava para o verdadeiro amor. Agora era tarde demais!
Nielk, por sua vez, dispunha-se a viajar para Itapeva. Antes de fazê-lo, procurou informar-se no Departamento de Policia e no Departamento do Trabalho, para certificar-se de que Walkyria não havia sido identificada em São Paulo, pois era bem provável que houvesse voltado para a Capital. Sendo negativa a sua pesquisa, o mais certo seria que ela continuasse a residir no interior.
No dia 12 de Novembro de 1.962, Nielk falou à esposa sobre a “necessidade” de viajar “a negocio”.
- Jamile, tenho necessidade de viajar para fechar um negocio fora de São Paulo e pretendia aproveitar o fim de semana prolongado para viajar. O dia 15 é feriado e cai na 5ªfeira; eu, iniciando as conversações nesse dia poderei concluir na 6ªfeira logo voltando para São Paulo. Assim não terei de me afastar do escritório por muitos dias.
- Você esqueceu-se que justamente nesse fim de semana terei de viajar para participar do Primeiro Congresso do Ensino, que realizar-se-á no Rio de Janeiro?
- De fato havia me esquecido! Mas eu poderei levar as crianças para a casa de mamãe, em Santos. Assim nós viajaremos ao mesmo tempo, sem a necessidade de duas separações!
Jamile baixou a cabeça, escondendo a emoção que essas palavras lhe causavam. A verdade é que Nielk também sentia um constrangimento!
Eram quase 5 horas da manhã, do dia 15 de Novembro, quando o ônibus entrava na cidade de Itapeva. Saíra de São Paulo às vinte e uma horas do dia anterior, viajando a noite toda. Em seu interior viajava Nielk. Em seu coração alimentava as mesmas esperanças da sua primeira estada ali. Agora mais ainda! Possuía o nome completo de Walkyria e o de seus pais. Não sabia, ainda, como chegaria a falar com ela. Nem queria pensar nisso! Quando chegasse o momento tudo se resolveria por si mesmo. Só um cuidado deveria ter, não comprometer o nome de sua amada. Resolveu que perguntaria pelos seus pais em primeiro lugar. Assim, se por acaso ela estivesse casada, poderia contornar a situação.
Desceu do ônibus na esquina do Hotel Itália. O sol principiava a se elevar no horizonte, anunciando um dia maravilhoso. Um arrepio percorreu o corpo de Nielk, quando, ao descer do ônibus, foi atingido pelo frio da madrugada. A cidade toda dormia, ouvia-se apenas o cantar dos galos. Deu alguns passos e viu-se na porta do hotel que encontrava-se fechada. Tocou a campainha e esperou por alguns minutos. Não obtendo resposta, tocou novamente; mais alguns minutos de espera e ouviu um arrastar de chinela, seguidos por ruído de tramela, e a porta abriu-se. Deparou com uma negrinha, baixa, magra, de uns trinta anos, que sorriu para ele.
- Bom dia. O Sr. chegou no ônibus? desculpe por ter demorado a abrir a porta. Estava preparando o café.
- Não tem importância, a demora não foi muita.
- Queira entrar, disse a empregada do hotel, afastando-se para deixar o caminho livre.
Nielk adiantou-se, atravessou, em poucos passos, o corredor e entrou na sala, tendo a negrinha no seu calcanhar.
- Meu nome é Nielk. Já estive hospedado neste hotel há alguns anos atrás. Desejo um quarto para ficar alguns dias. Não sei quantos, exatamente.
A moça apanhou uma chave do quadro e se adiantou para o lado do corredor, abrindo a primeira porta à esquerda. Era o quarto nº14. O mesmo que ocupara da outra vez! Um mau pressentimento tomou conta da mente de Nielk. De sua outra estada ali, entrara naquele quarto, com o coração cheio de esperança e quando saiu, depois de uma semana, estava vencido pela desilusão. Ficou com vontade de pedir outro quarto, mas a sua superstição não tinha cabimento. Balançou a cabeça, como para afugentar os maus presságios e entrou.
Dentro do quarto abriu a valise e separou um traje esportivo e rumou para o banheiro. Em alguns instantes, já pronto, foi para a sala tomar café.
Eram 7 horas quando Nielk deixou o hotel. Em alguns passos alcançava a Praça Anchieta. Quase o mesmo aspecto de aproximadamente 20 anos! Estavam reformando a praça, estando toda cercada com arame farpado. Ao lado da igreja havia uma construção nova. único marco de progresso em uma cidade que parecia ter parado no tempo. Nielk leu na fachada do prédio: CLUBE DE LEITURA ITAPEVENSE. A existência de um clube de leitura demonstrava a preocupação com que era dotada a população da cidade, preocupando-se com a cultura. E um povo que antes de mais nada preocupa-se com a cultura, está construindo um trampolim para o progresso e era digno de todo o respeito e admiração. Sentiu uma profunda afeição por aquele povo. Sentia-se, naquele momento,
como se houvesse nascido naquela cidade; como se fizesse parte daquela terra. Terra tão querida e que estava tão solidamente ligada ao seu destino. Pois não era ali que vivia a tantos anos aquela que era a eleita do seu coração?
Nielk, abandonando as conjecturas, entrou na igreja. A situação era bem diferente da ultima vez que ali estivera. Haviam poucas pessoas (umas senhoras de idade avançada) assistindo à missa. Ele ajoelhou-se e proferiu uma oração:
“Pai! Talvez não seja lícito o que estou fazendo. Não sou livre e não tenho o direito de esquecer os sagrados compromissos e vir a procura de acontecimentos que poderão colocar em risco a segurança da família. Porém, o que sinto é superior às minhas forças. Esta angústia que me dilacera a alma precisa ser aplacada e isso só acontecerá no dia em que reencontrar Walkyria. Para bem ou para mal, não tenho forças para lutar contra essa obsessão. Creio, Oh! Pai, na tua infinita graça para que tudo se resolva sem o perigo de se abrirem feridas profundas naqueles que me são caros. Confio em Ti Oh! Pai! e me conformarei com a resolução da Tua infinita sabedoria!”
Nielk levantou-se profundamente comovido. Com lagrimas nos olhos, retirou-se da igreja. Estava desorientado. Sendo feriado e as escolas estando fechadas, não tinha noção de como procurar, conseguir alguma informação. Ao conseguir, no Grupo Escolar Paulo Ribeiro, as informações, que agora possuía, a sua primeira idéia fora procurar, também, obter informações nas escolas de Itapeva. Sem dúvida nenhuma, quando para ali mudou-se, a menina deveria ter sido matriculada em alguma escola para continuar os estudos interrompidos pela mudança. De posse do primeiro endereço dela, na cidade, poderia conseguir localizá-la, mesmo que houvesse mudado. Sendo feriado e as escolas estando fechadas, não poderia obter a informação desejada. Só lhe restava, portanto, andar pela cidade e contar com a sorte para encontrar-se com Walkyria, ou com seus pais, que apesar de terem se passado muitos anos, naturalmente seriam reconhecidos.
Parecia que o destino conspirava contra Nielk e fazia repetir-se os mesmos acontecimentos que haviam transcorridos no primeiro dia de sua estada ali, quase vinte anos antes. Passou o dia assistindo a um jogo de futebol, andando pela cidade (passeou até pelo cemitério) terminando o dia assistindo a um filme brasileiro que era exibido no cinema local.
No dia seguinte, sexta-feira, levantou-se cedo, tomou café e saiu. Seria o dia decisivo! Passou pela agência de passagens e reservou uma no ônibus das 23,00 horas. Se houvesse necessidade cancelaria, mas tinha a certeza de que o que não fosse resolvido nesse dia não o seria nos restante da semana, e talvez nunca mais.
De informação em informação, chegou ao magnifico prédio do Instituto Barão de Itapeva. Um maravilhoso prédio de linhas arquitetônicas majestosamente delineadas. O Instituto possuía, desde o Jardim da Infância até os cursos Normal, Clássico e Cientifico. Evidenciava-se, mais uma vez o nível intelectual do povo itapevense.
Apresentou-se no balcão sendo atendido por uma funcionária.
- Senhorita, fui informado que os arquivos de outras escolas foram transferidos para cá. Necessito obter uma informação referente a uma pessoa que mudou-se para esta cidade
a 20 anos atrás. Essa pessoa tinha uma filha que deve ter sido matriculada, naquela ocasião, em uma escola local. Gostaria de descobrir o endereço que possuía a fim de tentar localizá-los.
- Creio podermos fornecer-lhe a informação, porém neste momento não é possível. O funcionário responsável pelo arquivo só virá à tarde. Se o Sr. puder voltar depois das 14,00horas, na certa terá a informação desejada.
- Pois não, voltarei a essa hora.
Nielk deixou o local contrafeito. Não contava com isso! Essa informação era a base para as suas investigações! A espera o enervava. Passou pela redação da “Folha do Sul” e comprou um exemplar da semana; pediu, também, que lhe arranjassem os exemplares do mês de agosto e percorreu a coluna de aniversários para ver se encontrava o nome de Walkyria. Nada! Dirigiu-se à Companhia Telefônica e solicitou a lista de assinantes local. Talvez encontrasse o nome do Sr. Alécio Coutinho. Mais uma decepção! Lembrou-se do correio. Sim! Eles deveriam receber correspondência! Lá, com certeza, poderia conseguir alguma informação. Indagou sobre a localização da agência e dirigiu-se para lá. Acercou-se do guichê e pediu a informação. O funcionário repetiu o nome várias vezes, puxando pela memória.
- Família Coutinho . . .não, não conheço - e virando-se para trás -Luiza, você conhece a família Coutinho?
Luiza, uma moça de uns trinta anos, mais ou menos, fisionomia simpática, que prestava atenção à conversa, adiantou-se para ver quem estava procurando a informação. Dirigiu um sorriso, ao desconhecido para si e perguntou:
- Alécio Coutinho? Possuía um casal de filhos?
- Sim, é isso mesmo.
- Mas eles não moram mais aqui! O filho dele casou-se com uma moça daqui. Não me lembro mais de que família. A filha . . .como é mesmo que chamava?
- Walkyria, emendou Nielk.
- Isso mesmo. Eles mudaram-se daqui, fazem uns três anos. Foram para São Paulo. A Walkyria, me parece, trabalha nas lojas Matos, ou na Serve Bem - e dirigindo-se ao seu colega - o Sr. Alécio trabalhava na caldearia do Sr. Dela Rue. Talvez ele possa fornecer alguma informação - voltando-se para Nielk - o Sr. Dela Rue passa tempos aqui e tempos em São Paulo. Quando está aqui fica em uma pensão na Rua D. Luiz, bem em frente ao mercado em construção.
Nielk agradeceu efusivamente. Estava eufórico!
‘ - Muito obrigado, essas informações foram valiosas para mim.
Já sabia onde ficava o mercado. Em suas andanças passara por lá. Tratava-se de uma construção paralisada, onde muitas famílias pobres aproveitavam como residência. Encontrou a pensão indicada e pediu a informação:
- Gostaria de falar com o Sr. Dela Rue.
- Ele não reside aqui. Reside em São Paulo. Dificilmente está vindo para cá.
O Sr. sabe o endereço dele em São Paulo?
- Também não sei informar, não senhor, trata-se de um homem um tanto esquisito. Não tem família, vive sozinho e não dá satisfação a ninguém.
Nielk agradeceu ao homem e voltou para o hotel. Agora nada o prendia mais ali. Era só esperar a hora de embarcar para São Paulo. O relógio marcava doze horas, faltavam onze horas para o embarque. Não voltaria ao Instituto Barão de Itapeva uma vez que de nada adiantaria a informação que pudesse obter ali. Almoçou e deitou-se para ver se as horas passavam mais rapidamente.
Voltemos ao dia 14 de Novembro para nos encontrarmos com Jamile. Nesse dia, às 9,00 horas da manhã ela dirigiu-se ao Grupo Escolar Paulo Ribeiro. Exatamente às 9,30 horas penetrava no gabinete de Cícero. Este ao vê-la, levantou-se indo ao seu encontro , segurando-a pelas mãos levou-a a sentar-se em um sofá acomodando-se ao seu lado. Jamile, profundamente comovida disse-lhe:
- Não sei se o que vamos fazer está direito! Corremos ao encontro da felicidade e poderemos cavar a nossa própria desgraça.
- Não se preocupe, Jamile, tudo vai dar certo, confie em mim. nós nos amamos e temos o direito à felicidade. Nielk terá de compreender. Você escreveu-lhe a carta?
- Sim, escrevi. Ele viajou para Santos para deixar as crianças na casa da mãe dele. Só voltará à tarde e irá diretamente para Itapeva, sem voltar para casa. Sé encontrará a carta na sua volta da viajem . . .Entre nós terá que transcorrer tudo como combinamos!
- Está certo, Jamile!
O que estaria para acontecer? O destino brincava com os sentimentos dessa gente, enredando-os em um torvelinho de ilusões!
Às 18,00 horas desse dia, Jamile e Cícero partiam para o Rio de Janeiro, juntamente com outros professores, para participarem do 1º Congresso do Ensino.

. Enquanto o destino implacável tece a sua teia, façamos um suspense para voltarmos para onde deixamos Nielk.
Às 19,00 do dia 16, depois do jantar, liquidou a conta do hotel e despediu-se. Passou pela agência de ônibus deixando ali a sua valise e em seguida dirigiu-se para o cinema. Precisava preencher aquelas horas que faltavam para o embarque.
Às 23,00 horas, meia hora depois de ter chegado à agência, era informado, juntamente com os demais passageiros, que haveria um atraso no embarque. Havia caído uma ponte na estrada Itararé Itapeva e o ônibus teria de dar uma enorme volta. A espera for angustiante! O ônibus só chegou às 4,00 horas da manhã. Dai por diante tudo correu normalmente e às 12,00 horas do dia 17, desembarcava na estação rodoviária de São Paulo. Não foi para casa; dirigiu-se para o escritório na Rua 23 de Maio, Jamile não estava em casa, seus filhos estavam em Santos, em casa de sua mãe, não adiantava ir para casa para ficar sozinho Almoçou e jantou no Restaurante do Titio e foi a um cinema à tarde e em outro à noite. Era quase meia-noite quando chegou em casa. Como era triste uma casa vazia! Nunca gostara de ficar sozinho; a solidão mexia-lhe com os nervos! Colocou u disco na vitrola e preparou uma bebida. Quase não bebia, mas nesse momento o copo seria uma boa companhia para a sua solidão! A sua situação tanto econômica como financeira eram ótimas, parecia-lhe nada faltar! Porém nunca conseguira retirar do peito aquela angústia plantada no dia da partida de Walkyria. Sentia que não evoluíra emocionalmente. Que aquele episódio de seus 14 anos prejudicara o seu desenvolvimento. Psiquicamente ainda era um menino de 14 anos, comprazendo-se em conservar aquela dor espiritual.
Era uma hora da manhã quando se dispôs a ir dormir. Quando deitou-se lembrou que esquecera de apagar a luz. Acendeu a luz do abajur de cabeceira, levantou-se e apagou a lâmpada do teto. Percebeu, nesse instante, haver um envelope sobre a camiseira. Apanhou-o e deitou-se. No envelope estava o seu nome; a letra era de Jamile, conhecia bem! Não abriu imediatamente, preocupado que estava com suas conjecturas:
“Felicidade é um estado de alma que nunca conseguimos alcançar; é um estágio que jamais a alma humana conseguirá vislumbrar. É uma miragem! Quando estamos prestes a alcançá-la se desfaz diluindo-se no espaço. Logo depois surge novamente para desaparecer tão logo desejamos alcançá-la. Como os ruídos que às vezes parece-nos ouvir e as imagens que nos parecem reais, são a exaltação dos sentidos, a felicidade seria a exaltação dos sentimentos! O homem debate-se durante a sua existência na procura vã de um ideal elevado. A vida, porém, é algo vazio e sem expressão. A custa de muito sacrifício é que o homem resiste ao pesado fardo da existência. Isso unicamente porque pressente que a vida terrestre é uma conveniência para a evolução espiritual. Acreditava na imortalidade da alma, assim como na reencarnação. Tinha ciência da verdade existente na lei de !Ação e Reação”, segundo a qual, tudo aquilo que nos é impingido, é uma reação direta do nosso procedimento anterior. E não só desta vida, ou deste estágio e sim de toda a vida evolutiva do espírito. Todo o acontecimento mau que nos acorre é a contrapartida de nossas ações más. Da presente existência ou das anteriores. A nossa existência, através das diversas fases de evolução é uma verdadeira contabilidade por partidas dobradas. Não é possível existir uma conta devedora sem a correspondente credora.”
Durante muito tempo Nielk divagou, até que caiu em si e viu-se com a carta na mão. Abriu-a e começou a ler:

São Paulo, 14 de Novembro de 1.962

Caro Nielk

Depois de tentar em vão fazer calar o meu coração. Depois de tentar fazer prevalecer a razão ao coração, vejo-me completamente desamparada; Não sinto mais forças para resistir e entrego-me à evidência dos acontecimentos. Acontecimentos que se desencadeiam como um castigo de Deus e nos ferem. E conosco outras pessoas a quem eu deveria, e desejo mesmo, evitar qualquer mágoa.
A você, também, não desejaria causar o mal que sei que vou causar! Muito devo a você. A dedicação que você sempre endereçou a mim e que foi extensiva aos meus pais, que tanto amei em suas vidas e a quem venero depois da morte. A longa dedicação ao lar, aos filhos; tudo isso torna mais difícil, para mim, curvar-me à evidência. Sinto-me como um ser desprezível; um ser diabólico que causa mal a quem dele se acerca. E, verdadeiramente, devo estar possuída por um espírito maligno, para não ouvir a voz da razão e seguir as veredas inconscientes da paixão.
Nielk, estou amando outro homem! Lutei, enquanto pude, para não me entregar a um amor impossível (e ainda não me entreguei). Sentindo, porém, que falta-me forças para resistir, o melhor caminho que me resta é pedir a sua compreensão para que conceda-me o desquite e assim eu possa almejar a uma felicidade relativa. O homem a quem amo é solteiro e me ama também. Ele dispõe-se a casar-se comigo através de um consulado estrangeiro.
Ao confessar-lhe esta loucura quero dizer-lhe uma coisa: Nunca o enganei! Juro pela memória de meus pais que a esposa que você teve até a pouco, sempre lhe foi fiel. Somente depois de consumado o desquite; quando estiver casada com quem me quer como esposa, é que me entregarei a esse amor. É preferível que as coisas transcorram assim, porque, se por acaso me acontecesse de macular o seu nome eu não me perdoaria nunca. Isso me levaria a por fim à existência.
Não voltarei para casa. Depois de terminado o congresso, no qual vou participar, irei para a casa de meu irmão, em Recife, onde aguardarei a resposta ao meu desejo. Perceba, que vou para a casa de meu irmão e, só depois de acertada a nossa situação é que tomarei o rumo que o destino me traçou.
Não exijo nada. Nem teria cabimento. Fica tudo ao seu critério, inclusive o que dizer às crianças. Conheço-o bem e tenho a certeza de que suas providencias serão ditadas pela razão.

De sua esposa

Jamile

Nielk estava petrificado. Leu e releu aquela carta sem poder admitir a realidade dos fatos. Não era possível! Estava sonhando! Aquilo tirava-lhe o poder de raciocínio! Levantou-se da cama e passou a andar de um lado para outro, pelo quarto. Precisava coordenar os pensamentos! Sentia-se impotente para encontrar um saída dessa armadilha que o destino lhe havia preparado.
Engraçado ele estar pensando, havia pouco, em lei de ação e reação! Seriam, esses acontecimentos, as reações às suas ações? Mas ele não consumara ação nenhuma para ser revidado dessa forma! Pareceu-lhe ouvir uma voz: “Da existência presente ou das anteriores.” Seria possível? Teria em existências passadas, provocado acontecimentos que lhe teriam sido debitados?
Assim continuou divagando o resto da noite. Estava completamente aniquilado. O seu aspecto exteriorizava o que lhe ia na alma. Precisava, porém, confiar em Deus. Só a Ele caberia escrever a última página dessa história que mais parecia uma novela de rádio-teatro.
Dirigiu-se ao banheiro e assustou-se com o que viu no espelho. Mais parecia um cadáver!
“Preciso, pelo menos, cortar a barba, caso contrário irei assustar as pessoas.”
Voltou ao quarto, apanhou um rádio de pilha, ligou-o sintonizando a Rádio Hora
Certa e voltou para o banheiro, ouvindo a música. No primeiro intervalo o locutor deu a hora certa: Seis horas e um minuto. A música continuou. Nova interrupção e o locutor voltou a falar: -Atenção , senhores ouvintes, para uma noticia de última hora que chega, procedente de Recife . . .
Nielk aguçou o ouvido. Não que lhe interessasse, porém, a pouco havia lido “Recife” na carta de Jamile; isso deve ter-lhe chamado atenção. O locutor continuou:
- O avião de prefixo XZ956, da Interoceanica, que transportava passageiros do Rio de Janeiro para Recife, foi de encontro ao solo nas proximidades do aeroporto de Recife. E, atenção, senhores ouvintes, para mais um telegrama recebido neste instante. Recife - Urgente: Segundo informações das autoridades locais, não há sobrevivente do avião de prefixo XZ956 que foi ao solo nas proximidades do aeroporto do Recife. É lamentável, senhores ouvintes, continuou o locutor, que tantos desastres tenham ocorrido nestes últimos dias, ceifando vidas preciosas. É necessário que as autoridades abram uma severa sindicância .Urge apurar as causas dos mesmos. Será imperícia dos pilotos, ou deficiência da manutenção? Caberá aos responsáveis nos responderem. Tão logo nos cheguem novas informações transmitiremos para conhecimento de nossos ouvintes. Mantenha os seus receptores ligados na Radio Hora Certa, e acompanhem o que vai pelo Brasil e pelo mundo; Em São Paulo são exatamente seis horas e vinte minutos.
A música continuou. Nielk já havia se cortado em vários lugares, tal era o seu nervosismo. Terminando de cortar a barba começou . . .
Novamente foi interrompida a música e o locutor voltou a falar: Atenção, senhores
ouvintes, para a lista de passageiros do avião prefixo xz956 da Interoceanica que foi ao solo próximo ao aeroporto do Recife. Antes vamos repetir os telegramas anteriores. Passou a repetir as noticias que Nielk já havia ouvido antes. Este parou para aguardar o último telegrama, e ele veio . . .são os seguintes os passageiros que perderam a vida : Andrs Klark, Juan Fabricio Alvarez, Antônio de Alburquerque, Jamile Rimidalw. . .
Tudo apagou-se, Nielk ouvia, ainda, os nomes continuarem a ser divulgados. . . Aos poucos foi diminuindo de intensidade e à medida que aquela voz ia distanciando-se ele mergulhava na inconsciência.
Quando voltou a si estava na cama. Ao seu lado estava o Dr. Prado. Tentou levantar-se sendo impedido pelo médico, Aos poucos foi tomando consciência da realidade. Parecia-lhes um sonho! Antes, um pesadelo! Tinha a impressão, ser, a sua vida, uma onda de vapor que evolava-se para desaparecer. Com muito custo conseguiu falar.
- Dr. Prado, então tudo é verdade, eu não estava sonhando?
Um soluço escapou do seu peito e grossas lágrimas escorreram pelo seu rosto, ao perceber o olhar significativo do médico.
Não é possível, que catástrofe!
Sua mãe abraçou-o comovida.
- Meu filho, eu sei bem a dor que invade o seu coração, porém, é preciso confiar em Deus, e ser forte, você não pode entregar-se ao desanimo. Pense nos seus filhos!
Só então Nielk lembrou-se da carta e apalpou o bolso do pijama. Ela estava ali. Ninguém jamais saberia de sua existência. E virando-se para a mãe.
- A senhora aqui???
- Sim, meu filho, soubemos da noticia e viemos imediatamente. As crianças também vieram, é claro. Foi o Jair quem ouviu a notícia pelo rádio; ele havia levantado-se cedo para ir à praia. Viemos imediatamente. Quando chegamos o Dr. Prado já estava aqui. A empregada encontrou você no banheiro, desacordado.. Ela chamou o Sr. Medeiros, ai vizinho, que foi quem chamou o Dr. Prado.
- Eu me lembro, agora, havia terminado de cortar a barba e me preparava para entrar no banho. Foi quando o rádio deu a noticia do desastre e em seguida passou a divulgar os nomes dos passageiros e tripulantes. Esperei para ouvir . . .e ouvi o nome de Jamile . . . oh! foi horrível! Eu já estava esgotado pela viajem que havia feito, não suportei.
- Nielk - disse sua mãe - eu não sabia que Jamile ia para o Recife!
- Ia, mamãe, - mentiu Nielk - eu esqueci de lhe falar quando levei as crianças. Ela ia visitar o irmão. Que viajem fatal!
- Temos de entregar tudo nas mãos de Deus, meu filho.


. . .preciso fazer alguma coisa!
- Não se preocupe ,Nielk, - falou o Dr. Prado, impedindo-o de levantar-se - O Sr. Medeiros já telefonou para a companhia aérea e eles providenciarão tudo, você deve repousar, não há nada que possa fazer.
Nesse instante abriu-se a porta do quarto e entraram Jair e Célia e abraçaram-se ao pai que foi-lhes ao encontro . . .
- Papai . . .
Nem mais uma palavra conseguiram proferir. Apenas soluçavam, enquanto as lágrimas banhavam os seus rostos, misturando-se.
- A mamãe já não está entre nós . . .Deus a levou, meus filhos!
Permaneceram assim, abraçados, por longo tempo, enquanto à sua volta, os demais, com os corações confrangidos, permaneciam em completo silêncio; emocionados assistiam aquele drama e dele participavam, possuídos por uma angústia indescritível . . .
Somente dois dias depois é que chegava o esquife para a realização dos funerais. Uma urna lacrada impedia que os familiares de Jamile a contemplassem pela derradeira vez; o seu corpo ficara irreconhecível..
Terminava, assim, a sua louca corrida em busca da felicidade!
Nielk, depois disso, passou por um longo período de perturbação. Um complexo de culpa o assaltara. Tendo perseguido, por toda a vida, a imagem de Walkyria, achava-se culpado pela morte de Jamile. Não fora a realização de sua viajem e talvez os acontecimentos não tivessem se precipitado para alcançarem aquele desenlace!
Aos poucos, porém, foi se conformando e chegou à conclusão que o drama que o havia atingido fora obra do destino e não poderia culpar-se pelo restante de seus dias. Se ele amava outra enquanto ainda estava casado com Jamile não era sua culpa. Esse amor existia muito tempo antes de conhecer Jamile. O seu casamento com Jamile, sim, fora uma traição aos seus ideais da adolescência. Raciocinando dessa maneira Nielk foi, aos poucos, subtraindo-se à apatia que o dominava e começou a viver novamente. Tinha seus filhos que o adoravam, por eles tudo faria dali por diante. E . . .também por si. Era jovem ainda e bem poderia reconstruir a felicidade interrompida.
Todos os traumas sofridos em sua existência, aos poucos foram se apagando. Não ocorria o mesmo, porém, com aquele episódio de seus 14 anos. Cada vez mais intensamente, acalentava a esperança de ainda reencontrar Walkyria. Isso era uma idéia fixa. Sabia que ela, agora, vivia em São Paulo, mas como encontrá-la? A Capital, com uma população descomunal, com uma extensão territorial enorme, impedia qualquer encontro. Mesmo que ela vivesse em Santo Amaro não poderia alimentar maiores ilusões. O destino, caprichoso, pode, às vezes, manter durante toda a vida, uma névoa que impeça dos vizinhos de se encontrarem,
Nielk, agora reconciliado com a vida, dividia-se entre o trabalho e os filhos. Trabalhava a semana, tenazmente, e nos fins de semana e feriados descia para Santos, onde os filhos estavam vivendo, com sua mãe e seu irmão. Passava dias maravilhosos ao lado dos filhos. Iam à praia, davam longos passeios, freqüentavam cinemas. Quando voltava para São Paulo sentia-se renovado e disposto para o trabalho. Dificilmente faltava a esses encontros agradáveis.
As poucas vezes que deixava de ir a Santos ficava em casa, em Santo Amaro. Ia até Interlagos ou saia para dar longos passeios, a pé, pelas ruas do bairro. Em um desses passeios, saindo de sua casa que ficava na Rua 9 de Julho, entrou na Rua São Benedito. Era Quinta –Feira e ali estava sendo realizada uma feira. Foi andando, devagar, vendo as bancas e os transeuntes, que faziam compras. Em dado momento algo lhe chamou a atenção. Um rapaz de uns vinte e poucos anos fazia compras juntamente com uma moça de sua idade, que parecia ser sua esposa. Uma menina, de uns quinze anos, os alcançou e disse:
- Zetinho, a sua mãe está esperando lá no início da rua.
- Como vai ,Nina, falou o rapaz, você diga a minha mãe que à tarde eu irei em sua casa. Não precisa me esperar, agora.
- Está certo, respondeu a menina. Cumprimentou a outra moça e foi embora.
Nielk, atraído por aquele nome, examinou o rapaz. Era um jovem não muito alto, magro, cabelos aloirados e usava óculos. Bem poderia ser o irmão de Walkyria que conhecera com três anos de idade, mais ou menos. Se fosse, a senhora que haviam feito referência deveria ser Da. Ângela e ele, com toda a certeza a reconheceria. Talvez fosse mais fácil perguntar ao rapaz . . .mas tudo passou em sua mente em uma fração de segundo e quando percebeu estava seguindo a menina. Quando chegaram nas proximidades da Rua Isabel Schimidth lá estava a senhora esperando, e era, realmente, Da. Ângela. Mais envelhecida apenas. Nielk acercou-se dela.
Senhora, queira me desculpar, eu gostaria de falar-lhe – A senhora olhou-o desconfiada – Nielk continuou:
- A senhora naturalmente não se lembra de mim, porém eu a conheço. Fomos vizinhos a muitos anos atrás. A Senhora chama-se Da. Ângela e o seu esposo Sr. Alécio. A Senhora tinha um casal de filhos, Walkyria e Zetinho. Eu morava em frente de sua casa na Rua Vol. Delmiro Sampaio.
- Realmente – confirmou Da. Ângela – porém, não me lembro de você. Evidentemente era um menino a esse tempo.
- Sim, e quando passava em frente de sua casa e olhava para ver a Walkyria a Senhora balançava-me o braço ameaçando de bater.
- Sim! Agora me lembro, mas quem diria! Você mudou bastante. Também, fazem tantos anos!
- Sim, mais de vinte anos – confirmou Nielk.
- O mundo é pequeno – continuou Da. Ângela – nós fomos para o interior e vivemos muitos anos lá e acabamos voltando para São Paulo. E agora o encontramos!
- A pouco vi um rapaz que deve ser o Zetinho. Estava conversando com essa menina. Eu a segui até aqui para confirmar se ela viria encontrar-se com a Senhora.
- Era ele mesmo – confirmou a menina – eu o encontrei a pouco.
-E. . . a . . .Walkyria –Quis saber Nielk.
- Está bem, saiu comigo depois separou-se para ir à igreja.
- Ela . . .Está casada? – perguntou Nielk, com medo da resposta.
- Não, ela nunca quis saber de namorar. Não sei como não resolveu entrar para um convento!
- Gostaria de encontrá-la. A Senhora disse que ela foi à igreja, será que eu a reconheceria?
- Com toda a certeza, ela não mudou muito a fisionomia.
- Tive muito prazer em encontrá-la, espero que a oportunidade se repita.
- Nós estamos residindo à Rua Paschoal Moreira, 2.637; esperamos lá a sua visita.
- Eu irei, com toda a certeza!
Nielk estava eufórico. Apressou o passo quando chegou à Av. Adolfo Pinheiro e em poucos minutos entrava na igreja.
O relógio da torre marcava onze horas e trinta minutos. Já havia terminado a missa e a igreja encontrava-se quase vazia; ao todo umas seis pessoas encontravam-se ali. Nielk ajoelhou-se no último banco e baixando a cabeça, compenetrado, murmurou uma oração. O seu coração batia desordenadamente. Durante toda a sua vida ansiara pelo que estava prestes a acontecer e, no entanto, agora, sentia medo. Um medo terrível de ver desmoronado o castelo construído pelas suas ilusões.
“Será que a Walkyria acalentava, em seu coração, os mesmos sentimentos que ele? Imaginava que sim! Porém, se assim não fosse? Se ela o houvesse esquecido? Seria um trágico fim para um amor de mais de vinte anos! Amor não expresso em palavras, porém confessado mutuamente pela expressão dos olhos de uma menina de onze anos e um jovem de quatorze. Nielk retardava a sua decisão! Será que nada havia mudado durante esse tempo de separação? Ele havia passado por tantos tormentos, e a Walkyria, como seria ela hoje com as modificações introduzidas pelo tempo, pela vivência?
Olhou para o altar e admirou a imagem de Santo Amaro, tendo ao sua direita, Nossa Senhora Aparecida e à esquerda o santo mártir São Sebastião. Como era bonita aquela igreja! Crescera freqüentando aquela igreja mas nunca a examinara como fazia agora, retardando o tempo. Olhou para a abóbada e maravilhou-se com as pinturas ali estampadas. Pinturas já conhecidas desde a infância, mas que nesse momento revestia-se de um brilho todo especial.
Repentinamente, lembrou-se do que o tinha levado ali. - Ela não está aqui - pensou.
Percorreu com o olhar as pessoas que encontravam-se à sua frente, uma por uma. A última figura em que pousou os olhos estava ajoelhada em frente ao altar do Santíssimo Sacramento. Levantou-se e dirigiu-se para lá.
No momento em que ajoelhava-se ao lado da moça, que orava, uma suave música era tirada de um órfão.
Fez uma breve oração e logo voltou-se para a moça que nem se apercebera de sua presença, murmurando suavemente:
- Walkyria!
Ela sentou-se no banco e contemplou-o com olhos tristes . . . Nada disse . . .tentou esboçar um sorriso, quando reconheceu Nielk, porem as lágrimas desprenderam-se de seus olhos e ela ajoelhou-se novamente dizendo:
- Oh! . . .Meu Deus!
- Você lembra-se de mim?
- É claro, e como lembro! Este é o dia mais feliz da minha vida
- Pois é, aconteceu, eu também esperei por este momento durante toda a minha vida. Ensaiei tantos discursos, mas neste momento nem sei o que dizer. Só sei agradecer a Deus; de todo o coração, por este instante, o resto o futuro deverá decidir.
Nielk segurou-a pelo braço fazendo-a levantar-se e a conduziu para a porta. Naquele exato momento, o organista, que ensaiava, atacava notas fortes, como a querer despertá-los daquele êxtase divino que o encontro havia provocado.
Fora, tomaram um taxi e Nielk deu o endereço de Walkyria. Ela nem pensou em como ele sabia. Nada a surpreendia naquele momento. Sonhava apenas, deixando-se levar.
Nielk segurou as mãos de Walkyria e exercitaram aquela linguagem de olhar, a única que haviam conhecido em seu relacionamento, depois Nielk proferiu palavras tremulas de emoção:
- Como sonhei com este momento! Isto compensa-me por todas as tristezas porque passei até hoje.
- Eu também sou plenamente feliz por este instante. A mais de vinte anos vinha sonhando com este momento,; com a possibilidade de reencontrá-lo e já me sentia desanimada. Agora a pouco, quando estava na igreja pensava nessa possibilidade e pedia a Deus que me concedesse essa graça. Ele me ouviu e me deu a realidade quando já pensava que tudo não passava de um sonho apenas; inclusive a minha existência! Eu o amo Nielk! Sempre o amei! Você foi o primeiro e único amor de minha vida!
- Eu também, querida, a amo perdidamente. Nestes anos eu a procurei sempre, jamais olvidei a sua imagem. Agora que a encontrei e tenho a certeza do seu amor, nunca mais a deixarei.
Chegaram à residência de Wlakyria e Nielk pediu ao motorista que esperasse. Quando entraram na casa encontraram Da. Ângela que acabava de relatar ao esposo o encontro que tivera. Walkyria apresentou o visitante ao seu pai que, revolvendo a memória, declarou:
- Eu me lembro de você! Morava . . .fomos vizinhos, a muito tempo. Você era um menino ainda. A sua fisionomia ainda é a mesma. Só está mais maduro!
- O Sr. também ainda conserva os mesmos traços.
Conversaram por alguns minutos e por fim Nielk levantou-se e pediu que fosse permitido que Walkyria o acompanhasse para almoçarem juntos e poderem conversar. Tinham muito a falar! Era um dia muito especial e precisava ser vivido como tal. O pai de Walkyria mesmo alegando que gostaria que eles ficassem, reconheceu que nesse momento eles preferiam estar sós, e acrescentou:
- O encontro fez bem a minha filha, vejam como ela está corada e radiante!
- Oh! Papai! - todos riram.
O taxi que os esperava levou-os ao restaurante “Burt” em Interlagos. Era uma pitoresca construção cercada por parques e jardins. Começando do lado esquerdo do prédio, se estendia até às margens da represa, uma alameda de pinheiros, bem no meio da qual saia outro caminho que terminava em um amplo espaço, com quiosques. Ali os freqüentadores costumavam repousar depois das refeições, havendo, para isso, confortáveis poltronas de madeira, forradas com almofadas.
À frente do restaurante foram recebidos pôr Burt.
- Sr. Nielk, Senhorita, sejam benvindos!
Bateu nas costas de Nielk que já era um velho conhecido, segredando-lhe:
- Emfim vejo-o em ótima companhia e . . .feliz. O Sr. andava tão solitário!
Acompanhou-os até à mesa a um canto do enorme salão e chamou o garçom.
- Fritz, atenda o Sr. Nielk. Agora me dão licença; bom apetite - e retirou-se.
O garçom trouxe o cardápio, escolheram e, pouco depois, chegavam os pratos solicitados. Pouco comeram, a emoção roubara-lhes o apetite. Tão pouco falavam. Estavam embevecidos. Quase só olhavam-se bastando-lhes isso para a perfeita comunicação, se entendiam plenamente!
Quando terminaram saíram do restaurante, de mãos dadas, silenciosamente e passaram a percorrer a alameda, chegando até um quiosque onde sentaram-se; não havia mais ninguém ali.
Então trocaram as histórias de suas vidas, cada um contando o que lhe havia ocorrido durante os anos de separação. Nielk, nós já sabemos o drama porque passou. A vida de Walkyria havia sido mais calma, em uma cidade do interior, concentrando-se mais interiormente; vivendo o seu sonho secreto, daquele amor tão intenso e tão fugaz, ao mesmo tempo. Vivia para si mesmo, alimentando aquele sonho, que achava quase impossível, mas que não podia admitir que pudesse morrer, porque isso a mataria, também.
Nielk emocionou Walkyria, ao discorrer pelo drama que havia vivido, quando terminou ela estava profundamente comovida:
- Como você sofreu!
- Mas não faz mal, tudo passou, daqui para a frente terei o pagamento de tudo porque passei.
- Eu vou compensá-lo. Você é meu príncipe encantado que esperei por tanto tempo; mesmo não tendo a certeza, sem saber que você estava me procurando, eu jamais perdi a esperança. Lutei para voltar para São Paulo porque tinha uma convicção, comigo, que me indicava que o encontraria. Depois de muitas insistência convenci meus pais e voltamos. E foi bem a tempo de alcançar a realização. Deus é bom! Muitas vezes nos queixamos mas Ele sabe o que é melhor para nós e nos dá, na hora certa, sem um minuto de atraso ou de antecipação. Basta confiarmos. Eu confiei e sou feliz. Apagou-se a amargura de minha vida. A partir deste dia sei que vou ser outra pessoa, muito melhor, de vez que ganhei um novo entusiasmo.
Ao proferir as últimas palavras estava profundamente comovida e os seus olhos marejaram de lágrimas; mas eram lágrimas de alegria, de felicidade; Eram lágrimas que lavavam o seu coração, tirando dali qualquer resquício de amargura.
Havia, ainda uma preocupação e Walkyria a externou para Nielk.
- E os seus filhos, como eles receberão tudo isso? Eu não posso esquecer que sou apenas uma estranha para eles. Poderão fazer oposição.
- Eu também já pensei nisso e, de fato, é preocupante. Nós teremos de encontrar uma fórmula para que todos possamos ser felizes.
Passaram-se 30 dias, período em que Walkyria e Nielk usaram para conhecerem-se bem. A cada dia que passava se compreendiam mais e se revelavam um ao outro e conscientizavam-se que de fato haviam sido feitos para que os seus destinos se juntassem. Antes conheciam-se através de um olhar apaixonado, que era um sonho e uma fantasia. Agora, ao constatarem a realidade percebiam que correspondiam aos mitos que haviam construído em suas mentes. Coisa difícil de acontecer porque, geralmente os mitos são desmitificados. Agora sonhavam com o futuro, esperando que pudessem reconstruir o lar de Nielk, com a participação de seus filhos. Era uma tarefa que precisavam enfrentar.
A mãe de Nielk morava em Santos com o filho Carlos, que agora era casado com uma santista, muito simpática, que cativava as pessoas à primeira vista. Olinda era o seu nome; viviam ali, desde a morte da mãe, Jair e Célia, filhos de Nielk.
A pensão que era explorada por Carlos e sua esposa, estava situada a duas quadras da praia, em um majestoso prédio assobradado. Na frente um pequeno jardim bem cuidado. Uma espaçosa varanda tomava toda a frente e o lado esquerdo do prédio. Desta entrava-se para uma sala de estar, onde haviam poltronas e um sofá, saindo, ainda, dali, a escada que levava ao pavimento superior. Da sala de estar passava-se para a sala de jantar, onde haviam, além de uma mesa grande, pequenas mesas para quatro pessoas; desta sala saia um corredor que levava à cozinha, bem no fundo. Neste corredor haviam portas pertencentes a dois banheiros e quatro quartos. No final do corredor, uma porta lateral dava saída para o quintal onde estavam instaladas, a garagem, a despensa e a lavanderia, sobre os quais haviam três apartamentos. No pavimento superior do prédio principal, haviam seis quartos e dois banheiros.
Estamos no dia 16 de julho ( exatamente um mês após o encontro de Nielk e Walkyria). Nesse dia chegaria, de São Paulo, uma nova hospede, Senhorita Walkyria, que havia reservado acomodações pelo telefone.
Walkyria chegou às nove horas, sendo recebida por Olinda.
- Meu nome é Walkyria, reservei acomodações por telefone.
- Muito prazer Da. Walkyria, chamo-me Olinda, chame-me simplesmente de Linda, como todos fazem. Fui eu que a atendi pelo telefone e, como expliquei, a pensão está lotada e a Senhorita terá de ficar no quarto com minha sobrinha. Ela é uma boa menina e por certo não a incomodará. Os quartos somente começarão a vagar no final do mês; o primeiro será seu.
- Tudo bem, mas não me trate com cerimônia, nem dona, nem senhora, sou apenas Walkyria.
Enquanto conversavam Linda foi conduzindo Walkyria. Atravessou a sala de jantar e penetrou no corredor. Quando chegou à segunda porta abriu-a e disse - É aqui - afastou-se para que a outra passasse.
O quarto tinha, como moveis, dois guarda-roupas, uma penteadeira, uma pequena mesa, duas cadeiras, além das duas camas. Sobre estas estavam estendidas colchas bordadas em ponto cruz.
- Você pode ficar com esta cama e este guarda-roupas, Célia está na praia e logo que chegue eu a apresentarei a você. Agora, fique a vontade, se precisar alguma coisa é só chamar.
- Obrigada ,Linda, está tudo ótimo - Linda retirou-se
"Ficando sozinha Walkyria pôs-se a pensar”. Tudo estava dando certo. Deus a estava ajudando para que o seu objetivo fosse alcançado. Ficando com Célia, no mesmo quarto, poderia tornar-se sua amiga, preparando o caminho para que fosse concretizado o seu sonho de amor. Considerava esse o seu maior obstáculo para a sua felicidade. Célia, sendo menina, de doze anos, não aceitaria, facilmente, dividir, com alguém, o amor de seu pai. Este fazia-lhe todas as vontades. Com Jair sentia ser diferente. Um jovem de 16 anos não vive muito achegado ao pai”. Walkyria ficou cismando por longo tempo. Por fim levantou-se, começando a arrumar as roupas nas gavetas e cabides.
Quando terminou a sua tarefa, saiu do quarto e encontrou-se, no corredor, com uma senhor de idade, e um rapazinho. Logo atrás vinha Linda que os apresentou:
- Esta é Da. Lourdes, mãe de meu marido e, este é meu sobrinho, Jair - e indicando a moça- esta é Walkyria, nossa nova hospede.
Apertaram-se as mãos dizendo as palavras convencionais e logo se apartaram, Walkyria saiu para a varanda e foi sentar-se em uma das cadeiras de vime, na parte lateral. Alguns minutos depois, ouviu uma conversa vinda do jardim, que lhe chamou a atenção:
- Que cara, Célia, o que é que houve?
- Então você não sabe, Jair, a tia Linda vai colocar uma velha solteirona no meu quarto. Se ao menos fosse uma pessoa jovem não me incomodaria! E logo agora que o papai foi viajar e vai ficar tanto tempo fora!
- Você está enganada, Célia, não é nenhuma solteirona velha. A sua companheira de quarto é bem moça e . .bonita. Eu já a conheci e gostei dela!
- Pois eu não vou gostar!
Walkyria ficou preocupada. As suas dúvidas se confirmavam. Não seria fácil!
Quando voltou para o quarto Linda estava lá, com Célia.
- Esta é minha sobrinha Célia. É um pouco caprichosa mas tem um ótimo coração; tenho a certeza de que vocês irão dar-se bem.
Linda saiu e foi Walkyria que rompeu o silêncio - Célia, sinto muito vir perturbar o seu sossego. Compreendo que deve ser desagradável ter de receber uma estranha na sua intimidade, porém, será por pouco tempo, logo que vagar um quarto eu me transferirei. Naturalmente a companhia ideal para você seria uma pessoa jovem.
“Ela escutou” pensou Célia constrangendo-se, depois falou:
- Não tem importância, pode ficar o tempo que quiser.
- Bem . . .eu gostaria de ficar aqui. Simpatizei-me com você e, depois, gosto da companhia de pessoas jovens. Que tal fazermos uma experiência?
Célia já esfriava a sua rebeldia e pensava “Que mulherzinha terrível! Sabe cativar as pessoas! Por mais que deseje não consigo antipatizar-se com ela”!
Encaminharam-se para a sala de jantar e Walkyria pediu para que tomassem, juntas, as refeições.
Aos poucos Célia foi afeiçoando-se a Walkyria. Ela sabia conversar, procurando assuntos que pudessem interessar a uma jovem em formação. Célia seria injusta se maltratasse a moça. Ouvia-a e fazia-se ouvir. Walkyria compreendia o seu íntimo carente de afeto maternal. Célia sentia que aquela amizade preenchia o vazio criado quando perdera a mãe. Sentia, agora, a falta que fazia uma mãe!
Jair, constantemente perturbava a irmã:
- O que aconteceu, a solteirona te enfeitiçou?
- Não amole! dizia a menina, mas no íntimo admitia estar, realmente dominada por aquela afeição.
E não foi somente Célia a atingida, pois, com o decorrer dos dias, Jair, os outros familiares e os hospedes da pensão, haviam sido envolvidos pela suavidade de Walkyria. Mais, ainda, Walkyria, também, estava conquistada pelos filhos de Nielk.
Eram 18,00 horas, do dia 14 de Agosto, quando parou um taxi em frente da pensão e dele saltou Nielk. Quem primeiro o viu foi Célia, que correu para abraçá-lo.
- Minha filha, quanta saudade!
- Não acredito, se fosse assim não teria ficado tanto tempo ausente!
- Não dependia de mim, querida, os negócios me obrigaram a essa separação. Não foi nada agradável para mim. E . . como vão todos, alguma novidade?
- Tudo bem, nenhuma . .espere . . .trouxe a minha encomenda?
- Sim - disse Nielk , tirando um pacotinho do bolso e entregando-o à filha - só não entendi quando você me telefonou. Para quem é isso?
- Você já vai saber, vou apresentá-lo à minha companheira de quarto. Descobri que hoje é o aniversário dela e vamos fazer-lhe uma surpresa. Você vai ajudar. Terá de distraí-la, depois do jantar, enquanto preparamos tudo.
Célia apresentou seu pai a Walkyria. Como ela estava linda! Que vontade Nielk sentiu de abraçá-la! Sentiu uma ponta de remorso por estar enganando os filhos, porém, logo sua consciência o acalmou. Estava procedendo assim para construir a sua felicidade sem causar um desequilíbrio emocional em seus filhos. Desejava , que primeiro os seus filhos aceitassem a moça.
Todos estavam eufóricos com a chegada de Nielk. O jantar transcorreu animado. Quando terminaram Nielk conduziu Walkyria até a varanda (seguindo instruções de sua filha) e lá puderam conversar livremente.
- Você tomou conta de todos - disse Nielk -etou com ciúme. Na verdade nem acharam a minha falta!
- Oh! Nielk . . como me sinto feliz! em sua família todos são maravilhosos!
Durante meia hora , ou mais, Walkyria relatou a Nielk, tudo que se passou desde a sua chegada ali. De repente apareceu Carlos e chamou:
- Walkyria, Célia pediu para que você vá até o quarto, ela não está sentindo-se bem.
A moça levantou-se imediatamente e dirigiu-se para dentro da casa, sendo acompanhada por Carlos e Nielk. Estava tudo escuro. Quando Walkyria tateou para encontrar o interruptor, as luzes acenderam-se e todos começaram a cantar:
Parabéns a você . . .
Walkyria não dominou a emoção e as lágrimas escorreram-lhe pelo rosto. Eram, porém, lágrimas de felicidade, de alegria, pois o seu rosto estava iluminado. Todos a abraçaram, inclusive Nielk que sussurrou, parabéns querida.
Célia entregou um pacotinho a Walkyria (o que Nielk havia trazido) e todos se aproximaram para ver. Aberta a caixinha todos se maravilharam. Tratava-se de um broche de ouro , com uma cruz, uma âncora e um coração entrelaçados.
- Fé, esperança e amor - falou Walkyria, e concluiu, voltando-se para Nielk - seus filhos são maravilhosos. Como eu gostaria de ter filhos assim!
Célia abraçou Walkyria e falou por sua vez:
- Como eu gostaria de possuir uma mãe como você!
Foi Célia quem passou, dali por diante, a procurar influenciar o pai. Ressentia-se da falta de Walkyria que havia voltado para São Paulo.
Você precisa casar-se novamente, papai, assim poderemos estar sempre juntos, voltando a residir em São Paulo.
- E você imagina que alguém desejaria casar com um velho como eu?
- Você não é velho . . e . . eu conheço uma pessoa que . . .
Tudo encaminhou-se com uma precisão novelesca. No dia 6 de Novembro, na igreja de Santo Amaro, realizava-se o casamento de Nielk e Walkyria. Era uma feliz união , abençoada por Deus.
Aqueles dois, que tanto haviam sofrido em suas vidas, alcançavam, finalmente, a felicidade. E não a desejaram somente para si e sim cuidaram para que a aura que os cobria, atingisse, também, aqueles que lhe eram caros. Tardaram a concretizar o seu sonho de amor, mas ao fazê-lo levaram a certeza da consolidação da família F I M -

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