POESIAS REUNIDAS
                                 BRUDER KLEIN  
Todos os direitos reservados; o conteúdo encontra-se registrado no EDA/Biblioteca Nacional, sendo proibida a reprodução por quaisquer meios, sem a autorização, por escrito, do autor; em qualquer caso deverá ser divulgada a fonte.
Bruder Klein
Av. São João Batista, 384 – Bloco B7/Apto.23
Rudge Ramos – São Bernardo do Campo   S P
09635-000                        Tel. (011) 457-9987
E-Mail: mik346@hotmail.com
Í N D I C E
PÁG.  Título
2 Índice
7   Apresentação
      8   Ode a Mococa
      9   Minha Terra
    10   Sensibilidade
    11   Necrológico
    12   Então?
    13   Jardim de Flores
    14   Liberdade
    15   Criação
    16   Usura
    17   The Love Wit's Life
    18   Desilusão
    19   Saudade - A Luz Que Salva
    20   Amor Ideal
    21   Paloma
    22   Criança
    23   Saber sentir
    24   Lágrimas
    25   O Fim
    26   Direito de Sonhar
    27   Procura da Verdade
    28   Banda na Praça
    29   Partir
    30   Rolando a Vida
    31   Cruel Realidade
    32   Fome de Amor
    33   Ligação Transcendental
    34   Pelas Estradas da Vida
    35   Velha Amargura
    36   Tempestade
    37   Continuando a Procura
    38   Vida Fluida
    39    Noite de Insônia
    40    Quem sou Eu?
    41   Carência
    42   Drummond, 17 de Outubro de 1.987
    43   Cidade e Campo
    44   Ouvindo a Natureza
    45   Destino Implacável
    46   Desesperança
    47   Solidão a Dois
    48   Perda Irreversível
    49   Solidão II
    50   Reencontro
    51   Doce Espera
    52   A M O R
    53   Silêncio
    54   Novas Esperanças
    55   Mito
    56   Não Se Vá
    57   Recomeço
    58   O Último Dia
    59   O Ato de Escrever
    60   Ombro Amigo
    61   Tempo e Espaço
    62   Vida Brilhante
    63   Eu Vi
    64   Quatro Estações
    65   Olhando o Passado
    66   A Deusa e a Flor
    67   Saudade 
    68   Interligações
    69   Adeus
    70   Horas Solitárias
    71   Maria Claudia
    72   Não Tem Voz
    73   Chico da Mata
    75   Vicejando
    76   Emoção Infantil
    77   A Flor Divina
    78   A Volta
    79   São Bernardo
    80   Construção Objetiva
    81   A Lua
    82   Uma História
PAG.  Título
    83   Me Diga
    84   Página em Branco
    85   Leitura
    86   Ser
    87   Corações Desaquecidos
    88   Adultério
    89   Angústia
    90   Por que Dizer?
    91   Amadurecimento
    92   Nova Perspectiva
    93   Cheiro de Infância
    94   Musa
    95   Caso de Amor
    96   Grito
    97   Rosemarie
    98   Nada Importa
    99   Companheira Fiel
  100   O Poeta é . . .
  101   Folha Manchada
  102   Emoção
  103   Antigamente
  104   Maria
  105   Retalhos
  106   Procura
  107   Desejo
  108   Entrudo
  109   Viajem Sem Volta
  110   Só Saudade
  111   Uma Visão Momentânea
  112   Reversão
  113   Ouvindo o Interior
  114   Morrer
  115   A Longa Espera
  116   Solidão 
  117   Fazer Amor
  118   Pelos Caminhos da Vida
  119   Lamento
  120   Solidão III
  121   Aspiração
PAG.   Título
  122   Olhar
  123   Visão Negativa
  124   Interior
  125   Coração Amargurado
  126   Renascer
  127   Palavras
  128   Inocência
  129   Caminhada Interior
  130   Incerteza
  131   Aprendiz de Amor
  132   Caminho Estreito
  133   Saber
  134   O Verdadeiro Sentir
  135   Revelação
  136   Dedicatória
  137   Unipresença
  138   Mensagem
  139   Incerteza
  140   Mensagem Cifrada
  141   Onde Está a Felicidade?
  142   Um Conto que Me Contaram
  143   Comentando
  144   Abraço
  145   Mãe
  146   Doação Voluntária
  147   Dançando
  148   Musas Companheiras
  149   Meu Salva Vidas
  150   Carências
  151   Amor Real
  152   Nostalgia
  153   Realidade
  154   Ligações Energéticas
  155   Doação Expontânea
  156   Minha Esperança
  157   Medo
  158   Basta
  159   Busca
  160   O Amor que Espero 
PAG.   Título
  162   Sonho
  163   Relembrando
  164   Viajem Imaginária
  165   Incertezas
  166   Transparência
  167   Amigo
  168   Amor Oculto
  169   Paz Na Solidão
  170   Retorno à Dor
  171   Rio Tietê
  173   Melancolia
  174   Ser Ou Não Ser
  175   Não Ser
  176   Procura
  177   Viajem Pelo Tempo
  178   Nasce a Esperança
  179   Ano Novo
  180   O Peso Da Solidão
  181   Destino Fugidio
  182   Vida Imprecisa
  183   Amanhã
  184   Carência
  185   Necessidade de Amor
  186   O Mar
  187    Para Juliana
  188   Pranto
189 Diamante - Nenhuma Esperança
190 Meu Pai
191 Final
192 Despedida
193 Miragem de Um Sonho
194 Desencontro
195 Adeus 
197  Sem Título
  198   Coração Vazio
199   Amor Maior
200   Resposta
202   Segredo
203   Relação de Outras Obras do Autor
   
A P R E S E N T A Ç Ã O
 Reunimos aqui a maior parte das poesias espalhadas pelos nossos outros livros. A nossa maneira de escrever tem sido alternando textos poéticos com a prosa, justamente para que a leitura não apresente-se cansativa. Entretanto, existem pessoas que gostam apenas de poesias, dispensando outros textos escritos em prosa; se bem que hoje a prosa confunde-se com a poesia.  Não esperem encontrar qualidade literária no trabalho apresentado por tratar-se de produção expontânea, que têm nascido como produto do nosso viver cotidiano. As poesias, antes de estarem presas a técnicas literárias prendem-se mais à emoção criada pelos acontecimentos da vida. A vida  apresenta-se com o conteúdo de uma poesia em determinados momentos, enquanto em outros é o drama que toma conta dos acontecimentos. Se analisarmos a poesia, poderemos perceber que o drama sempre está presente, porque a inspiração sempre nos nasce por uma motivação de momento, espelhando acontecimentos e sentimentos que nos dominavam enquanto anotávamos para compor uma poesia, ou qualquer produção literária. O Ser humano tem necessidade de estar exteriorizando, as emoções, para que não transforme-se em uma bomba, que ao explodir poderá causar grandes contrariedades, tanto a nós mesmo, como àqueles que nos rodeiam, e que nos são tão caros. Assim, colocamos no papel tudo aquilo que os condicionamentos nos impedem de viver, e de dizer. É claro que tudo é apresentado através de símbolos a que poucas pessoas estarão preparadas para interpretar.
 Esperamos que você integre-se no espírito que norteou este trabalho e que possa colher um bom entretenimento.  
       Bruder Klein
O D E    A    M O C O C A
Te conheci em minha juventude,
Em ti reconheci virtudes;
Sonhos vivi, projetei meus ideais
À sombra de tuas palmeiras imperiais.
     Oh! Mococa, a ti confesso meus amores,
     Ao teu povo irmão ofereço o coração;
     A Deus elevo, por ti, minha oração,
     Para que jamais mal algum lhes cause dores.
Ao fruto do teu solo me juntei,
No ventre do amor a vida fecundei.
No teu povo encontrei a amizade,
Que no peito expandiu-se em fraternidade.
Como filho a bela terra amei,
Aos irmãos mil afetos externei.
Do povo irmão recebi o abraço,
Temperado, mais forte do que o aço.
Vivi feliz em tuas ruas, em tuas praças, 
Aí enfrentei lutas, alcancei graças;
Respirei das matas o ar oxigenado,
À noite, maravilhou-me o céu estrelado.
Hoje distante me encontro do teu solo,
Embalado queria encontrar-me em teu colo;
Em outras plagas, resta-me a saudade,
O amor maior que guardo da cidade.
       RR/87
MINHA TERRA
Cidade que eras quando nasci,
Mas que assim não te conheci.
Para o progresso poder receber
A liberdade precisastes perder.
Mas mesmo sem liberdade,
Sem mais foros de cidade,
Ainda conservastes a certeza
De jamais perder a pureza.
Com outras raças caldeastes
A tua cidadania emprestastes;
Em tuas plagas, de baianos a sergipanos
Junto com teus filhos, todos são paulistanos.
Espalhastes, alcançastes o céu
Ao passado longínquo lançastes o véu;
Crianças já não jogam bola em tuas ruas,
Mas, em tuas favelas, jazem nuas.
De humana e pacata mudastes em cruenta,
Da Santo Amaro de ontem só resta saudade;
Anônimos teus filhos perdem a fraternidade,
Nas manchetes, hoje, te chamam a violenta.
        RR/09/03/87
S E N S I B I L I D A D E
 Quero penetrar, buscar bem fundo
 Unir duas almas para que tudo fique junto
 Alcançar o ponto onde a sensibilidade
 Aflora e estabelece a tranqüilidade.
 Viajando nas nuvens da minha fantasia
 Busco o elo que eleva e que extasia
 Entrelaçar as almas em carinho
 Viver o amor em suave ninho.
 Um conteúdo que arrepie e que sele
 A união carnal da suave pele
 Tão necessário para que haja compreensão
 E não mais vivamos na ilusão.
 Colorindo suavemente a relação
 Revelando sincera a intenção
 Viver sem solidão um grande amor
 Afugentar a incompreensão que causa dor.
 
 Duas vidas juntas prá vencer
 Usufruir da primavera a suavidade
 Viver a natureza com toda a intensidade
 Prá que a flor do amor não venha a fenecer.
 
 N E C R O L Ó G I O
 Não lamentem a minha morte,
 Antes, invejem a minha sorte.
 Se crêem que vivi com amor,
 Que este evento não lhes cause dor.
 Trilhei ásperos caminhos,
 Adormeci em suaves ninhos,
 Trabalhei, cansei, vivi, amei,
 Tantas nuanças, várias, que nem sei.
 Andei procurando a trilha que conduz
 Por íngremes caminhos, à luz
 Aprendi que onde existe a dor
 Imediatamente vemos surgir o amor.
 
 Quando tombamos febris na cama,
 Quando nada aqui nos seduz
 Percebemos, felizes, que Deus nos ama,
 Que para alcançá-Lo temos Jesus.
E N T Ã O ?
 Antes era uma vegetação luxuriante. Fruto das fontes naturais ou de chuvas de verão?
 Hoje é tudo deserto: A febre causticante transformou aquele oásis de felicidade em agreste região.
 Os pássaros se foram! Já não ouvem-se os alegres cantos matinais, nem a sua algazarra ao por do sol.
 O rio, que cortava aquelas matas, hoje, visto do alto do monte mais próximo, assemelha-se a imensa cicatriz. Tudo à sua volta é desolação e tristeza; confundindo-se com o cinzento dos sentimentos tornou insensível até as almas dos homens!
 Apenas um cacto sobrevive, porque essa planta é como o amor e a tudo resiste e, solitário, espera que algum viajor, sedento, corte-lhe o corpo para saciar a sede. Ainda assim, ferido na carne, com cicatrizes profundas, que nunca param de sangrar, continuará à espera de uma gota de orvalho que o reanime, porque não lhe resta nem mais a esperança de uma lágrima, visto que até os seus olhos secaram.
 Em outro jardim, talvez, a primavera continua, porque as flores, volúveis, afeiçoam-se às mãos hábeis dos jardineiros e, transplantadas para outras terras, olvidam o passado e não mais desejam os calorosos beijos dos colibris. Banham-se nas chuvas provocadas pelas nuvens da saudade, mas realçam o seu perfume para a conquista de novos amores.
 E eu, que desejaria ouvir novamente o suave canto dos pássaros nas suaves tardes primaveris! É primavera e nada existe. Nem flores nem pássaros. Por mais que grite só ouço o eco da minha agonia debatendo-se nas pedras da desilusão. Tudo é solidão! Não consigo a caridade de um carinho!
 Mas, porque?
 O espírito que antes povoava estas paragens certamente encontra-se aprisionado no calabouço da dúvida e sem coragem para empreender uma fuga perigosa.
 Então!!! Então???
J A R D I M  D E  F L O R E S
 Na vida construímos um jardim de flores
 Das emoções da vida vertemos os humores
 Das flores do jardim criamos os amores
 Que, se não vingam, terminam em estertores.
 Sentimentos, mágoas, ilusões,.
 Transportam-nos a buscar lições.
 Do passado reviver o romantismo,
 Manter a vida com muito otimismo.
 Buscar viver fora do ativismo,
 Reservar-se mais à introspeção,
 Manter o espírito vivo, em ação.
 Aprofundar a busca, cada um, do Ser,
 Contribuir para ver o amor nascer,
 Do amor usar para oferecer
 A mão firme para suster o irmão.
 Que ninguém grite de agonia em vão
 Que a todos seja assegurado o sonho,
 Que cada vida seja um jardim risonho.
 Que a chuva benfazeja e boa
 Não caia e penetre a terra atoa
 Mas que engravide, fertilize e crie,
 Que do seio da mãe terra tire
 Não só flores mas o que precise
 Para a fome do irmão minorar
 Para que não venha a se desesperar
 E o medo o faça a vida tirar.
 Se construirmos um jardim de amores
 Se a vida for profusão de flores
 Felizes encerramos nossos sonhos
 E a Deus elevamos mil louvores.
L I B E R D A D E
 
 Estendo livre minha alma
 Para alcançar o horizonte
 Da gloria não procuro a palma
 O amor quero derramar igual a fonte.
 
 Que iluminado seja, o futuro, pelo sol
 Dando calor, afeto, ao coração
 A esperança voltada pro arrebol
 A fé viva transluzindo coloração.
 Acima de tudo procuro a harmonia
 Que dá a paz e tudo tranqüiliza
 Quero compor, do amor, a sinfonia
 Fazer da vida fúlgida poetiza.
 
 Pelos verdes olhos a esperança que luzia
 Do espírito o conteúdo derramava
 Transformando a existência em fantasia
 A ventura que estiolava-se clamava
 Se a alma o horizonte alcançar
 Se o amor como fonte derramar
 Então no futuro irei confiar
 E na ventura livre me lançar.
C R I A Ç Ã O
 
 No princípio criou Deus céus e terra
 Esta, porém ,era disforme e vazia
 Pelo poder criador ergueu-se a serra
 Tudo era trevas mas o Santo Espírito já havia.
 E disse haja luz
 Fez o dia e o período noturno
 Já nesse dia tudo reluz
 Separa águas e águas concluindo o dia segundo.
 
 Separa terra e mares
 Cria a planta para dar fruto
 Criou árvores para purificar os ares
 Tudo deu ao homem para que tivesse o desfruto
 Da terra criou o ser vivente
 Sendo o homem sua obra principal
 O animal para fazer este contente
 O homem com perfeição sem igual.
 
 Criou Deus o homem complexo
 Macho e fêmea para o amor os criou
 Para que espalhassem o que Deus semeou,
 Para que juntos espargissem os reflexos.
U S U R A
       
        Rudge Remos, 25/02/87
 
 Um mal terrível não tem cura
 No egoísmo entrega-se à usura
 Por orgulho mata, estraçalha o amor
 Sem perceber que frustra, causa dor.
 
 
 O sentimento transforma-se numa flor
 Cuida desse jardim com muito ardor;
 Degrada-se, humilha-se, se maltrata
 Para a porta escancarar a entrada.
 A emoção que tudo leva ao sonho
 Tempera o espírito que antes era insano
 Arrebata dos sentidos a certeza
 Mas eleva, promove a alma à pureza.
 O coração que aspira esconder
 O amor que abrasa, tentando acender
 O fogo eterno da alma, a paixão
 Que apaga os sonhos e leva à solidão.
 Não permita Deus que a usura
 Que com egoísmo e orgulho cause dor
 Age Tu que és Deus que cura 
 Preenche a vida, o coração de amor.
T H E  L O V E  W H A T   I S  L I F E
   The love what is life
   Single alert in the beyond
   Because the life divert of the love
   And the lost cause the death.
   O amor que é vida
   Só é vivo no além
   Porquê a vida separa do amor,
   E a perda causa a morte.
D E S I L U S Ã O
 
   Ah! Que desespero amar, sem esperança de encontrar!
   Sonhar sem concretizar.
   Silenciar esperando findar.
   A agonia represada pelas desilusões da vida.
   Neste momento em que as desilusões afloram;
   Resultado de múltiplas nuanças,
   De cruéis mudanças;
   Hora em que morrem esperanças!
   A agonia como afiada faca dilacera minha alma.
   Já não almejo fama;
   Gostaria, sim, de não estar na lama.
   Quantas caminhadas empreendi na vida,
   Quando vislumbrei o sol brilhante e vi,
   Através de reflexos prismáticos,
   As belas, suaves cores do arco-íris.
   No roxo vi a fé; no verde a esperança;
   No azul a harmonia;
   No vermelho, que lembra sangue derramado,
   Em vez de amor, vi um coração dilacerado.
S A U D A D E
       Rudge Ramos,24/02/87
   
   Como de amor uma mensagem
   A flor que eu oferecer queria
   Seria a mais bela homenagem
   De saudade um pleito a Walkyria.
A  L U Z  Q U E  S A L V A
   Quando desorientado me vi
   Nas encruzilhadas da vida
   E rebuscando dentro de mim
   Não mais encontrei sinais de afeto!
   Sentindo do vazio o desespero
   Na desilusão de não mais encontrar
   O amor dentro de mim!
   E nessa busca desesperada;
   Analisando perdas, tramas, frustrações,
   Que caracterizaram todo o meu ser!
   Já na agonia da incerteza,
   Se ainda haveriam sentimentos puros?
   No negro túnel da existência reencontro,
   Limpo o meu espirito;
   Lúcido a divisar a luz.
   E para felicidade minha,
   Não terem morrido os sentimentos.
   Pois descobri, que apesar do vazio,
   Uma luz cintila, brilha: Que o amor ainda vive;
   Que eu amo você.
A M O R   I D E A L
       Rudge Ramos, 17/03/87
   Desejo dizer sem tom irônico
   Mesmo na hora do amplexo
   Que o meu amor é platônico
   E jamais almeja sexo.
   Desnudas de corpo duas almas
   É que mais refletem o amor
   Jamais esperam palmas
   Do físico não precisam tirar suor.
   O amor é a fusão de duas vidas
   Cujos espíritos se enlaçam e se abrasam
   E unidas nunca serão vencidas
   Os que se lhes opõem é que se arrasam.
   
   A união que a vida transforma em esperança
   E para o futuro caminhando vai vencendo
   Guarda do passado, gravada, a lembrança
   Mas em tempo algum estará envelhecendo.
   
   O amor derrama-se como fonte
   Quando são as almas que se unem em amplexo
   Quando é mais forte não procura sexo
   E unidas buscam novo horizonte.
P A L O M A
        Rudge Ramos 18/03/87
   Que a humanidade elimine as bombas
   Para que possa almejar a esperança
   Que de paz surjam brancas pombas
   Para construirmos o futuro da criança.
   Para que a nossa Paloma cresça
   E a inteligência possa oferecer
   E que a mortalidade infantil desça
   E a natureza não venha a fenecer.
   Que os homens defendam a ecologia
   E seja preservado o verde vida
   Que não se conserve só a ideologia
   Mas que combata tudo que trucida.
   Que haja empenho no amor
   Para que vivam todos como irmãos
   E a fraternidade não seja um favor
   Para que felizes todos dêem as mãos.
   
   Que o amor se derrame como fonte
   Para que as vidas se enlacem
   E as almas se entrelacem
   E haja para a criança novo horizonte.
C R I A N Ç A
        Rudge Ramos, 17/03/87
   Ser inocente, do futuro a esperança
   Marcha solene rumo ao horizonte
   Eis o destino o que espera da criança
   Que ao fim do caminho seja rica fonte
   Que de realizações enriqueça a humanidade
   Que com presteza defenda a ecologia
   Que traga paz, amor, fraternidade
   Natureza, paz, amor, em suave trilogia.
   A inteligência alargando-se bem firme
Temperando o espírito pras lutas
   Qual jequetibá de forte cerne
   Que, do alto, reina sobre a imensidão das matas.
   Qual idade mais bela contemplamos
   Que a da criança os passos ensaiando?
   Quando sonhamos e o futuro divisamos
   E as aspirações desse ser vamos sonhando.
   
   Da educação a esperança está em Deus
   Ele protege a trajetória até ao céu
   Os filhos todos recebe como seus
              Jamais um inocente deixa ao léu.
   Se nosso futuro repousa na criança
   O dever nos manda que as ame
   Dos percalços jamais alguém reclame
   Pois por paz e amor se nos paga em esperança.
S A B E R  S E N T I R
      Rudge Ramos, 20/03/87
   Quando eu chegar ao fim da jornada
   E olhando para trás procurar analisar
   Quais foram, as realizações
   Os ideais que procurei alcançar.
   
   E envolvido pela lembrança
   Dos acontecimentos que feliz eu vivi
   Então rebuscarei em minha mente
   E me aprofundarei em meu ser.
   
   Desnudarei a minh’alma
   Procurarei conhecer.
   Já não terei a certeza
   De tudo entender, de tudo saber.
 
   Procurarei renascer para a vida
   Reiniciar e procurar aprender
   Os segredos da alma
   A buscar a ligação com o infinito
   
   Para extrair do amor a essência
   E renovar os meus votos sagrados
   De união mística com o Ser
   Para então descobrir a verdade
   
   
   Que antes de pensar em saber
   Os mistérios da mente
   É preciso maior sensibilidade
   Pois antes de saber
   É necessário sentir
   Para sentir como saber.
L Á G R I M A S
        Mococa,31/05/85
   Lágrimas, lágrimas, lágrimas!
   Emoção, emoção, emoção!
   Inundando este poço profundo
   De deserdados de coisas boas e más.
   Emoção de encontro inusitado
   Vivendo um momento de estio
   Em que pela solidão visitado
   Tenta dissipar o fastio.
   
   Visito visões do passado
   Pesaroso de não ter encontrado
   Os belos sonhos pressentidos
   Que viriam no futuro gerar.
   
   Noto cicatrizes profundas no ser
   Tantas que não queria dizer
   Marcas de castigo cruento
   Profundos, escarpados, cinzentos
   
   Procuro no verde da natureza a verdade
   Que através de transcendental
   Inspiração fora da cidade
   Compatibilize-se com a minha idade.
   
   Anos vividos sonhando a esperança
   De realizações concretizadas
   Querendo que o amor como uma lança
   Acabasse com um ser martirizado.
   
   Do alto da vida contemplo a morte
   Que malvada destruiu a sorte
   Com lágrimas a emoção morria
   Com emoção as lágrimas rolaram.
O   F I M
  O fim! O que é o fim?
  Como será o fim?
  Quando será o fim?
  Como saberemos quando chegar o fim?
  O que sentiremos no fim? Existe o fim?
  Deus não teve começo e não terá fim!
  O homem é feito à imagem de Deus.
  Para o homem não haverá fim!
  Deus é eterno! O homem é eterno!
  Deus sabe tudo! O homem precisa conhecer.
  O homem precisa aprender; para que possa saber.
  Para que possa confiar!
  Para que se alimente de fé; e armazene a esperança;
  E tenha sempre na lembrança, que não terá fim.
  Existe algo depois da morte; aí encontraremos melhor sorte:
  A paz . . .
  Desnudos de corpo, estaremos limpos de espírito,
  E tomaremos sentido
  De que já passou a dor e só resta o amor.
  Sobrará a virtude, para novas atitudes.
  E daremos as mãos; e teremos um mesmo pensar.
  Para que possa nascer a união
  Que nos fará caminhar . . .por caminhos novos.
  E possamos alcançar, depois do vôo alçar,
  A ligação com o Ser
  E assim renascer.
D I R E I T O  D E  S O N H A R
        17/10/87
   Não nos arrebate o direito de sonhar
   Você poderá desejar material fidelidade
   Mas permita que possamos sonhar
   E mesmo no sonho a felicidade encontrar
   É tão bom sonhar um grande amor
   Que existe alguém para nos felicitar
   Sem julgar ser isso um favor
   E que juntos possamos a vida desfrutar
   Somos atingidos pelo desamor
   Quando percebemos que o sentimento morreu
   Assalta-nos a dúvida, a angústia, o temor
   A nossa vida como o amor feneceu
   Vivemos sonhando a esperança
   De nossa vida poder reconstruir
   Mas os sonhos são sonhos
   Que a vida insiste em desfazer
   Agora o que nos liga à vida
   E consiste no elo da existência
   É o direito subjetivo e inalienável        De desperto ou no sono, continuar a sonhar.
P R O C U R A  D A  V E R D A D E
        Rudge Ramos, 29/08/87
   Oh! Deus!
   Dá-nos sabedoria!
   Para que mais que amar,
   Saibamos fazer as pessoas
   Sentirem quanto as amamos.
   É tão difícil enxergar
   Quando precisamos provar!
   O amor não é um objeto
   Que podemos apalpar.
   Ele não aparece ao acaso
   E sim ao fim de longa vivência
   Pela fusão de duas almas
   Quando, acima de tudo, há o desprendimento;
   E se torna num sentimento
   Que toma conta do ser
   Sem mais querer saber
   Ou ouvir, do consciente a razão;
   Um sentimento que abrasa
   E transforma a matéria
   Torna a vida em etérea
   Eliminando a incerteza.
   Dá-nos, Senhor, essa certeza!
B A N D A  N A  P R A Ç A
       
        Mococa, 16/08/87
   
   Toca, banda; toca um dobrado
   Daqueles quentes, bem ensaiados
   Acorda meu espírito infantil
   De ouvir-te fico assanhado.
   Mil imagens percorrem minha mente
   Tu te identificas com a banda do meu povoado
   Parece, até, que todas as bandas do mundo
   São uma banda só.
 
   Olhem o homem do bumbo e o do trombone
   Aquele do prato, parece seu Zé do Bonde;
   Sax, clarineta, tudo bem ajustado
   Até dá gosto ver tanta dedicação
   
   Ha! Que saudade da minha infância
   Festa do Divino, São Sebastião
   Quanta inocência existia
   Quando namoro era de bilhetinho.
   Meus olhos extravasam emoção.
   Que pena que os anos passaram!
   E que haja do passado rompido o elo,
   E que nem eu mais exista tal qual era!
P A R T I R
Partir! Partir para uma vida nova!
Deixar as mágoas, amarguras,   
Fazer o que der vontade
Procurar mudar, buscar algo realizar.
Tanta luta para até aqui chegar!
Rosas, espinhos, tivemos que pisar;
Engolir mágoas, mergulhar na angústia,
Conhecer o negro e assim mesmo amar.
Amar para não desesperar
Doar de mim sem reclamar
Sem recompensa poder esperar
Vendo a frustração a se instalar.
Quero passar a um outro ciclo
Novos eventos, concretos, criar.
Viver a vida sem divinizar
Misturar-me, com a massa fundir.
Será que a vida me dará nova chance
De reconstruir a partir de estilhaços,
Um novo horizonte espargido de paz
Ver o sol brilhar, iluminando outra vez o amor?
R O L A N D O  A  V I D A
        Mococa, 16/08/87
   Rolando a vida sem pudor
   Viajei nas asas da ilusão
   Sem olhar a necessidade que sentiam
   De um gesto de amor os irmãos
   Defraudei a vida de sentido
   Roubei do inocente a esperança
Busquei só prá mim a ventura
   De a felicidade possuir
   Não percebi do Ser a mágoa
   A dor pelo meu descaminho
   Ignorei a luz que Divina fruía
   Não senti a mão que em mim pesava
   Mas atingido por célere castigo
   A Deus roguei, me desse luz
   Que pelo sangue de Jesus
   Fosse o meu pecado lavado
Transformado renasci prá vida
   Superei do passado o mal
   Viverei procurando no futuro
   A sublime, a doce flor do amor.
C R U E L  R E A L I D A D E
        Mococa, 12/08/87
   Velhinho que volta da roça
   Quando o sol já se vai recolhendo
   Cantando feliz entra em sua choça
   Encontra a velhinha o feijão escolhendo
   Já se foram os filhos crescidos
   Já se foram até alguns netos
   Para outras coisas foram nascidos
   Intelectuais, alinhavam alguns sonetos
  
   E o casal que o amor uniu
   E que venceu valente o tempo
   Conserva do passado a esperança
   Da felicidade guarda a lembrança
   Quantas lutas travaram no passado
   Para o futuro dos filhos garantir
   Sonhando que no futuro, entrelaçados
   Teriam a segurança por porvir
   Agora, esperando juntos a morte
   Assoma cruel realidade
Os filhos se foram prá cidade
   Sozinhos se quedam em triste sorte.
F O M E  D E  A M O R
       Mococa, 20/08/87
   Esta fome incontida
   Este desejo de receber afeto
   A mágoa no coração sentida
   Machuca-me e me transforma em dejeto
   O afeto não se pode comprar
   Ele tem de nos ser oferecido
   Nasce de um coração que quer amar
   De um desprendimento consentido
   Desejaria assim amar
   E no meu caminho encontrar
   Corações a derramar
   Para minha fome saciar
   Meu coração calejou
   Nas lidas e lutas da vida
   E até agora não encontrou
   Em outro ser a guarida
   Desejo profundamente amar
   Quero o amor espalhar
   Sem precisar a ninguém explicar
   Por de “meu amor” te chamar.
L I G A Ç Ã O  T R N S C E N D E N T A L
        Mococa, 15/10/87
   Vamos emergir o nosso egoísmo
   Vamos envolvê-lo pelo amor Divino
   Vamos restaurar a mensagem do evangelho
   Para que nos religuemos ao infinito.
   Tenhamos bem presente a realidade
   De que o homem possuiu e perdeu a capacidade
   De experimentar e expressar o verdadeiro amor
   Para ligar-se a Deus e viver sem temor
   Restaurando a capacidade teremos vida
   Não vida física que é transitória
   Mas vida em plenitude
   Que com Deus durará pela eternidade
   Isso não nos transformará
   Para sermos melhor homem
   Antes de enriquecer nosso intelecto
   Trará riqueza para a nossa alma
   O caminho para o infinito
   Para uma ligação transcendental
   É enriquecer a alma imortal
   Abandonando o egoísmo  e abraçando o amor
 P E L A S   E S T R A D AS   D A  V I D A
        Mococa, 12/08/87
   Ah! Que vontade de me por no estradão!
   Abandonar, largar de vez agonia.
   Assumir sem lágrimas a solidão,
   Não mais querer transformar a vida em sinfonia.
   Quando o amor que é vida morreu
   Rolando esperanças pelo chão
   Quando nossa alma a perda já sofreu
   Não mais sacia a fome o simples pão.
   Assola-nos a desventura, o vazio,
   Debatemo-nos no labirinto da dor
   Abate-nos, do inverno, o estio,
   Foge-nos a esperança de amor.
   Olhamos para trás a rever as ilusões
   De mil quimeras que a vida nos traria
   Sonhos de amor transformados em aflições
   É a realidade que tudo contraria.
   Sigo pela estrada sem destino
   Talvez ainda encontre suave ninho
   O imprevisível amor talvez me dê carinho
   Para que ainda ouça suave sino.
V E L H A   A M A R G U R A
        Mococa, 24/05/87
   Lá na capital paulista,
   No bairro de Santo Amaro
   Quando, na adolescência, eu sonhava
   Conheci uma linda menina
   A cor dos seus olhos eu nem sei
   Mas o seu sorriso comigo guardei
   Agora, do fundo do coração.
   Prá Walkyria faço uma canção
   Em solitário me transformei
   Desde que um dia ela partiu
   Para Itapeva foi e se escondeu
   Outro destino longe de mim escolheu.
   Eu cresci amargurado
   Por nunca ter o meu amor reencontrado
   Minha vida foi marcada de saudade
   Minha alma sofreu desamparada
   
   Quase meio século passado
   De esperança o coração envelheceu
   Quando, logo, meus olhos se fecharem
   Levarei esse amor prá eternidade.
T E M P E S T A D E
   O vento forte revoluteia
   Torna-se cinzento o céu
   Estende-se lúgubre como teia
   Parecendo mais, de luto, um véu.
   Os relâmpagos cortam o espaço
   Reboa o estrondo estridente
   Recolhe-se a beata em seu regaço
   Faz sinal da cruz e trilha o dente.
   Cai a chuva igual diluvio
   Corre pela sarjeta a enxurrada
   Contrastando co’a lavra quente do Vesúvio
   Espalha-se fria, enregelada.
   Tudo leva com impetuosidade
   Lava o céu, retira o cinza.
   Logo se espraia pela cidade
   O arco-íris esplendido centraliza
   A cidade, como jovem índia, sai do banho,
   Espreguiça-se divina, sob o sol,
   De novas conquistas, ativa, faz o rol,
   Relembra já livre, os amores de antanho.
C O N T I N U A N D O  A  P R O C U R A
 Quando. . . A emoção envolve o nosso ser,
 Quando o coração dilata-se no peito,
 E a pressão empurra e revolve os humores,
 E a emoção sobe, transbordando pelos olhos
 Umedecendo a face.
 A sensibilidade aflora...
 Tornamo-nos num filtro que purifica a alma.
 Esta se extrapola e envolve o homem físico transformando-o
 Regenerando-o e levando-o por caminhos novos.
 O passado acaba-se sem possibilidade de retorno,
 O presente que é um átimo  do tempo esvai-se,
 E impossibilitados de prever o futuro,
 Transformamos-nos em seres sem perspectivas.
 Este rápido momento, 
 Transforma-se num tempo de saber Divino.
 O saber transforma-se em conhecimentos novos,
 E buscamos o Ser primeiro,
 O Verbo que transmite o amor.
 Já não sentimos dor, embriagados de certeza,
 De verdade sem saber de que.
 Esse momento transforma-se num vazio,
 Vazio repleto de incertezas.
 Mergulhamos no profundo do desconhecido
 Sedentos de uma ligação transcendental.
 Conseguimos o elo sobrenatural
 Que pára  e estende o tempo,
 Que delimita e expande o espaço.
 Já não somos seres naturais.
 Desde que não existe tempo e espaço
 Sentimo-nos prisioneiros do universo,
 Desaparecidos na imensidão do infinito.
 Como voltarmos a seres naturais,
 Emergirmos das regiões abissais?
 Voltarmos à vida igual,
 Sem artifícios de poder gerar,
 Acontecimentos tais?
 Podermos sentir novamente a emoção,
 Criar aspectos normais
 E sermos um feliz mortal!
V I D A  F R U I D A
 Minha vida frui como um rio da Amazônia
 Em meu peito pororoca o Solimões
 O tédio me abraça causando insônia
 Deste mal quero tirar lições
 Uma alma criada para o romantismo
 Jamais poderia quedar-se na rotina
 Agoniza abandonada no ostracismo
 Espera a morte, não foge à triste sina
 Já se foram os sonhos da juventude
 Esmigalharam como poeira do caminho
 Mergulhou a alma em profunda quietude
 Procura o coração um suave ninho
 
 Desejo a felicidade alcançar
 Prá ser dono do destino, lutar.
 Quero ser leve para o vôo alçar
 Vencer sem ser preciso a vida tirar
 Luto para a vida conservar
 Vejo na natureza a vida
 Assisto triste a devastação que trucida
 Sofro porque o homem não sabe preservar.
NOITE DE INSÔNIA
      Mococa 15/08/87
Noite quente céu pouco estrelado,
 A lua estende seu manto prateado
 De minha janela a tudo alheado
 Contemplo a abobado estrelada.
 Vejo a cidade que descansa
 Algumas poucas janelas mostram luzes
 São retardatários que ainda chegam
 Cansados do dia de trabalho
 Logo se acomodam e aquietam
 E a noite silencia medrosa
 Dir-se-ia que fecha a porta do passado
 Abrindo a de entrada de um novo dia
 Os galos cantam o amanhecer
 Com seus cantos roufenhos
 Logo se estabelece a alvorada
 Parecendo até uma multidão que grita
 
 Sopra agora um vento gostoso
 O sol desponta para iluminar um novo dia
 A cidade se agita e se agiganta
 Sai o homem-povo para procurar ganhar o pão.
Q U E M  S O U  E U ?
      
       Mococa, 21/09/87
 Quem sou eu?
 Quem sou eu que transito pela vida,
 Possuído de profunda amnésia?
 Quero mergulhar no meu ser
 Buscar no eu mais profundo
 A verdade da minha existência.
 Pairam nuvens esparsas nos ser
 E encobrem o que eu queria saber,
 Descobrir o que fui no passado,
 Para que pudesse ressarcir,
 Dos prejuízos, os irmãos ofendidos.
 Apagar os males que de mim receberam.
 Desejo mergulhar no passado
 Para, livre, o presente poder viver,
 E espargir para o futuro,
 Do amor, os reflexos.
 C A R Ê N C I A
       Mococa, 23/09/87
 Andei mendigando pela vida
 Para ver se encontrava alguém
 Que me desse amor,
 Que me oferecesse alento
 Meu coração estava carente
 Minha alma quedava-se silenciosa
 A própria vida estava ausente
 Fugia-me essa chama preciosa.
 
 Contemplava a gente que passava
 Esperava ansioso uma destra amiga
 Mas só o que se me oferecia
 Era, no peito, crucial adaga.
 Quero viver um grande amor
 Não me satisfaz simples paixão
 Esta tão somente causa dor
 Deprava a vida e a leva ao chão.
 Desejaria encontrar, no meu caminho o amor
 Que me amparasse sem ser esmola
 Que fosse um sentimento que consola
 Que com seu carinho afugentasse a dor.
D R U M M O N D, 17 de Outubro de l.987
 A inspiração saiu de férias
 Para refazer-se do susto
 Vestiu roupas de cores sérias
 Protestou pelo que não achou justo.
 
 Por longos anos andara viajando
 Gozando, dos esplendores, a paz
 Singrando os mares, velejando,
 Nas asas da imaginação falaz.
 Mas o seu maior prazer
 O que lhe dava mais gosto
 Era, com certeza, trazer.
 À contemplação, daquele menino o rosto.
 Menino que cresceu
 E de sua cidade se foi
 E assim um poeta nasceu
 Para cantar o amor, o homem, a flor.
 Mas hoje tudo findou!
Dos cânticos só ficou a saudade
 Morreu o poeta, foi morar na eternidade,
 Como águia seu vôo alçou
C I D A D E  E  C A M P O
       Rudge Ramos,25/02/87
 No campo o homem fere e cava o chão
 Pensando que na mesa terá pão 
 Na cidade o operário ergue a obra
 Na certeza que prá família terá sobra.
 
 Mera ilusão, logo vem o desengano.
 Sai um do campo e vira cigano
 Melhor sorte não tem o operário
 Com a família vai viver em um tugúrio.
 Ao magnata apelam, gritam em vão.
 Suas esperanças morrem, vão ao chão.
 Enquanto patrão voa para América do Norte
 Os dois lamentam triste sorte.
 Melhor justiça se faz mister
 Para que todos o necessário possam ter
 Supérfluo não engorda quem o tem
 Mas ao pobre o pouco ajuda e faz bem.
 Temos que usar de sabedoria
 Fazer patrão e empregados darem as mãos
 Criando paz, justiça e alegria
 Para que todos vivam como irmãos.
O U V I N D O  A  N A T U R E Z A
        Rudge Ramos,28/02/87
 Ouço uma suave melodia
 Que a alma transforma em sinfonia
 Como orquestra toca a alvorada
 Alegre acorda a passarada
 O sol desponta no horizonte
 Os animais enveredam-se prás fontes
 A mata espreguiça-se e estala
 Armadilhas arma ao intruso que atrapalha
 O sol brilha como oiro
 Sai prá capina o crioulo
 Cai a chuva que fertiliza
 Prá completar o adubo se utiliza
 Da terra gera a planta verde vida
 Defende-se da praga que trucida
 Transforma-se o grão em alimento
 Para ao homem cansado dar sustento
 
 Oh! Que bela música se entoa
 É a criança que é participante
 Nesta terra bela em que cada um é viajante
 E a vida toda assim se escoa.
D E S T I N O  I M P L A C Á V E L
        Rudge Ramos, 20/03/87
 Luto contra um destino implacável
 Que me trouxe à vida uma tormenta
 Procuro livrar-me das correntes
 Que me prendem ao passado.
 
 Quantas esperanças o passado prometia
 Que tombaram à beira do caminho
 Feriram-me mágoas transportadas
 Para um coração cheio de carinho
 Olhando para trás fico sonhando
 Almejando a ventura alcançar
 Buscar bem no fundo a lembrança
 Do grande amor que fracassou
 Quero ver renascer a harmonia
 Desejo ver luzir nos olhos a esperança
 Para tirar da alma tanta angústia
 E para transformar a minha vida
 Olhando para frente vejo o amor
 Que no passado longínquo me deixou
 Volta para que possa preencher
 O coração, a vida, até o fim!
D E S E S P E R A N Ç A
       Rudge Ramos, 30/03/87
 Quando a natureza que é bela
 E que é feita para alegrar
 Para a criação amparar
 E ao homem sempre suster.
 Encontra-se com seus protegidos
 E rudemente se sente agredida
 E assiste morrer a fraternidade
 Sentindo o amor que é vida fenecer
 Quando o homem só pensa em si mesmo
 E tudo faz para enriquecer
 Pisando sem piedade o irmão
 E, orgulhoso, só dá vazão ao seu ser.
 E a criança, abandonada por todos.
 Sente perdida a esperança
 Fugindo-lhe o futuro das mãos
 E, assustada, solta do peito agonia.
 Então Deus que é vida se ira
 E cura dos inocentes a dor
 Castiga sem piedade a mentira
 Junto co’a natureza revive o amor.
S O L I D Ã O  A  D O I S
       Mococa, 23/08387
 Oh! Angústia da separação!
 O vazio de estar sozinho!
 Não causado pela morte.
 Essa até seria melhor sorte!
 Mas presente a sequidão de estio
 Que da vida tira todo o brilho.
 Do passado vem-nos a lembrança
 Da juventude repleta de ilusões,
 Saudade dos sonhos projetados
 Que pelo futuro foram rejeitados
 Tirando do peito a ilusão
 E plantando em seu lugar a solidão.
 Agora o que nos causa dor
 É que não haja mais amor.
 Duas vidas juntas, separadas,
 Dos corações as portas já fechadas.
 Embora as almas tenham sede
 E enfermas repousem em sua rede,
 Implorando a caridade de um carinho
 Para, de amor, criar um ninho;
 Um obstáculo veda o caminho;
 O orgulho, o egoísmo, a ingratidão,
 Que do ser degenera a aptidão.
 Lanço meu grito de agonia
 Que como bela e triste melodia
 Ecoa no labirinto de minhas ilusões.
 Procuro no profundo do meu coração,
 Para da sede do amor tirar uma oração;
 Busco o elo que me liga a Deus
 Para que cada ser ligue-se ao que é seu.
 Que eu não seja alvo da irrisão,
 Que entre nós, a dois, não haja a solidão.
 P E R D A  I R R E V E R S Í V E L
        Mococa, 26/08/87
 Eu te perdi no dia em que te conheci.
 Talvez porque não soube amar,
 Ou não soubesse incentivá-la ao amor.
 Mas. . . a realidade, mesmo, é que eu não a amava!
 O amor foi feito para os pares certos;
 É necessário haver o encontro,
 E que as almas se misturem;
 Que as pessoas se conheçam
 E mergulhem na essência do Ser
 Purificando-se . . .
 Dando-se umas às outras.
 Mas . . .você também não me amava!
 Essa é a realidade!
 Cruel realidade!
 Duas almas enredadas
 Duas vidas aprisionadas.
 Vítimas da covardia,
 Não vislumbram possibilidade de retorno.
 Envolvidas pela rotina
 Duas vidas se estraçalham.
 Eu te perdi . . .
 Tu me perdeste . . .
 Nós nos perdemos . . .
S O L I D Ã O II
       Mococa, Agosto de 1.987
 Sou um homem só!
 Não que eu não tenha amigos,
 Não que eu não tenha pessoas ao meu lado,
 E sim porque não estou ao lado delas!
 Me esquivo da vida, das amizades!
 Não sou como as pedras do caminho!
 As pedras do caminho!
 As pedras que rolam pelo caminho!
 Rolam pela poeira,
 E para elas não há esperança.
 Mas por certo não gostariam de ser
 Como as pessoas que passam
 Que costumam dizer
 Tudo que sentem
 Quando estão a caminhar.
 Com um gemido latente
 Mostram que não estão contentes
 Com a vida que levam.
 Reclamam de seus amores
 Que não lhes prestam favores.
 Lamentam a triste sorte
 De se encontrarem sós . . .
 Escolheriam fácil a morte!
 Embora tenham com quem dividir
 E até se possam divertir.
 As pedras não são assim,
 As pedras que rolam pelo caminho . . .
 As pedras que rolam no pó,
 Porque as pedras não estão só.
 Embora se batam e se firam
 Na poeira do caminho
 E a si mesmo causem dor
 Elas se dão umas às outras
 Podem até ensinar ao homem
 Os caminhos do amor..
R E E N C O N T R O
 Reencontramo-nos na eternidade,
 Relembramos o passado com saudade.
 Trocamos idéias sobre nossas missões
 Despedimo-nos outra vez em ansiedade.
 
 Era mister o sofrimento,
 Pois acima de nossos sentimentos,
 Urgia o tempo para que em um só pensamento
 Partíssemos para a realização de novo evento.
 Triste era o que se nos impunha
 Embora fundidos em um mesmo ser
 Solidificados em um mesmo pensar
 Deveríamos seguir por caminhos diferentes.
 Para que um ao outro nos encorajássemos
 Se nos permitiu um breve encontro,
 Retemperamos nossas almas irmãs,
 Para em seguida dizermos novamente adeus.
 Quão distante hoje nos encontramos
 Duas almas gêmeas que se amam tanto!
 Você aí cuidando de uma família etérea
 Eu, aqui, em igual mister te esperando.
D O C E  E S P E R A
 A vida se desenrola
 Numa doce espera
 Sempre chega a hora
 Quando não se desespera.
 
 Mesmo que venha a amargura
 Mesmo que a vida fique vazia
 Teremos a paz bem segura
 Ainda poderemos criar a fantasia.
 
 A fantasia nos enche de esperança
 Porque nos anima a confiar no futuro
 E sempre teremos gravado na lembrança
 Que teremos um porvir seguro
 
 A segurança nos trás a certeza
 Que uma força nos conduz
 Nos orienta e dirige com presteza
 E leva-nos para o que nos seduz
 
 O que nos seduz é uma bela vida
 Que desenrolamos em doce espera
 Tendo a certeza que quem não desespera
 Estará seguro nos seio dela.
A  M   O   R
 
 
 O amor é o encontro de duas almas em um plano superior à matéria. Dizem que os olhos são o espelho d’alma e nós dizemos que a voz é o compasso do coração. É através dos olhos que podemos vislumbrar toda a pureza de uma alma e é através da voz que percebemos a emoção provocada pelo nascimento do amor. Esse sentimento reflete-se à luz, quando os olhos se encontram e as palavras tremulam no labirinto das emoções. Então as almas misturam-se como em uma taça de cristal e transbordam, jorrando como uma fonte inesgotável, porque o verdadeiro amor é imortal.
 Porém, o homem, material, sente em si transformações físicas que o fazem modificar o sentimento imortal em matéria perecível e, os influxos sublimes do êxtase terminam em cinzas.
S I L Ê N C I O
 
 “Quando todos te disserem para calar-se, você ainda terá muito a dizer; quando todos te quiserem ouvir você já poderá calar-se”
 A resposta do sábio a todas as perguntas é o silêncio. Os que muito falam, geralmente, não apresentam o conteúdo que se esperaria de um sábio, enquanto o silêncio inspira à reflexão para que através dela possamos extrair toda a potencialidade do conhecimento.
 Nós, enquanto inseridos no rol de pobres mortais, não conseguimos perceber a fonte da vida, que está além da própria vida. Somente quando compreendermos que a vida se delimita pela eternidade e que o tempo de vida física e o pertencente à chamada morte, são partes de um todo, estaremos preparados para rompermos o silêncio através do próprio silêncio.
 Como seres humanos, envolvidos pela matéria, não alcançamos o discernimento necessário para vencermos o tempo e o espaço e aventurarmo-nos no conhecimento de nós mesmo, através do mergulho interior, para o imponderável, que abrange, presente, passado e futuro. Somos observadores da contemporaneidade e a nossa percepção é incapaz de sequer estabelecer quem somos nós. Talvez os filhos dos nossos filhos terão a percepção necessária para saberem quem fomos nós.
 A paciência, a paz e a quietude espiritual nos capacitarão a adquirirmos os conhecimentos para não querermos ser o que não somos e julgarmos aqueles que pensamos não serem.
 O resto é . . .
N O V  A S   E S P E R A N Ç A S
 Quando ouço a vitrola do vizinho,
 Arranhando o disco suavemente
 Eu sinto que não estou sozinho
 Que ele, de longe, está presente.
 
 As belas modas de viola,
 Cantadores do interior,
 Alegram a manhã maviosa
 Trazendo mensagens de amor.
 E eu que estava solitário
 Sinto a presença de alguém
 Já não sinto aquele vazio
 Que ,às vezes, regela a alma
 Novas esperanças nascem
 Novos planos para o futuro
 Retempera-se a vontade
 Para alcançar um belo augúrio
 Tudo isso foi conseguido
 Simplesmente por um elo momentâneo
 Doação de um coração de conterrâneo,
 Sem mesmo haver argüido.
M   I   T   O
 Me apaixonei por uma ilusão,
 Quis encontrar o mito construído,
 Em momentos de solidão,
 Nos idos tempos da juventude.
 Me esmerei na escolha de virtudes,
 Que coloquei na deusa deslumbrante;
 Penetrei até nos pensamentos
 Daquela imagem resplandecente.
 Guardei, daqueles olhos ternos,
 A bela expressão da inocência
 Que, como eu, contemplava,
 Também, o nascer do amor.
 Naquele momento do encontro
 Misturamo-nos num elo consentido;
 Firmamos um pacto eterno
 De sempre nos pertencermos.
 Mas, na vida que vivi, então,
 Na procura vã de revê-la presente
 Mais a vida se fazia ausente
Matando o mito que jamais nasceu.
N Ã O   S E   V Á
 Oh! Figura que se adensa
 E envolve-se pela bruma
 A fugir de minha presença
 A tecer misteriosa trama!
 Quero vê-la despida de segredos
 Vestida só pela natureza,
 Sem tramar sua fuga ou degredo
 Antes de mostrar ao todo sua beleza.
 Mas, ainda mais desnuda quero vê-la,
 Penetrar sem resistência a sua mente,
 Conhecer além do corpo a alma
 Para, unidos, sabermos o que se sente.
 
 Em delírio místico ligados
 Aos sonhos de dias já passados;
 E sonhando, ainda deslumbrados
 Com o ideal de tempos não vividos.
 Espere! Não se vá!
 Sem antes procurar saber,
 O que tenho a oferecer,
 Antes de saber o que é amar!
R E C O M E Ç O
 Onde estavas encantada musa,
 Enquanto tantas vezes sonhei em encontrá-la?
 Eu, triste me quedava visualizando o dia,
 Desejando, em um vôo conquistar o tempo,
 Em que a possuísse inteira.
 Jamais me satisfaria, um dia,
 Que me destinasses poucas prendas,
 E desviasses, sequer, os pensamentos,
 Volvendo-os para ligações estranhas.
 Será que como eu, você também,
 Sonhava com o amor primeiro?
 Que em seu peito nasceria,
 Tardio, quando nos olhássemos,
 Depois de provarmos a emoção,
 De misturarmos o timbre de nossas vozes,
 E percebermos, no labirinto dos sentimentos,
 Que nascemos um para o outro?
 Daqui por diante, é certo,
 Embora contra o mundo lutemos,
 Pertence-nos o inalienável direito
 De, em delírio proclamarmos o amor.
 Cumpre-nos neste encontro a ventura
 De vidas misturadas
 Num envolvimento total.
 Reflexionamos sobre o passado
 Que não nos ofereceu o esperado;
 Revisionamos nossas vidas,
 Para que tenha novo começo.
O   Ú L T I M O   D I A
 Um dia, será o último dia,
 E um de nós estará contemplando,
 Impotente, a mudez do companheiro,
 Mesmo conformado, com o coração compungido.
 Serei eu, será você
 Que vivo contemplará a morte?
 Serei eu ou você,
 Que terá emudecido o lamento?
 
 Então tu me veras partir
 Para o outro lado do mistério;
 Em vão procurará reviver,
 Os momentos que vivendo não vivemos.
 Mas não fique triste
 Nem imagines que tudo finda
 Que ao calar retiro-me prá sempre.
             
 Mais vivo a vida me conserva!
 Aguardando no fim da caminhada,
 Estarei feliz te esperando.
O   A T O   D E   E S C R E V E R
 O ato de escrever uma carta,
 Registrar um pensamento,
 Ou escrever uma longa história,
 Exige a exteriorização do ser.
 É a alma que transborda,
 Depois de rebuscar as entranhas,
 De buscar no mais recôndito do ser,
 Nuanças brilhantes de coisas estranhas.
 Buscamos algo inusitado,
 Que transforme o presente.
 Por antes não termos encontrado,
 Aquela que se fez ausente.
 O amor cresce em nosso peito,
 A emoção espreme o coração,
 Sentimos uma dor sem jeito, 
 E nos escapa uma oração.
 Tentamos reter a torrente
 Que a emoção não mais prende
 O peito dói pela saudade que corrói
 E um mar de lagrimas tudo destrói.
O M B R O   A M I G O
 Que bom podermos contar
 Com alguém que nos ouça
 Sem querer nos contestar
 Para mudarmos nossa história!
 
 Alguém que abra o coração
 Para receber bênçãos e mágoas,
 Onde despejamos como oração
 Na ânsia de desfazer o obvio!
 No vão desejo de crer vivo
 O sentimento que já se foi!
 Tirando da vida o sentido,
 Matando no peito a esperança!
 De, os belos olhos voltar a ver,
 Em uma promessa de amor,
 Juras de ainda poder ver,
 Na vida, acontecimentos de louvor!
 Mas, o simples desejo não refaz
 Um sentimento que já morreu
 Vencido pelo tempo que correu
 Deixando-nos vencidos para trás!
T E M P O   E   E S P A Ç O
 Gostaria de, neste momento que escrevo,
 Poder traduzir o sentimento de dor
 Que oprime o meu peito
 Desejando vencer o tempo.
 Desejaria, acima de entender,
 Conseguir sobrepujar o tempo
 Ser senhor, também, do espaço
 Para eliminar as limitações.
 Poder realizar a união
 De almas que se desejam
 De corpos vencidos pelo espaço
 De vidas separadas pelo tempo.
 
 Porque o espaço nos separa,
 Se o amor nos une pelo sentimento?
 E o tempo nos une pela eternidade,
 Embora distantes, presente estejamos?
 
 Precisamos vencer o tempo e espaço
 Para sobrepujar a dor.
 Vencermos pelos elos do amor,
 Apagarmos da alma o lamento!
V I D A  B R I L H A N T E
 Como é difícil transmitir
 Os sentimentos secretos
 Que não desejamos admitir
 Para conservarmo-nos discretos!
 Porém isso constituiria o alivio
 Para um coração amargurado
 Que procura lenitivo
 Para um ser desfigurado
 Destruído pela desilusão
 Esquecido pela ventura
 De algo possuir, concretizar
 Guiado por mão segura.
 Que o leve por caminhos novos
 Para colher, além de um dia
 Quando pela desdita esquecido
 Ainda, a suave flor do amor!
 E poder reconstruir lá adiante
 O ninho que a falsidade destruiu
 E saber que a providência não desistiu
 De tornar a vida brilhante!
E U   V Í
 Na minha Bíblia eu vi
 O que o Pai Santo espera de mim;
 Paz e amor, e também de você
 Para que amando sejamos irmãos.
 
 
 Ser humilde de espirito
 Para gozar o reino do céu
 Ser a luz do mundo
 Para sobre todos resplandecer.
 Derramar minhas lagrimas
 E também aos outros irmãos consolar
 Ser o sal que tempera
 E se presta para conservar.
 E mesmo quando injustiçado
 Oferecer a outra face
 Ainda que seja perseguido
 Por todos os meios pacificar
 Mesmo que seja tentado pela luxúria
 Saber respeitar a mulher do meu próximo
 Que seja o meu falar sim, sim; não, não,
 Essas coisas todas na minha Bíblia eu vi.
Q U A T R O   E S T A Ç Õ E S
  Encontrei-a na praia
  Amorenando o seu corpo esguio
  "Curtindo" o calor do verão
  M . . .partiu sem me dizer adeus.
  Reencontrei-a na cidade
  E a alegria voltou à minha vida
  Pois em meu peito crescia a saudade
  Mas ela foi-se como as folhas do outono.
  Nova alegria me deu o inverno
  Estação que gera amor e sensualidade
  Por baixo de elegantes agasalhos
  Evolava o perfume do corpo macio
  Mas foi na primavera
  Estação de esperanças e amores
  Que explodiu a flor primeva
  E misturamo-nos em perfumes e flores
  Mas agora tudo findou
  De tédio a fantasia acabou
  Partimos para lugares estranhos
  A percorrer os mesmos caminhos de antanho.
O L H A N D O   O   P A S S A D O
 Quando volvemos o pensamento ao passado
 Ficamos querendo que o tempo não haja findado
 Porque não tivemos tempo sequer para sonhar.
 Por que o tempo não nos deu tempo para alcançar?
 
 Aqueles sonhos tão belos
 De coisas que deveriam acontecer
 Enfeitar de alegrias a vida
 Como os sonhos na hora de acordar.
 Encher o coração de amor
 Esquecendo que a vida é realidade
 E que não há espaço para a ilusão
 De vidas em união sublimadas.
 
 Vêm-nos à mente a nostalgia
 Por tramas que criam a mentira
 Para apagar do peito até a saudade
 De um tempo bom que passou.
 Por que nos confunde o tempo
 Que se interpõe frio para marcar
 De amor, de tristeza, de dor,
 A vivência de hoje, ontem, amanhã?
A   D E U S A   E   A   F L O R
 Em um dos dias de minha solidão
 Quando da vida pouco espero
 Quando se hasteia do desalento o pendão
 A dor aprofunda meu desespero.
 Do passado retorna à minha mente
 A visão de Deusa e de Flor
 Revivendo no solo a semente
 Inspira a musa, perfuma a flor.
 Busco no fundo do meu ser
 A deusa nórdica Walkyria
 Da primavera a Rosa quero ver
 Realizar um sonho é o que eu queria.
 As duas preenchem minha desilusão
 Uma inexistente como o mito
 A outra, sólida afugenta a solidão
 Mas sem as duas a cismar eu fico
 Quero cultivar a flor real
 Pois  no mito o tempo corre
 E a Deusa Nórdica morre
 Mas a Rosa sempre é amor real.
S A U D A D E
 
 Quando deixo São Paulo
 Afugentado pelo mau tempo
 Querendo livrar-me da garoa
 Do cortante vento que regela a alma
 
 Afastando-me da fumaça
 De tanto ruído sem graça
 Da violência que o humor estraçalha
 Do frio em qualquer estação
 
 Então me aventuro pelo mato
 Recuso cumprir qualquer trato
 Pois antevejo prazeres esparsos
 A chamar-me para gozá-los
 Além das montanhas verdejantes
 Onde a natureza se expande
 Coberta por um céu de anil
 Brilhando com sol ou estrelado
 Mas quando me afasto
 E embora anteveja prazeres
  Uma dor profunda dilacera meu peito
 Já é a saudade a me chamar de volta.
I N T E R L I G A Ç Õ E S
 
‘ Há um caminho enorme
 Entre nós e a eternidade
 No entanto liga-se pela mesma estrada
 Na qual todos caminhamos
 As separações de tempo e espaço
 São meras concepções nossas
 Liga-se o tempo sem intervalos
 Ligam-se  os espaços sem lapsos.
 As esperanças concretizam-se
 Transformam-se em dádivas
 Com as quais nos premia a vida
 Talvez para nos cobrar depois
 Procuramos, nesta estrada sem fim
 Encontrar acolhidas amigas
 Corações que nos incentivem
 Ao fim do caminho chegar.
 Mas, qual o nosso destino
 Para onde caminhamos nós?
 Será que algum dia saberemos
 Tudo o que iremos encontrar?
 A  D  E  U  S
  Um adeus é sempre dorido
  Ele indica vidas separadas
  Vislumbramos um futuro indefinido
  A nos esperar no final da estrada.
  Essa dor que nos assola, indefinida,
  Sem manifestar-se nem se ir,
  Deixando o nosso coração pequenino,
  Apertado pela vontade de ir também.
  Desejamos alcançar cenas passadas,
  Fazer renascer outras lembradas,
  Ressuscitar a felicidade que se vai
  Sem mais esperança de voltar. 
  
  Agarramo-nos à despedida
  Fazendo dela o elo da esperança,
  Algo que desminta a desdita
  De vidas que não mais se encontrarão.
Mas essa dor crucificante
  O temor de o futuro enfrentar
  Cura-se com o tempo
  Quando medicados pela saudade.
H O R A S   S O L I T Á R I A S
 Meu coração é como um relógio antigo,
 Já deu muitas voltas pelo tempo;
 Rodando em torno de si
 Quis alcançar o infinito.
 Mas, embora muito caminhemos
 E possamos nos adiantar no tempo
 Se for em torno de nós mesmo
 Jamais sairemos do lugar.
 Não seremos nem capaz
 De junto a outro ser chegar
 E presos em nosso egoísmo
 Sempre sozinhos teremos de estar.
 Porque o tempo não vence o espaço
 Que nos separa de quem queremos amar
 O amor só nasce no peito
 Quando aprendemos a nos aproximar.
 Coração que já deu muitas voltas,
 Sem encontrar alguém para amar;
 Será que só quando estiveres parado,
 Sentirão que também queres ser amado?
M A R I A   C L A U D I A
 De minha casa, à distancia;
 Eu enxergo a sua janela
 E aquelas esquadrias coloniais,
 Servem de moldura para o meu sonho.
 Imagino-a bela e esplendorosa,
 Emitindo energias positivas,
 No desejo puro e inocente
 De também me alcançar.
 És para mim a Monalisa
 Inspiradora de romance
 Que do coração derrama amor
 Que humana derrama a alma.
 Maria Claudia, personagem de romance,
 Que nos ajuda a sonhar;
 Encoraja-nos a buscar
 A vontade de amar.
 Para fundir no amor também o sonho,
 Transformando-o em destino risonho,
 Fazendo, até, que a Vênus de Milo,
 Crie braços para abraçar.
N Ã O   T E M   V O Z
 
 O negro, mudo,
 Segue a orientação
 Do dono que o castiga
 E não o deixa crescer.
 Quem é o dono
 De quem deseja crescer
 E tem a liberdade
 De poder falar?
 Quem quer aprender
 Para poder ser
 Luta pelo seu ideal
 Busca a sabedoria
 Luta pela liberdade
 Para poder vencer.
C H I C O   D A   M A T A
 Se disserem que depois da minha morte, não mais morrerá nenhum seringueiro e que a Amazônia não será devastada, eu morrerei feliz!
      Chico Mendes
  Deu a vida por um ideal
  De ver a vegetação respeitada
  Doou a vida feliz
  Para que mais mortes não houvessem!
  As hordas haviam tomado 
  As terras dos donos virtuais,
  Devastando a natureza
  Derrubando as árvores seculares.
  Matando tanta erva saudável
  Que prestava-se para curar.
  Ceifando muitas vidas
  De moradores do lugar.
  Derramando na terra
  A seiva que era vida
  Sim, que era a vida da mata.
  E o sertanejo lutava,
  Reunindo a força dos seringueiros
  Para resistir à devastação.
  Que pelo mercúrio não fossem
  Os rios envenenados,
  Tirando a vida da gente
  Que vivia no seringal.
  Mas a luta feriu a ganância,
  De muitos “donos” de terras,
  Que não admitiam partilhar,
  A riqueza com os caboclos do lugar.
  Juraram o Chico de morte,
  Este não se acovardou;
  Mas às vésperas do Natal
  Agiu a mão assassina
  A mando dos grandes senhores,
  Foi cumprida a jura e a sina.
  Mas ao contrário de esmorecer
  Cresceu na mata o ideal
  E as últimas palavras do Chico
  Vararam rápido as matas,
  Com repercussão internacional:
  Se não mais vai morrer seringueiro
  Se a mata não mais vai ser devastada
  Mendes deu a vida feliz.
  Então deveremos honrar
  Essa vida que se deu em holocausto  
  E como bandeira hastea-la
  Para que a luta possa continuar.
  Para que nos conscientizemos
  Que nos cabe um dever maior
  Para as gerações que virão,
  Qual seja doarmo-lhes as riquezas
  Que nos deu a natureza.
  Para isso precisamos
  Abandonar a ganância
   De sempre mais querer
  E contentarmo-nos tão somente
  Com o que poderemos comer.
  E deixarmos o luxo e o desperdício
  Para podermos oferecer
  Ao nosso irmão do mundo
  Que também precisa sobreviver.
  Elevemos o nosso pensamento a Deus
  E peçamos inspiração
  Para que as ações superem as palavras
  Para que deixemos de ser tão racionais
  E possamos falar com o coração
  E assim nos unirmos
  Em uma grande família universal
V I C E J A N D O
  
  Viceja a vil vegetação
  Marco indelével da estação
  Quando a chuva umedece o solo
  E o mato inútil viceja ao sol
  Vinda de tristes ais
  A vida já sem viço
  O triste caboclo, com a enxada
  Fere o chão para ganhar o pão
  Fraco por falta da merenda
  Mistura o suor às lagrimas
  Em angustiante desventura
  Foge a alegria de sua senda
  Morreu o desejo de vencer
  Já nem mais viceja a esperança.
 
E M O Ç Ã O   I N F A N T I L
 Pai!
 Eu sou ainda pequeno,
 Não conheço os mistérios da vida,
 Nem sei expressar o amor!
 Mas talvez quando eu crescer,
 Quando o intelecto se expandir,
 Possa, ainda, menos saber!
 Por isso desejo aproveitar,
 Este sentimento inocente,
 Que sinto, forte, dentro do peito,
 Sem mesmo saber o que é,
 Para te dar um abraço bem apertado;
 E com emoção derramar,
 Em teu coração uma lagrima!
 Para que a guardes contigo,
 Como dádiva preciosa,
 Por toda a tua vida!
 Que espero seja infinita!
 Pois quando eu chegar lá adiante,
 Quando a vida me envolver,
 Não sei se poderei ter tempo,
 De lembrar-me de você!
A   F L O R   D I V I N A
  No passear risonho de minha vida
  Por caminhos de esplêndido florido
  Encontrei a flor Divina
  E do passado recebi o olvido.
  Tal visão bela e resplandecente,
  Deslumbrou-me a alma
  Num resplendor incandescente
  Que mudou a minha vida.
  Tentei fugir por vezes várias
  Mas na distancia em que me colocava
  Mais crescia o amor por Ti
  Sufocando o peito a doce mágoa.
  Novamente agora e sempre
  Volto a ver o Amor Primeiro
  Desço do altar Transcendental
  Assumo a falta de um elo proibido.
  Mas . . .nem me vês embora;
  Pois não me amaste antes e agora?
  Mesmo que bata as asas em Tua porta
  Falta-me a esperança de afogar-me em Teu olhar.
A   V O L T A
 Jurei manter-me em silêncio
 Calar o amor para não incomodar
 Mas minha vida transformou-se em cilício
 O que me obriga a humildemente voltar.
 Procurei preencher o tempo
 Saí sem rumo a vagar
 Enchi os olhos da visão do campo
 Mas o tempo andava mais devagar.
 Transportei-me para a cidade grande
 Procurando nas luzes o esquecimento
 Mas a vida de cavaleiro andante
 Não fez que a esquecesse nem por um momento.
 Eis-me novamente presente
 Para mesmo de longe a encontrar
 Fazendo sentir o que se sente
 Quando o destino posta-se contra.
 Será que o meu sofrimento
 Nem ao menos ao amor inspira
 Para que o afeto se transfira
 Do seu coração ao meu por um momento?
S Ã O   B E R N A R D O
 São Bernardo, de cidade dormitório
 Transformou-se em cidade automobilística
 Com incentivo às artes constituiu-se em auditório
 É gente boa que aprova e incentiva.
 Não só líder da fabricação de automóveis
 Que contribui para a riqueza da nação
 Para o cenário nacional projeta os moveis
 Não para aí, em tudo desenvolve sua ação.
 Povo rijo que ao estranho dá a mão
 Ao imigrante, feliz abre o coração
 Ao pobre sempre ajuda e dá o pão
 Descontraído, em uníssono, entoa uma canção.
 Tem cuidado extremo da criança
 Dando-lhe carinho, esperança, amor
 Da sua criança não desfaz a lembrança
 Contribui para que ao pequeno não sobre dor.
 Nas suas praças divertem-se irmanados
 Em suas fabricas constróem a grandeza
 Valente e firme defende a natureza
 Os corações cheios de amor transformados.
C O N S T R U Ç Ã O   O B J E T I V A
 O Grande Arquiteto idealiza
 Aquilo que será entregue
 No tempo certo, na hora precisa
 O que à alma humana sugere.
 Ao obreiro escolhido entrega
 Através da inspiração mental,
 O plano elaborado em minúcias
 Para que tenha a execução cumprida.
 Mas qual será o objetivo
 E o que tal plano encerra?
 E o material, será tijolo e terra,
 Se usará ali o esquadro e a pá?
 Não, por certo, meu irmãos,
 Que em doce enlevo me ouvem,
 No desejo de encontrar a paz,
 Pela liberdade, igualdade e fraternidade.
 O plano tão solenemente elaborado
 Pelo único Grão Mestre do universo,
 Terá o dever e honra de construir,
 Na alma humana, a convicção de saber-se irmão.
A   L U A
 Uma brisa soprando suavemente,
 Os grilos cantando nos quintais,
 As estrelas brilhando às piscadelas,
 Na intenção de namorar a terra.
 
 Ainda que o ambiente seja próprio
 Para um romance iniciar,
 Unindo pessoas ansiosas por viver,
 Falta algo para que tudo se complete.
 Mas na busca desse quase nada,
 Que no entando seria tudo então,
 Aprofundam-se os espíritos em si mesmo,
 Desejosos de chegar ao inusitado.
 E é nesse rápido momento,
 De fuga dos sentidos,
 Que os namorados entregam-se
 Ao doce embalo da fantasia.
 Eis que com tênue claridade surge a lua
 Como a querer participar da cena
 Completando o sonho que envolve
 Vidas que desejam se encontrar.
 
U M A   H I S T Ó R I A
 O que a história trazia
 Em sua trajetória precisa
 Embutindo no bojo aventuras mil,
 Era a felicidade prá Getulio e prá Luzia.
 
 Então eles se encontraram
 Para cumprir um destino
 E construírem com alegria
 Um lar para os unir.
 Transpuseram os obstáculos,
 Que em geral se apresentam,
 Querendo dificultar
 A caminhada emocional.
 Embora com pensares heterogêneos
   Propuseram-se construir
 Novas vidas homogêneas
 Para perpetuarem a descendência.
 
 E os rebentos que nasceram
 Frutos amadurecidos do amor
 Ajudaram a enriquecer,
Entre flores e carinho, aquele lar.
M E   D I G A
 Qual a resposta,
 Que se dará à nossa dúvida?
 A existência se desfaz
 Na consumação dos tempos?
 Ou se conserva
 Para alcançar o imponderável,
 E projetar-se na eternidade?
 Essa a nossa dúvida
 E é o que abate  humanidade
 Pela incerteza que hoje representa
 Para o dia de amanhã.
 Desejamos separar
 O corpo físico
 Da essência do viver,
 Construindo a esperança
 Tão difícil de se ver.
 E nesse jogo fascinante
 Consumimos o tempo
 Que nos resta para amar.
 Concretizando assim
 O que se chama fim.
P Á G I N A   E M   B R A N C O
   Mário Quintana diz:
   Que “O limite do poema é
   Uma página em branco”
   E nisso colocamos nossa fé.
   Pois de fato o poeta
   Muitas vezes jaz
   Diante do aspecto incolor
   A esperar que a musa abra a porta.
   Com a alma a sondar a vida
   Com o coração buscando a emoção
   Para que desencadeie o encantamento
   Até que a luz nasça fruída
   Fazendo, no papel, correr a mão
   Saciando por inteiro o interior.
L E I T U R A
 Analise o jogo das palavras
 Colocadas nas exposições verbais
 Orientadas pela sensibilidade do escritor.
 Ouça a doce melodia
 No dizer cadenciado
 Que procura alcançar a alma.
 Mas . . .olhe, também,
 Para os espaços entre as palavras,
 Nos lugares vazios,
 Que representam o silêncio
 Na evolução da história.
 Experimente ouvir,
 Aguçando os sentidos,
 A suave voz desse silêncio
 E conhecerá o que ali está,
 Que foi dito sem falar.
 Será onde você
 Irá aprender
 Sem mais procurar
 Os segredos da vida
 Que a vida contará
 Sem nada te negar.
S  E  R
 Quando sou deixo de ser
 O ser que gostaria de ser.
 Porque a minha maneira de ser
 É diferente de ser.
 Só serei o ser que quero
 No momento em que deixar de ser
 O reverso do que imagino ser.
 Mas, afinal, que ser,
 É esse ser tão desconhecido
 Que ainda que tente ser
 Não é possível alcançar?
 Somente saberei
 Se conseguir chegar a ser
 Esse ser místico que está ausente
 Mas que está tão presente em mim.
 Saio de mim mesmo
 Para tentar conhecer
 O ser que estava em mim.
 Observo o ser, agora ausente,
 Que já não é o que era antes.
 E o conhecimento que consigo
 Não me satisfaz por que
 O ser, agora, é estranho a mim.
 Então eu volto a ser . . .
 Desistindo de deixar de ser.
C O R A Ç Õ E S   D E S A Q U E C I D O S
 Os corações abandonados
 Esquecidos pelo enlevo do amor,
 Transformam em seres acanhados,
 Traspassados por inflamadas setas,
 Os tristes herdeiros da dor.
 Desaparecem os ideais
 Criados na juventude,
 Para, em seu lugar,
 Estabelecer-se a frustração.
 Por mais que tentemos,
 Restabelecer a esperança,
 Sentimos que já é tarde
 Para recomeçarmos a caminhada.
 Com a vontade fragmentada
 Pela queda do querer,
 Em vão tentamos juntar,
 Pelos terrenos por onde passamos,
 Os restos enfraquecidos
 Que o tempo não absorveu.
 Já não resta muito mais o que fazer
 Para recompor o que se foi.
 Resta, tão somente esperar
 Que o coração seja reaquecido
 Para ver se revive o amor.
A  D  U  L  T  É  R  I  O
   O punhal que, insensível,
   Fizestes penetrar em minhas costas
   Alcançou a sua calculada intenção,
   Pois não feriu somente a carne,
   Foi mais fundo para atingir a alma.
   No entanto, foi o corpo que morreu, 
   Embora conservasse a vida, 
   E o gesto perverso conseguiu, 
   Que o sangue que fruiu,
   Se transformasse em tristeza.
   Tão profunda frustração
   Jamais alguém saberá a dor!
   Sonhos, esperanças de um puro amor
   Rolam no lodo, cujo odor
   Afugenta a paz do coração.
   Que fiz eu que te adoro tanto,
   Para que partisses à procura de outro leito,
   Manchando com a desonra
   O nosso, no qual vivemos
   Momentos de esplendor?
   Mas, mesmo a derramar tristeza
   Gostaria de contar com a certeza
   Que tu, mesmo longe de mim
   Possa alcançar a felicidade que sonhou,
   E que essa conquistada liberdade
   Não a leve a repetires deslealdade,
   Para acabar na promiscuidade.
   Mas se tal acontecer,
   E fores jogada ao desamparo,
   Voltes a mim sem receio
   Porque do lago de tristeza 
   Que me deixaste
   Ainda construirei o teu futuro.
   Mas se já for tarde
   E não mais me encontrares
   Estarei algures a te esperar
   Com as jóias do perdão
   E as palmas da saudade.
A  N  G  Ú  S  T  I  A
   Angústia que nos vem
   Do mais profundo do ser
   E que ali foi plantada
   Pelos revezes que a vida nos deu.
   Coisas que desejamos alcançar
   E que a vida não nos deu
   Criando em nosso interior
   O vazio da frustração.
   Hoje renascem como sombras
   A escurecer o nosso destino
   Impedindo-nos de ser feliz
  Como nos opormos à essa força negativa
  Que torna a nossa vida infeliz
  Se não elegermos o amor como final prerrogativa?
P O R   Q U E   D I Z E R
   Quando digo
   Por acaso digo algo?
   Ou o meu silêncio
   É quem fala por mim?
   Em minha reflexão
   Penetro no fundo do ser
   Para procurar saber
   Mais do que meu ser
   O saber que envolve o Ser.
   Alcanço a profundidade
   Do que será o reverso
   Do conhecimento exteriorizado.
   Para onde terei de caminhar?
   Para a exteriorização do conhecimento,
   Ou para o reverso do meu ser?
   Nas incursões que tenho feito
   Tentei encontrar o caminho
   Que sem subdivisões
   Nos conceda de uma vez
   Visualizarmos a eternidade 
   E possamos construir
   O futuro que desejamos.
A  M A D U R E C I M E N T O
  Olho no espelho, não vejo nada,
  Desapareceu a imagem
  Que em vão desejei criar.
  Onde estás, reflexo meu,
  Para me revelar, o conteúdo teu,
  O reverso de mim mesmo?
  O nada se revela
  Vazio, pelas fulgurações
  Que tiram do ser
  Tudo aquilo
  Que ocupa os espaços, 
  Criados para abrigar
  As criações transcendentais.
  Agora ou antes, 
  Ou na plenitude do tempo,
  Repetir-se-á a transformação
  Que encontrará no espaço
  A imagem que desapareceu.
  Olho a vida, querendo enxergar
  O rumo incerto
  Que o destino construiu
  Para desmentir
  O que o futuro não cumpriu;
  Estabelecendo o caos
  De vidas divididas
  Em partes desiguais.
  Contemplo a morte
  E nela sinto a vida
  Que estende-se pela eternidade
  Juntando partes
  Que perderam-se no tempo.
  Agora já domino
  A essência do conhecimento
  E não repetirei
  Os enganos infantis,
  Pois já alcancei
  O que tinha de alcançar.
 
N O V A   P E R S P E C T I V A
  Muitos anos de convivência
  Não são prova de compreensão.
  Apesar de vivermos juntos,
  Não aprendemos a nos conhecer,
  E isso nos causa a frustração;
             Estabelecendo o desencontro,
  De almas que teriam um dever,
  De reconstruírem no presente
  Tudo aquilo, que no passado,
  Deixaram por terminar.
  Somos seres tão diferentes,
  Querendo construir vidas
  Com acontecimentos homogêneos;
  Mas só temos capacidade
  Para criar em nossas vidas
  O vazio da desilusão.
  Não te compreendo, nem você  a mim..
  Olhamos e não nos enxergamos,
  Procuramos e não encontramos,
  Um caminho comum para nós dois.
  Então, embora seja penoso,
  Embora nos cause pesar,
  Teremos que seguir, caminhos diferentes;
  E destruirmos isso que
  Levamos tantos anos a formar.
  Serei feliz, estarás contente?
  Deixando tudo sem voltar atrás?
  A saudade, por certo, nos acompanhará;
  Estaremos sempre lembrando
  Dos pedaços de nossa história;
  Das mágoas que sentimos
  E, também, dos momentos de alegria.
  Porque! Porque isso acontece?
  Será que já esgotamos, o rol de possibilidades,
  Que poderia um dia, voltar a nos unir?
  Não sei! Saberá você?
  Vamos tentar?
  Se pudermos recolher, os pedaços de ilusão
  Que abandonamos pelo caminho,   
Talvez possamos reconstruir,
  Com amor, a realidade!
C H E I R O   D E   I N F A N C I A
  
  Tem uma coisa que me persegue          
  E que até eu gostaria                         
  Que fosse mais veloz do que eu              
  E de fato me alcançasse.                       
  É uma nostalgia profunda                      
  Em que meu cismar afunda                   
  Querendo voltar atrás.                           
  Reviver meus tempos de menino,
  Sentir aquele cheiro de infância,
  Viver novamente as emoções
  De saber que se é amado.
  Minha avó índia Vicência
  Por demais versada nas crendices,
  Que ao me receber,
  Logo com a mão em minha cabeça,
  Recitava uma oração;
  Cochichando bem baixinho
  Só prá Deus a escutar
  E me dar a proteção;
  E depois, desenrolando o lenço,
  Me oferecia uma pataca de tostão.
  Minha avó negra Honorata
  Que nos serões da casa grande
  Revivia as histórias
  De sua mãe Justina lá na África.
  Mulheres batucando
  Por cima de braseiros
  Comprovando o poder
  Dos fetiches sagrados.
  Mas o que eu mais gostava
  Era assisti-la
  Na confecção de guloseimas;
  Doce de abóbora, cuscuz, goiaba,
  A cidra, laranja, bom-bocado,
  Chouriço,
  E a cocada de várias qualidades.
  Tudo temperado
  Com um ingrediente em extinção
  Que ao tempo havia em profusão,
  Que saia lá do fundo,
  Do fundo do coração;
  E adoçava-me a vontade
  Fazendo nascer o desejo
  De crescer e de vencer.
  Por que hoje as coisas não tem  
  Mais o gosto da esperança?
  Por que não sentimos
  Outra vez o cheiro que em criança!
  Que saudade!
  
M  U  S  A
  . . .! Quem diria!
  Depois de passados tantos anos
  Ainda sobrevivesse o grande amor
  Que nasceu quando te encontrei!
  Seu sorriso lindo embalou
  A dor que então nasceu
  Quando morreu a esperança
  No triste dia da tua despedida.
  Partido ficou meu coração
  Minha voz embargada, já, pela saudade
  Repetia insistente a oração
  Para que se realizasse o milagre da tua volta.
  Mas os nossos destinos eram desiguais
  No Alto haviam sido traçados
  Caminhos diferentes para nossas missões;
  Dever de aquecer outros corações!
  Cumprimos fielmente o indicado
  Construindo e afagando vidas novas;
  Para outros buscamos a felicidade
  Para nós só guardamos a saudade.
C A S O   D E   A M O R
  Quando acontecerá
  Aquele caso de amor
  Que povoou os meus sonhos?
  Vivi sonhando o futuro
  Na esperança de encontrar
  A razão de viver.
  Encontrar um amor maduro
  Que fosse uma troca real
  Entre dois seres
  Que buscam alcançar
  Os mesmos objetivos.
  Seria a realização
  E o preenchimento do vazio
  Que vem magoando o coração.
  Quando acontecerá
  Aquele caso de amor
  Que seria a razão do meu viver?
G    R  I   T    O
   
   Dei um grito tremendo
   Na ânsia de ser ouvido
   Através do eco que ricocheteou
   Pelos labirintos do tempo;
   Para alcançar o espaço preciso
   Onde reunir-se-ia a assembléia
   Daqueles que deveriam
   Reunir-se aqui.
   E aqueles que haviam sido designados
   Começaram a caminhada
   Que se prestaria
   À preparação
   Das qualificações necessárias
   Ao cumprimento de uma missão
   Profetizada por aqueles
   À quem foi dada a visão.
   Há quanto tempo,
   Iniciou-se essa caminhada!
   Colhendo a cada um de nós,
   E colocando-nos
   Nesta jornada espetacular
   Que nos levará
   À conquista do universo!
R O S E M A R I E
  Uma flor e uma Santa
  Este nome encerra
  Enfeitando a vida
  Purificando a alma.
  
  É a personagem triunfante
  Que nasceu algures
  E que na ânsia de fazer-se luz
  Antecipou-se à primavera.
  Em sendo rainha das flores
  A sua sensibilidade perfuma o lar,
  Com as qualidades de Maria
  Transforma-se em mãe ideal.
  Rosa e Maria,
  Dois símbolos eternos,
  Que reunidos na ternura
  Transformam-se em suavidade
  Rosemarie representa a esperança
  De corações que ainda amam
  Pois trás a muitos alegria
  Enfeitando a Primavera.
N A D A   I M P O R T A
  Não importa quem eu sou!
  Sou uma voz desconhecida,
  Resultado de um sopro
  Que introduziu-se em mim,
  Percorrendo todo o corpo,
  Oxigenando o sangue,
  Alimentando o coração,
  Dando a vida circulante,
  Que entranha-se no meu ser,
  E volta vibrante
  Para atingi-lo pela comunicação.
  Não importa quem eu sou,
  Contanto que convivamos juntos
  A procura de atingir metas
  Que possam favorecer
  O florescimento do amor.
  Não importa quem eu sou,
  Importa que eu sou alguém
  Que acima de todas as coisas
  Ama por demais a vida
  E tem a suprema aspiração
  De que todos possam alcançar
  Esse poder de amar.
  Não importa quem eu sou;
  Sou eu e sou você,
  Porque estamos interligados
  Por um destino solidário
  Que jamais conspirará
  Para que haja desunião.
  Não importa quem eu sou,
  Você nem precisará saber,
  Desde que juntos caminhemos,
  Lado a lado, sem tropeçar,
  Com os nossos olhos voltados
  Para os mesmos objetivos  
  Que afinal nos premiará
  Com a felicidade esperada.
  Não importa quem eu sou,
  Nem importa onde estou,
  Pois sempre estarei presente . . .
C O M P A N H E I R A   F I E L
  Minha companheira é a poesia
  Musa que me envolve todas as horas
  Com o seu manto constante de ternura
  Abraçando-me até à fusão.
  Misturando-se comigo, assim
  Como fazem dois amigos
  Não deixando espaço que os separe;
  Almas fundidas em um mesmo ser!
  Ela chega vinda das alturas
  Do saber das regiões transcendentais
  Percorre minha mente em um repente
  E espalha-se na conquista total.
  Provoca sensações alucinantes
  Na conquista de espaços secretos
  Acelera o peito e o ar faz faltar
  Na elucubração de poemas e sonetos.
  Com essa dedicação que só o amor nos dá
  Ao nos saciar da vontade de sonhar
  Deixa-nos prontos a abandonar a fantasia
  E humildes voltarmos a viver a realidade.
O   P O E T A   É . . . 
 A poesia, sendo a forma de expressão da emoção, é propriamente a exteriorização do ser, da alma do poeta. Essa exteriorização expressa-se por símbolos próprios que carecem de interpretação; esses símbolos representam sentimentos e aspirações secretas que muitas vezes nem são do conhecimento de quem os exterioriza.
 Ao analisarmos a obra de um poeta poderemos conhecer-lhe pormenorizadamente a alma. Trata-se de uma verdadeira projeção da personalidade, expressada por símbolos.
 Sendo a expressão exterior do eu, é compreensível que a poesia seja incompreendida por aqueles que não possuem afinidade com o poeta, subjetivamente, para colher, nos espaços vazios, o que ele falou sem dizer que, aliás, é a parte fundamental da obra.
 É necessário que haja uma sintonia subjetiva do leitor com o poeta, fruto de uma vivência existencial, aqui ou algures, que os terá capacitado a um diálogo através do silêncio que ecoa nas entrelinhas.
 O poeta é, ao mesmo tempo, o mais feliz dos mortais e o mais deserdado da sorte.
 A poesia é ficção e propicia ao poeta criar o sonho e a fantasia; ele ama e faz-se amado na subjetividade da sua criação. Projetando-se em seus personagens, vive a sua existência imune à rejeição. Ao mesmo tempo sente-se impotente diante da impossibilidade de transpor o seu sonho para a realidade.
 Não existe nada mais fascinante do que o sonho, pois ele encaminha-se de acordo com as nossas aspirações; neles nós amamos e, melhor do que isso, fazemo-nos amar, fazendo abstração da realidade, que quando nos faz voltar a ela nos trás a frustração.
 Quando nos deparamos com essas alternativas: viver o sonho que nunca poderá ser transposto para a realidade ou simplesmente viver a realidade sem direito ao sonho, cremos ser a primeira a mais gratificante. Quando simplesmente vivemos a realidade ela amarga-nos a vida de tal maneira que retira-nos as alegrias que poderiam ser criadas; quando vivemos o sonho ele condiciona-nos a vencer todas as  dificuldades.
 De maneira que o potencial de sonho que o poeta possui qualifica-o a transmitir amor e paz, transformando-se, nesse contexto, no mais feliz dos mortais.
F O L H A   M A N C H A D A
  Ao colher uma rosa no jardim
  Um espinho me feriu a mão.
  Uma gota de sangue,
  Partindo do coração,
  Viajou, para, rompendo o espaço,
  Beijar a flor.
  E eu, sem notar o ato de amor,
  Insensível em meu cismar,
  Egoísta esqueci a dor
  Que causei à natureza.
  E desejando registrar,
  Em meu diário o ocorrido,
  Manchei de sangue a alva folha,
  Perpetuando, por esse sinal,
  A lembrança da vida que extingui.
  Assim também fazemos,
  Muitas vezes, com o amor,
  Ferindo rudemente a quem amamos;
  Esquecendo, insensíveis, os momentos
  Em que juntos desfrutamos
  No doce caminhar da convivência.
  Ensina-nos Oh! Deus!
  A gravarmos os eventos
  Em que os nossos sentimentos
  Revelaram os preceitos Teus.
  Ensina-nos Senhor
  A respeitarmos a natureza,
  A amarmos o nosso irmão;
  Para fazermos jús
  Aos grandes sacrifícios
  Que Tu pagastes na cruz.
  Tu que és Pai e és Filho,
  Tu que salvas,
  Que és Cristo Jesus!
E  M  O  Ç  Ã  O
  Dois olhares que se encontram,
  Dois corações interligados,
  Duas almas desfazendo a nostalgia,
  Na procura de um sentimento
  Que transforme toda a vida.
  Mãos se procurando,
  Um toque aveludado,
  Procurando preencher
  Um vazio que existia
  Mas que vai se completando;
  Estabelecendo a sensação
  De suprema alegria.
  É o amor que nasce
  Interligando duas vidas,
  Consolidando a união
  Sem que se estabeleça a culpa.
  Então chegou o momento . . .
A N T I G A M E N T E
  
  Oh! Antigamente!
  Quando a pureza existia
  E os corações palpitavam
  Com a manifestação inocente
  De um sorriso discreto
  Que falavam tantas coisas,
  Às mentes que trabalhavam!
  O intelecto criava fantasias
  Que projetavam-se por dias e anos
  Na visão de um futuro risonho.
  Oh! Antigamente!
  Quando era permitido sonhar
  Com as quimeras
  Que sempre o coração espera.
  E imaginar presente o encontro
  De vidas que se querem
  Pensando ser um prêmio conquistado
  Que jamais,
  Poderá nos ser arrebatado.
  Oh! Presente!
  Que cruel desmente,
  Os sonhos sonhados,
  As conquistas alcançadas,
  As lutas vencidas!
  Quedamo-nos inertes
  Com a vontade entorpecida
  Sem mais forças prá lutar,
  Sem nem coragem de olhar
  Para a montanha de ilusão
  Que deixamos para trás,
  Do pico da qual,
  Contemplamos beijos e flores
  E ao longe um mar de amores,
  Querendo fazer-nos de Deus
  Para o além visualizarmos.
  Agora pagamos o preço
  Que é cobrado dos incautos
  Que nunca poderão colher
  O que, sonhando, não plantaram.
Nada Importa!
  
  Não importa quem eu sou.
  Sou um anônimo
  Que sem constrangimento
  Deseja expressar um sentimento.
  O prazer de tê-la conhecido,
  Embora em rápido colóquio
  Talvez já esquecido,
  Mas que possibilitou
  Constatar, em um momento,
  Que ainda há doçura;
  Que a alma está em crescimento
  E poderemos encerrar a procura.
  Pois encontramos a grandeza
  Nessa alma que se derrama
  E que apesar de até poder
  Subir a um pedestal
  Volve o seu angelical olhar
  Para contemplar os pequeninos.
  Feliz o pássaro que pousa em sua janela,
  Felizes as pessoas que lhe compartilham o lar!
R E T A L H O S
  À medida que viajei
  Desejando encontrar o fim
  Da estrada chamada tempo
  Fui dividindo-me em pedaços
  Que larguei pelo caminho.
  Havia tanta esperança
  Quando parti do meu interior
  Carregando a bagagem
  Que construi trabalhando
  Os místicos mistérios
  Das regiões transcendentais.
  Parti na certeza de encontrar
  As alegrias que sonhei
  Naquele objetivo final
  Para onde havia partido
  A musa da minha fantasia.
  Mas, também, dela
  Foram as partes que encontrei
  Abandonadas à margem do caminho
  Já esvaziadas de esperanças,
  Sem animo de vencer
  O restante da caminhada;
  E ali mesmo encerramos
  A vontade de chegar.
P  R  O  C  U  R  A
  Como poderei encontrar
  A felicidade prometida
  Se não puder encontrá-la
  Sorrindo-me à beira do caminho?
  O meu passado amargo
  Sempre foi um procurar insano
  Desejando realizar concretamente
  O amor só vivo em mito.
  Sempre carreguei em meu espírito
  O peso da desilusão
  Que aumentava a cada passo
  Por não tê-la presente em minha vida.
 
  Mas eu nem sabia que existias
  Escondida que estavas no cismar
  De aventuras e príncipes encantados
  Que dificultavam-na perceber a realidade.
  Nem agora a encontro livre do passado
  Estás presa a sentimentos inacabados
  Que ainda habitam seu coração
  Estabelecendo o alheamento entre nós dois.
D  E  S  E  J  O
  Ah! Como eu gostaria,
  Que você me amasse!
  E que me olhasse
  Sem ser por obrigação.
  Se importar em me cuidar
  Como se eu fosse
  Um ser que precisa
  De carinho para viver.
  Não apenas me desse
  Mas se desse a mim
  Numa entrega consentida
  Como quem deseja se doar.
  
  Isso seria a realização
  Do sonho que idealizei,
  O doce fluir da fantasia
  Para ser satisfeita a dois.
  Nós dois aqui perdidos
  Sem a direção encontrar!
  Embora os corações se inflamem
  Na vontade de amar.
E  N  T  R  U  D  O
  Quando essa orgia findar
  E toda a ilusão não mais existir
  Os corações estarão ansiando
  Para renovar as esperanças.
  As mentes voltarão a raciocinar
  O sangue se esfriará
  E começaremos a projetar
  Novos caminhos a percorrer.
  Será preciso limpar
  Todos os vestígios do passado
  E iniciar nova caminhada.
  Que nos leve a crescer
  Para podermos alcançar
  O poder de renascer.
V I A J E M   S E M  V O L T A
  Se eu construísse minha morada
  No final da existência
  E para lá me transferisse
  Desligando-me do passado!
  Embora aqui não fosse lembrado
  E passasse a apenas ser
  Uma lembrança apagada
  Nos corações que aqui ficaram.
  Com certeza, eu me lembraria,
  Com tristeza e saudade,
  Dos momento que aqui vivi
  De quem por aqui deixei.
  Este pensamento presta-se
  Para despertar a nostalgia
  E confranger os corações
  Saudoso pelo bem que já perderam.
  Parto, neste momento de emoção
  Quando, só, me quedo em vão;
  À procura de um amor
  Que me preencha o coração.
S  Ó   S  A  U  D  A  D  E
  O teu olhar aqueceu meu coração
  Mergulhei para dentro de mim mesmo
  Para poder sentir as emoções
  Geradas pelo reflexo dos teus pensamentos.
  Foi como penetrar águas cristalinas
  Para despojar-me das impurezas
  E poder voltar à vida
  Reencontrando a esperança.
  Nova vida se iniciando,
  Renovando-se nesse recomeço
  Para poder alcançar o sonho
  Para poder viver a fantasia.
  Por que não te encontrei algures,
  Quando percorri tantos lugares,
  com o desejo de encontrar
  No teu amor um descansar?
  Afogo-me em águas turbulentas
  Empurradas pela enxurrada do tempo
  Que desgastou tanto nossas vidas,
  Legando-nos, apenas, uns pingos de saudade.
U M A   V I S Ã O   M O M E N T Â N E A
  Quando contemplo a tua juventude,
  Oh! Mar a minha vida se transforma;
  Ponho-me à procura da virtude,
  Desejando libertá-la das vestes seculares.
  As suaves ondas espumantes
  Parecendo cabelos ao ar flutuantes,
  Madeixas envolventes
  Transluzindo o brilhar dourado.
  No entanto o espírito que o povoa
  É um ancião também;
  Sem preconceitos poderíamos misturar
  Os nossos destinos vacilantes.
  E projetarmos a nossa união
  Espiritual, em nosso caminhar,
  Para encontrarmos no futuro
  As bênçãos que a natureza nos traria.
  Estaríamos vivendo o sonho
  Na pura criação da fantasia
  De que a vida nos traria
  O encontro antes sonhado.
R E V E R S Ã O
  Gostaria de ser tocado por um Deus
  E ser revestido de poder
  Para que num ato arrebatado
  Pudesse rescrever minha existência.
  Reverteria a realidade em fantasia
  Para deixar de viver tantos percalços
  Aboliria da vida os maus pedaços
  Viveria, efetivamente, o que sonhei.
  Porque dividirmos nossas vidas
  Depois de embaralharmos os destinos?
  Na divisão dos prós e contra
  Geralmente nos confundimos na escolha.
  Deparamo-nos com o real assustador
  Que obriga-nos a sermos racionais
  Mas sonhamos construindo fantasias
  Para, covardemente, fugirmos à realidade.
  A vida que levamos, então,
  Enredados pelo sim e pelo não
  Separa-nos do prazer do sonho
  E da realidade tornamo-nos estranho.
O U V I N D O   O   I N T E R I O R
  
  Ouvir em nossas mentes
  O maravilhoso cântico do amor
  E partir para a conquista do universo
  Buscando encontrar a semente
  Que deu origem à dor;
  Para germinar outra
  De um procedimento perverso
  Depois de construir o passado
  Que entranha-se no faturo
  Procurando na passagem
  Usufruir dos acontecimentos presentes.
  Sondando o interior de si mesmo
  Para conhecer o que foi o que será
  Fazendo projetos telúricos
  Na ânsia de concretizar
  Sonhos gerados do nada
  Caminhando até o infinito
  Para criar oportunidades
  De coisas que devem acontecer.
  Do sub . . . ao objetivo
  O destino tramando encontros
  Mas também muitos desencontros;
  Separando vidas homogêneas
  Num destroçar de alegrias;
  Doando só agruras,
  Acontecimentos penosos
  Para criar desenganos
  Que nos tornam profanos
  Por guardarmos a saudade
  De coisas que ainda não foram.
M  O  R  R  E  R
 Morrer é um dormir constante,
 Mergulhar sem medo no mistério.
 É procurar o que se faz distante . . .
 Para envolver a alma em refrigério.
 A vida, que é um acontecer da sorte,
 Que desenvolve-se racional,
 Tem como final objetivo a morte,
 Não foge desse poder direcional.
 O que nos cabe é aceitar
 A visão que a vida nos dá
 Que nos concede o acertar
 O caminho que se encontra . . .lá.
 Partimos tristes reticentes . . .
 Buscando o descanso eterno
 A reencontrar o amor materno
 Para ouvir cantos silentes.
 Encontramos o Poder Eterno
 Ao Qual desejamos nos fundir
 Para nos salvar do inferno
 Evitando que venhamos a nos confundir.
A   L O N G A   E S P E R A
  O destino predestinava o incerto
  Na vida do menino triste
  Na vivência da felicidade ao reverso
  Qual o canário a revirar o alpiste.
  Infância descuidada mas alegre
  Embora pobre, tudo a faltar,
  O coração cheio de esperança,
  Vistas longas a contemplar o infinito.
  Sonhando que sonhava com amores
  Sentindo o desejo de ser amado;
  Que a vida limpasse as suas dores
  E o transportasse qual pássaro alado
  Para a realização da fantasia
  Procurava a musa amada;
  A cada volta a vida lhe trazia,
  Como prêmio, a oferta do nada.
  Mas chegou a hora e o tempo
  Ao legar-lhe, a vida, o que era preciso,
  A musa apareceu com um sorriso,
  Transformando sua existência.
S O L I D Ã O
  
  Ah! Minha solidão!
  A minha solidão,
  É povoada de fantasmas.
  São imagens preciosas
  Da minha infância, juventude,
  E até do meu futuro.
  Elas rodeiam o meu espírito
  Confortando-me
  Da ansiedade, das perdas sofridas.
  Acalenta-me
  Para elevar-me do chão
  Onde, inconsciente, desejo estar.
  A minha Solidão!
  Os meus fantasmas!
  Transformam-me
  Em uma unidade carente
  Que entrega-se contente
  A qualquer ligação;
  Para amainar o desejo de ser,
  De sentir-se gente,
  E ser selado por um beijo teu.
F  A  Z  E  R    A  M  O  R
  
  Da próxima vez que “fizermos amor”
  Procure antes extrair de ti toda a dor;
  Rebusque no teu íntimo a fantasia
  E viva sem fingimento o elo que extasia.
  A amargura é má companheira,
  O ressentimento apaga a fogueira
  Que em vão acendemos sem ter lenha
  No afã de vivermos uma paixão.
  A ligação que finaliza em sexo
  É parte da construção com alicerce e teto
  É o coroamento de algo que tem nexo
  Mas como coroar o que não tem,
  Em nossos sentimentos, começo e fim,
  O que para nós não representa nada?
P E L O S   C A M I N H O S   D A   V I D A
  O meu corpo é fechado
  Porque minha mente é aberta
  E tanto as boas como as más intenções
  Circulam livremente pelo espaço.
  Meu espirito é alegre
  Porque, em que pesem as agruras,
  Sei que sou imortal
  Tendo a eternidade a percorrer.
  Meu coração é humano
  Porque é a extensão do meu ser,
  E unidos percorremos a vida
  Para não perdermos a esperança.
  Sou senhor do espaço
  Porque não conheço distancias
  Aqui, lá ou no infinito
  Percorro sem sair do lugar.
  O tempo para mim não existe
  Porque sou liberto de limitações
  Transponho o final do que é eterno
  Para suprir o que me falta.
L A M E N T O
  Quando fico só
  Me perco em devaneios
  Minha alma causa dó
  E perde o rumo dos anseios.
  Procuro, em vão
  Através de uma visão distante,
  Viver os mitos
  De um passado não vivido.
  
  Encontro o vazio dos sentimentos
  A preencher o nada do presente
  Minha alma, em triste lamento,
  Canta o mal do amor ausente.
  Por que não conquistamos a certeza,
  De ainda possuirmos a esperança?
  Por que instala-se a aspereza,
  De um caminho que nos tolhe a andança?
  Deixar-nos-á o destino
  Caminhar até o final,
  Para recebermos o sinal
  Da concretização do ideal?
S O L I D Ã O   III
  
  Quando estou só
  Percebo que
  Mesmo quando não estou só
  Estou sozinho.
  Sinto-me no abandono
  Sem carinho
  Nem um elo fugidio
  Enfeita meu mundo pequenino.
  Abro o coração
  Esperando que aconteça o inusitado,
  Que alguém sem enfado
  Passe a nele se abrigar.
  Preencho de carinho
  Uma vida tão fugaz
  Desfaço o abrigo, o ninho
  Sem mais olhar para trás.
  Novas metas quero realizar
  Para afastar a solidão
  Desfazer de mim a desilusão
  Para a solidão afastar!
A S P I R A Ç Ã O
  Com todo o respeito menina
  Cujo corpo e aroma tem dono
  Queria eu ter a sina
  De que por mim perdesses o sono.
  Seus olhos quase mansos
  Revelam um coração solitário;
  Derramam um olhar doce
  Que procura correspondência.
  Eu aqui estou à espera
  Do milagre do amor
  Como quem não desespera
  Espero com o coração em dor.
  Será que não romperás
  Com o teu passado incerto
  Para que encurtemos a espera
  E sigamos por caminho certo?
  
  O caminho mais curto
  Para encontrar o amor
  É o próprio caminho do amor
  Que nos indica o caminho certo.
‘  O   L   H   A   R  ‘
  No piscar constante
  Juntam-se as pálpebras contentes
  Encerrando a profundeza do olhar
  Que irrompe como caudaloso rio.
  De onde vem essa corrente
  Que fulmina e arrebata,
  Que alimenta e fertiliza,
  A continuidade do amor?
  Por certo ela passa
  E habita certo tempo
  No próprio coração
  Mas advém de mais longe
  Recebe reflexos do luar de Deus
  Quando gerada pelo próprio Ser.
V  I  S  Ã O    N  E  G  A  T  I  V  A
  É possível estarmos tão perto
  E ao mesmo tempo tão distante?
  Dois corações batendo no peito
  Vivendo juntos o mesmo instante?
  Porém os pensamentos emigram
  Ora lembrando amores passados
  Pensamentos presentes que sangram
  Pelos laços que não foram, gerados.
  Outras vezes é para o futuro que avançam
  À procura do inusitado
  Para preencher o vazio criado
  E assim duas vidas se afastam
  Criando frustrações profundas
  Matando esperanças já mortas
I  N  T  E  R  I  O  R
  A juventude recolheu-se
  Mas continua latente
  Essa foi a minha constatação
  Ao voltar-me para o interior.
  Aquela vivacidade que existia
  E que era alvo de elogios
  Ainda não havia evoluído
  Era apenas brilho sem valor.
  Foi só com o correr do tempo
  Quando a cascara da árvore secou
  Que a seiva se concentrou
  Para enriquecer o interior.
  Então passou a existir
  Algo que de fato tem valor
  A alma se fez humana
  O saber ocupou todo o espaço.
  Então, hoje, o que transluz
  E busca comunicação
  Para alcançar a cada irmão
  É um espírito que se fez luz.
C O R A Ç Ã O   A M A R G U R A D O
  Qual foi o bem
  Que durante a minha vida
  Me propus a semear
  Para fazer jús à felicidade?
  O que será esse sentimento
  Que tantos procuram alcançar
  E gastam os melhores momentos,
  Da vida, sem concretizar?
  Ele unicamente chegaria a nós
  Com a certeza de sermos amado
  Sendo abraçados com emoção
  Mas existem pessoas
  Que sendo órfãos desse sentimento
  Serão sempre natimortos da existência.
R E N A S C E R
O destino se despe
Das aspirações futuras
Quando o amor desce
Sem vida, à sepultura.
Que espaço percorreu
Quanto tempo se escondeu
Antes de começar a definhar
Para nos fazer umedecer a face?
Os sonhos se apagaram
A vida se desfez
A fantasia não existe mais
Agora é chegado o momento
De espantar a tristeza
E reiniciar a caminhada
P A L A V R A S
    
  Apalpo a maciez das palavras,
  Que constróem os lances da história,
  Extraídos de profundas lavras
  Para alimentar a vida transitória.
  São, elas, peças preciosas
  Que fazem amantes viverem o sonho
  Unem mãos ansiosas
  Para se alimentarem de carinho.
  Palavras, suaves companheiras
  Das horas de gozo ou de pesar
  Dão-nos a paz da fantasia
  Abraçam-nos como ventura passageira
  Tentando nos confundir e enganar
  Mas preenchem nossa vida de real magia.
I N O C  Ê N C I A
  
  Se queres ser feliz
  Não mates a criança
  Que insiste em viver em ti,
  Para que não esqueças de sonhar.
  O sonho é que dá vigor à vida
  Quando a criança cria suas fantasias
  Visualizando tempos e momentos
  Que sempre estarão presentes
  Será a inocência da criança
  Que persiste em ser tua companheira
  Que fará fruir de ti a vida
  
  Será a mística mistura
  De todas as idades que vivestes
  Que te ligará a todos os tempos.
C A M I N H A D A   I N T E R I O R
  
  Tento encontrar um estado
  De sublimação interior;
  Procuro alcançar algo
  Que me ajude a encontrar.
  Desço ao fundo de mim mesmo
  E tomo impulso para subir
  Para que consiga concretizar
  Uma maneira de não sucumbir.
  Sempre caminhamos para o fim
  Quer ele esteja abaixo ou acima,
  Mas a realização só vem
  Se caminharmos para o interior,
  E procurarmos conhecer,
  Realmente, o que somos nós;
  Para que possamos construir
  A base que sustenta a vida,
  Que une seres desiguais,
  Para transformá-los afinal
  Na união carnal santificada
  Que gerará frutos de amor
  Criando seres especiais.
  
I N C E R T E Z A
  O amor doe pela incerteza,
  Faz-nos sofrer pela contemplação,
  Pelo alheamento de todo o nosso ser,
  Quando nos falta, da correspondência a certeza.
  A saudade dói em nosso peito
  Pelo medo de perdermos o que ainda não temos
  A emoção pressionada transborda
  O coração com medo, em gelo se transforma.
  Empreendemos a fuga perigosa
  Que nos leva para longe de nós mesmo,
  Distanciamo-nos do que mais queremos
  
  Passamos a viver de lembranças
  Recalcando as nossas frustrações,
  Enclausurando o amor primeiro.
APRENDIZ DE AMOR
  Sou um espírito jovem
  Não tenho, ainda,
  Muitos séculos de vivência.
  Mas nesses tempos de peregrinações,
  Aprendi a principal lição;
  É que só conseguiremos ser felizes
  Se aprendermos a amar;
  E doarmos de nós mesmo,
  Daquilo que possuirmos de mais precioso,
  Para confortar o nosso irmão.
  Como se isso fosse imprescindível
  Para a nossa evolução.
  Tenho a certeza,
  Que quando nos encontrarmos,
  Em um futuro distante,
  Você já estará ciente
  Que o amor é a razão da vida.
C A M I N H O  E S T R E I T O
        25/07/89
 
 Talvez pudesse ser doce a espera
 Para a realização das ilusões sonhadas
 Imaginando que seria possível
 A concretização de tudo que sonhei
 Sonhei, em um dia encontrar o amor
 Que me agasalha-se a alma
 Afugentando os estigmas da dor
 Que tão profundamente me marcou.
 Oh! Como gostaria de viver, 
 A vida que vivi, repleta 
 De esperanças não vividas,
 De sonhos multicores, belos!
 Quando não avaliava a realidade,
 Da vida, que nos desencanta, 
 Negando o carinho da felicidade,
 Premiando-nos com tristeza tanta!
 Agora, que a vida se estreita,
 Que o saber se assenta em mim,
 Sem prometer falsas esperanças,
 Caminho firme para alcançar o fim.
S A B E R 
        
        13/10/91
 Se mergulhássemos
 No mais profundo
 Do saber do sábio
 Para saber o que os sábios sabem
 Saberíamos que 
 O sábio não é sábio
 Ao seus próprios olhos.
 Mas jaz
 No mais profundo do saber dos sábios 
 Para procurar saber 
 O que os sábios sabem.
 E nessa procura acabará sabendo
 Mais do que os sábios sabem.
 Por mais, porém, que possa saber
 Ainda não saberá todo o saber.
 E terá de continuar a procurar saber 
 Sempre mais do que possa saber.
 Nessa procura infinda 
 Nunca saberá se conseguiu saber
 Tudo que os sábios poderão saber.
 Qual o proveito dessa procura
 Se nunca saberá se conseguiu saber?
 Servirá para saber que saberá
 Sempre mais de quem não procurou saber.
O   V E R D A D E I R O   S E N T I R
        
         27/03/92
 
 O amor mais intenso
 Que cria raízes profundas
 É aquele que não apenas no coração,
 Mas em nossa alma afunda.
 Cria ligações consentidas
 Por não ter o físico a toldar
 Aprofunda em operações sentidas
 Em um entendimento total.
 Sem conhecer o bem amado
 Que à distância se conserva
 Jamais a ousadia se consumará
 Será uma troca de carinhos
 Criados por seres emocionais
 E o sentimento nunca se esvaziará.
R E V E L A Ç Ã O
        03/04/92
 O que eu escrevo
 Quer em prosa ou verso
 É a minha própria vida
 Que conto e não escondo.
 A narração partida em pedaços
 Esconde as frustrações havidas.
 O personagem que representa a ficção
 Revela o conteúdo da própria vida.
 Procure reunir os pedaços
 Para saber o que poderá haver
 No vazio das entrelinhas
 Com certeza irá saber
 As mágoas havidas no tempo
 Que enfeixam o sofrimento.
D  E  D  I  C  A  T  Ó  R  I  A
         13/04/92
 A quem conheço
 Através de "Místicas Lembranças"
 E que reproduz via Telesp
 A tonalidade de sua voz
 Vinda de um labirinto de emoções.
 Ofereço
 A ingenuidade de minhas exteriorizações.
 Augurando-lhe a busca
 De uma ligação transcendental
 Que supere valores essenciais,
 E ligue, através de seres interiores,
 Que procuramos em nós mesmo,
 O hoje ao infinito.
 Onde inexiste tempo e espaço
 E propicia o encontro
 De seres iguais
 Que perderam-se na eternidade.
U N I P R E S E N Ç A
       13/04/92
 Qual a extensão da vida
 Quando cremos na eternidade
 E empreendemos a caminhada
 Sem nos preocuparmos
 Em alcançar o objetivo já,
 Nem movemo-nos do lugar
 Para encontrarmos aqueles
 Que são nossos irmãos?
 Não importa distancia ou tempo
 Nem dimensões multiplicadas
 Quando sempre estaremos
 Presente no tempo certo.
 Acreditamos
 Que o poeta é assim
 Estendendo
 As suas palavras entretecidas
 Para estar presente
 Em todas as gerações.
M E N S A G E M
       13/04/92
 Quando miramos o céu estrelado
 E imaginamos o mundo que existe
 Sem o nosso conhecimento,
 É o mesmo que olharmos
 Para o nosso interior
 E encontrarmos um estranho.
 Antes de desvendarmos
 Os segredos do universo
 Deveríamos tentar
 Conhecermos a nós mesmo;
 Para realizarmos,
 Com o nosso próximo,
 O místico encontro
 E dessa união resultasse
 A ligação com o infinito.
 Vamos tentar?
I N C E R T E Z A
       13/04/92
 Não choro assim
 Por teres deixado a vida
 Meu pranto corre
 Por não estares mais presente.
 Tua ausência permanente
 Criou um pesar profundo.
 Te procuro a cada instante!
 De que vale a vida tão sozinho?
 Tento saber a razão
 De caminharmos separados
 Quando a vida poderia nos unir.
 Hoje já não vive a esperança
 Perdida nas vagas da ilusão;
 Reluto, incerto, entre o ir e o ficar.
M E N S A G E M   C I F R A D A
        19/04/92
 Miríades de estrelas
 neste céu de outono
 a piscar intermitentes
 transmitindo mensagens especiais.
 Imaginamos, cada uma delas
 como mundos latentes
 cuja vivência é sentida
 através de mundos iguais.
 Realizar-se-á através de insistentes mensagens
 Imagens de amor e de paz
 com que poderemos compor
 A fantasia que não seja miragem
 Mundo real onde haja a procura
 de uma vida eficaz.
O N D E    E S T Á    A    F E L I C I D A D E ?
         19/04/92
 Fui visitar uma favela
 Para aprender o que é sofrer
 Foi como olhar pela janela
 O que imaginei não existir.
 E pude perceber
 Que o pobre não difere de ninguém
 É um ser humano rico
 Que tem paz no coração.
 Já conheci muitos figurões
 Com a posse de milhões
 Que, alimentados de amargura
 Perderam a vontade de sorrir.
 Ali na favela encontrei
 Corações a transbordar
 A sorrir, bocas desdentadas,
 Com o sorrir também no olhar.
 Ali eu aprendi que a posse
 Não carrega consigo a felicidade
 Me gratificou o assistir
 Crianças derramando alegrias pelo olhar.
U M   C O N T O   Q U E   M E   C O N T A R A M . . .
         
         23/04/92
 
 Que bom se todos nós pudéssemos habitar as matas, viver junto à natureza, para despertarmos a nossa sensibilidade e podermos apreciar o belo!
 Isso nos daria, com certeza, a oportunidade de penetrarmos em nosso interior para encontrarmos, também, uma luxuriante “floresta” de sentimentos.
 Penetraríamos uma outra dimensão onde seria propiciado, ao interior e ao exterior, encontrarem-se para apreciarem a natureza real que alimenta nossa visão material do dia a dia onde encontramos tanta beleza que nos extasia, ao contemplarmos um céu estrelado; o sol que infunde pureza através de sua claridade; a lua com a sua luz pálida e romântica que instiga os corações a uma entrega para viverem um amor sonhado, que nem sempre se realiza!
 Ou penetrar para o nosso interior a buscar o fio de nossas frustrações que ali recalcamos na ânsia de esquecer o óbvio!
 Estrelas, luz. céu azul, misturam-se com o ser real que pensa concretamente e ao mesmo tempo sonha, como um poeta em devaneio a procura de um encontro consigo mesmo.
 A análise concreta de necessidades materiais, em uma imitação da vida, mistura-se com o subjetivo que leva personagens de ficção a nos ensinarem a pragmática do sonho e da fantasia.
 A exemplo dos personagens Sol e Lua, que ilustram o conto “ A Lenda de Sol e Lua” de Míriam Marques de Almeida, o ser humano recolhe-se em sua solidão para viver, na ficção, aquilo que a vida não lhe permitiu realizar, superando tempo e espaço. Essa realização só se completa se conseguirmos encontrar e nos unirmos à nossa outra metade. Ironicamente a nossa vida é como Sol e Lua que só conseguem o encontro na ficção.
 Realmente, a vida se apresenta como no conto dessa escritora que caminha para o sucesso; os gemidos de angústia que almas irmãs emitem, em ansiedade, será ouvido e uma   força superior consolidará a união, porque a nossa caminhada realiza-se em um tempo que se chama eternidade 
C O M E N T A N D O
        23/04/92
 O poeta mergulha em sua solidão na procura de ser um deus que o possibilite transformar o mundo, as pessoas, para que possa haver um “Amor Mais Profundo” que o ajude a “Descobrir-se”. Nessa procura mergulha na “Noite dos Tempos” que percorre o infinito e o fará encontrar o sonho e a fantasia.
 Feliz de quem tem a habilidade de transpor para o papel o seu rico interior, que irá premiar outras almas sensíveis.
 Estas poesias, que acabo de ler, como aquelas de “Místicas Lembranças”, nos encantam e embalam a nossa fantasia. Transforma o mundo e as pessoas para aperfeiçoa-las e condicioná-las a uma evolução interior.
 Só o quer posso desejar é que o público possa continuar a ser brindado com as belas páginas de sensibilidade de Míriam Marques de Almeida.
A  B  R  A  Ç  O
        09/05/92
 Amar, abraçar,
 Abraçar, amar.
 Um sentimento
 Um movimento
 Que se encontram
 E se correspondem.
 Quando nasce o amor
 Temos vontade de abraçar
 Quanto mais abraçamos
 Mais queremos amar.
 E . . .as carências se diluem.
 Mesmo à distância
 Em um envolvimento subjetivo
 Amamos e abraçamos
 Com prazer objetivo.
 São almas envolvidas
 Em um mesmo pensar
 Compartilhando vivências
 Que as unirá
 Em um mesmo caminhar.
M   Ã   E
        10/05/92.
 Quando ainda vivias
 E eu poderia 
De tua companhia usufruir
 Não avaliava a importância
 De contar com a tua presença.
 Agora que partiste
 Deixando um grande vazio
 Meu coração soluça
 Por não mais poder te ver.
 Este coração
 Que também já vai envelhecendo
 Eleva, por ti, uma oração
 Aguardando o momento
 Que por mim
 Também façam igual intenção.
 Quando colhido pela idade,
 Senhora que a ninguém perdoa,
 E ao teu encontro eu partir
 Deixarei, talvez, outros corações a soluçar
 Também repletos de saudade.
 
 D O A Ç Ã O   V O L U N T Á R I A
         11/05/92
 Em cada verso que escrevo
 Coloco pedaços de minhas entranhas
 Ao leitor sei que isso devo
 Para não lhe parecer um estranho.
 Essa doação voluntária
 Que faço, sem restrição,
 Viajando por região imaginária
 Me elevam a superior dimensão.
 Quanto ao próximo mais eu dou
 Em um desprendimento consentido
 Mais rico se torna o meu interior
 Construindo castelos eu vou
 Buscando, para a vida, novo sentido;
 Encontrarei, ao final, o prêmio maior.
D  A  N  Ç  A  N  D  O
    11/05/92
 
 Seu esguio corpo junto ao meu
Em um ajustamento milimétrico das curvas
 Seus longos braços me envolvendo
 Rostos colados misturando nossas rugas.
 Seus longos cabelos esvoaçando
 No ar sentimos suave cheiro de perfume
 Em lentos passos vamos dançando
 Não alimentamos mais queixumes.
 A divina música transporta
 Nossos sonhos ao infinito
 Em um arrebatamento que extasia
 Passado e futuro abrem as portas
 Esquecemos que o mundo é finito
 E passamos a viver, do amor, a fantasia.
M U S A S   C O M P A N H E I R A S
         20/05/92
 As musas que construi,
 Personagens de meus sonhos,
 Caminham comigo pela vida
 Para que não me sinta tristonho.
 São companheiras queridas
 Que dissipam minha solidão.
 Uma delas é Walkyria,
 Dos sonhos da juventude,
 Teresa, Rosa e Maria,
 Com a Poesia,
 Minhas fieis companheiras.
 Maria da Praia,.
 Malu, Rosemarie,
 Jacy, Joice, Marília,
Júlia, Mercedes, Mara
 Que lembram seres viventes.
 A Maura de coração amargurado;
 Mariinha que mãe ardente!
 Vicência, Honorata e Justina
 Que alimentaram os meus sonhos.
 Cordelia, dos mistérios a vidente.
 Maria Claudia que se fez
 Do amor a confidente.
 Mafalda que não soube
 Conservar um puro amor.
 A Ditinha, que afinal se ofereceu.
 E as Miríades de Estrelas
 Que brilham no firmamento;
 São todas criadas pela minha fantasia,
 Mas algumas vidas têm.
M E U   S A L V A   V I D A S
         23/05/92
 No emaranhado de ilusões
 Vivendo mágoas, amarguras, frustrações,
 Fui arrastado pelas vagas do destino
 E envolvido por tramas mil.
 Fugiu-me a esperança de alcançar
 A realidade da aspiração que sonhei,
 Inconformado, partiu-se algo dentro de mim;
 Desiludido passei a esperar o fim.
 
 A vida se delineia em um vazio,
 Já não alimentamos transformação alguma
 Quando o milagre se faz presente
 Pois no mar encapelado em que me debatia
 O salva-vidas me envolveu;
 Percebi, feliz, que era você.
C A R Ê N C I A S
         24/05/92
 Por trás de minha ousadia,
 De minhas decisões maduras,
 Do procedimento desassombrado,
 Escondem-se minhas carências.
 No disfarce da minha valentia, 
 Nas lutas que tento empreender,
 Para buscar soluções
 Que cada ser humano espera,
 Você encontrará um coração de menino.
 As aparências são máscaras
 Que escondem as frustrações
 De desejos que não vivemos,
 Construindo um vazio dentro de nós.
 Como converter os maus caminhos
 Que o sofrimento nos impôs?
 Será que ainda reconstruiremos
 Os eventos a que aspiramos
 Para resolver nossas carências
 Preenchendo o coração?
A M O R   R E A L
         28/05/92
 A suprema felicidade
 Seria eu viver em mim
 Apurado em minha essência
 Para esquecer o que é concreto
 E não faz parte do subjetivo.
 Haveria, então,
 Um momento de ilusão
 Em que poderíamos nos encontrar
 Para nos amar
 Sem medo de escandalizar.
 Esse seria o verdadeiro amor,
 Puro como o de um criança,
 Que ama no primeiro instante
 Ao lançamento de um olhar.
 Por que não somos assim,
 Procurando em nosso interior,
 Essa inocência que guardamos da infância?
 Por que não criamos condições
 Para esse amor florescer
 Sem que haja nada proibido
 A não ser nossas aflições?
N O S T A L G I A
         05/07/92
 Das cinzas do passado
 Em que se transformaram
 As preciosidades que vivi
 Ressurge o espírito da esperança;
 A querer me contemplar de novo
 Com a felicidade que perdi.
 Volto no tempo o pensamento
 No desejo de ter aqui
 As musas dos meus sonhos
 E percebo . . .que o passado já morreu
 E . . .não irá a alegria me devolver.
 Na fantasia criada em minha mente
 Alcanço o elo que me liga à gente
 A momentos envolventes
 Que, então, vivemos
 E que não voltam mais.
R E A L I D A D E
         07/07/92
 As longas convivências
 Nos transportam ao final
 Para a perfeição no relacionamento.
 Diz até o vulgo, que
“Nos tornamos parentes”
“Que ao fim somos dois irmãos.”
 Primeiro é a paixão,
 A chama arrebatadora,
 O ciúme, a dor da dúvida,
 Que faz gerar o amor.
 Momentos envolventes!
 Desse conluio nasce a amizade
 Forjada nas tempestades da vida.
 O tempo, inclemente,
 Vai fazendo a flor murchar
 Para que tudo se transforme
 Na saudade de álbum de recordações;
 Que folheamos, nos lembrando,
 Através das folhas amarelecidas,
 O grande amor que feneceu . . .
 Então nasce a necessidade
 De preenchermos o vazio
 Para voltarmos a viver . . .
 E já se faz tarde!
L I G A Ç Õ E S   E N E R G É T I C A S
         
         25/08/92
 Deixe-me tocá-la
 S u a v e n t e . . . assim . . .
 Como se fora em pensamento.
 Para que se unam nossas peles
 Contatando nossas energias,
 E fluam nossos sentimentos
 Das regiões mais profundas,
 Para estabelecermos o ciclo do sonho.
 Já é hora de unirmos,
 Sem medo, nossas solidões,
 Para alcançarmos o frenesi
 De almas que se pertencem;
 E subjetivamente caminhemos,
 Embora separados por distâncias,
 Ainda que desunidos pelo tempo,
 Para a conquista do que mais queremos,
 Que é a paz do amor sonhado,
 Que nos transportará,
 Para um mundo sem castigos.
D O A Ç Ã O   E X P O N T Â N E A
          01/09/92
 
 A coisa mais frustrante,
 Que avoluma minha carência,
 É que me permitam,
 Possuir um corpo,
 Sem que haja uma troca
 Gerada por sentimentos verdadeiros.
 Quando alguém dá sem se dar,
 Sem que flua na relação,
 Uma troca recíproca de energia,
 O ato jaz no vazio,
 Sem nada acrescentar
 A nenhum dos parceiros.
 Ninguém é obrigado a dar,
 Mas se o fizer terá que se doar,
 E participar de modo que,
 As almas inflamadas fundam-se
 Em um mesmo ser.
M I N H A   E S P E R A N Ç A
          12/09/92
 O teu olhar,
 Quando derrama-se
 Dá-nos vontade de sorvê-lo,
 Como suave bebida,
 Que irá nos embriagar,
 Para sonharmos com o amor,
 Que nos preencheria o coração.
 O teu sorriso
 Quando desabrocha
 Tal qual primavera
 A nos preencher de encantos,
 Perfuma a vida,
 Transforma nossa vivência,
 Faz-nos renascer a esperança,
 De ainda vivermos na fantasia
 Que só o amor poderia nos dar.
 Tudo isso são quimeras,
 Que os carentes constróem
 Para dissipar o obvio;
 De um viver solitário;
 Tentando construir sozinho
 O que só se faz a dois.
M   E   D   O
          18/09/92
 Medo!
 Medo de ter medo!
 Medo de mentir,
 Medo de ser verdadeiro!
 Sentir o sentimento,
 Com medo de sentir.
 Visualizar a incógnita do amanhã
 Quando o hoje nos assusta.
 Buscar a realização,
 Com receio de constatar
 Que tudo é irrealizável.
 Assim é que caminhamos pela vida,
 Tentando superar carências, 
 Juntando forças interiores,
 Para, sem medo,
 Enfrentar o futuro,
 E conquistar o supremo bem;
 A liberdade de ser,
 Para ser o ser que eu quero,
 Sem receio de errar.
B A S T A
         23/09/92
 Basta!
 Basta de mentir!
 Não mais desejo me enganar,
 Sabendo,
 Que esses sentimentos são mentira.
 Me arrastei pelos recantos da vida
 Esperando encontrar acolhidas
 Em algum coração,
 Que como o meu,
 Também, tivesse perdido o rumo.
 E que nossos sentimentos,
 Desviados de suas origens,
 Pudessem se encontrar
 Para que nossas vidas aflitas,
 Se juntassem em um resumo,
 De história de folhetim,
 Onde conhecêssemos o sonho
 De alcançar o ideal,
 De construímos algo novo
 Que nos dará a felicidade.
B U S C A
         07/10/92
 Estou feito prisioneiro
 Entre quatro paredes de solidão,
 Purgando as mágoas e angústias,
 À procura de um peito amigo.
 Permita querida amiga,
 Mesmo na distância
 Que o destino nos conserva,
 Usar o teu peito amigo
 Para descansar a minha alma,
 Derramando os meus anseios
 Para aliviar o coração
 Já a explodir de emoção.
 Na verdade não desejaria
 Transferir a você minhas tristezas,
 Ao contar-lhe o quanto estou só,
 Embora não esteja sozinho.
 Pois minh’alma inconsolável
 Busca outras paragens
 Onde possa encontrar o amor,
 Bem supremo que me falta
 E sem o qual não sei viver. 
O   A M O R   Q U E   E S P E R O
          10/10/92
 Quando na minha infância
 Contavam-me histórias de anjos
 Eu fazia um enorme esforço
 Para que suas imagens se gravassem
 Em minha mente povoada de sonhos;
 Para que os reconhecesse,
 Se algum dia os encontrasse.
 Muitos anos depois
 O meu subconsciente acordou
 Para reconhecer em excelsa musa
 A figura que imaginei.
 Quando em uma noite de Natal,
 Em longínquo passado,
 Minha alma sofria em agonia,
 E meu espírito ansiava em partir
 Na busca de irmãos perdidos,
 E plantava-se em mim a frustração,
 Pela impotência do querer,
 Visualizava cada face,
 A sorrir-me, para que,
 Nunca mais as esquecesse;
 Nascia, assim, forte em meu peito,
 A esperança do porvir.
 Naquela noite insone
 Quando me enlevava em escrever
 Surgiu radiante em minha frente
 Uma figura que pareceu-me conhecer.
 Ao contemplar o céu azul
 Cravejado de estrelas luminosas
 Uma havia especial,
 Que para mim queria,
 A mais bela!
 Transmitindo mensagens especiais,
 Para compensar carências
 De corações solitários.
 Ao assistir o espetáculo
 De divina música,
 Arrancada por bela musa,
 Do instrumento antigo,
 De gozo adormeci,
 E transportado para regiões estranhas,
 Onde a vida era um sonho
 Que a felicidade prometia;
 Possuído por estranho poder,
 Fundi em uma só todas as musas,
 Para que assim pudesse amar
 A soma dos meus ideais.
 Ao assim proceder acordei,
 E em vão continuo a esperar
 Aquela que tanto amei,
 E que talvez me amará.
S  O  N  H  O
         03/11/92
 Eu sou criança
 E brinco na rua de terra.
 O telefone toca
 Na mansão, com paredes
 Toda manchada de barro.
 Para que meu filho não acorde, corro.
 Quando abro a porta,
 Deparo com enorme cão negro;
 Digo à sua dona,
 Que ainda tenho muito medo dele.
 Ele se aproxima,
 Me farejando, me festejando.
 Eu de medo seguro o seu focinho.
 Ele se aninha em meu colo,
 Enrola-se em mim,
 E aos meus olhos
 Transforma-se em feliz criancinha.
R  E  L  E M  B  R  A  N  D  O
         18/11/92
 Seis horas da tarde
 A noite emudece a paisagem
 Preparando a festa
 Com milhões de estrela a brilhar.
 O sino chama para o Ângelus
 Em uma tonalidade pungente
 E os seres enternecidos
 Procuram o passado relembrar.
 Festas na capela da fazenda
 Quando a Ave Maria abençoava
 A família toda reunida
 Hoje os filhos se distanciaram
 Para vencerem algures;
 Todos pagam um preço de tristeza e de saudade.
V I A J E M    I M A G I N Á R I A
          21/11/92
 Em um desses dias
 Saí a viajar distancias,
 A rever os tempos,
 A visitar antigos companheiros.
 E como se torna gratificante
 Reviver alegres momentos,
 Refazer os nossos feitos,
 Corrigindo distorções,
 Mesmo que só na imaginação.
 Lavamos nossas almas,
 Reconquistando amizades,
 E, até, conseguimos declarar,
 À bela musa que nos encantou,
 Palavras que jamais serão esquecidas.
 Porém, são andanças imaginárias,
 Que o pensamento veloz,
 Insiste em nos trazer de volta,
 Para que continuemos
 A, no presente, viver as frustrações.
I  N  C  E  R  T  E  Z  A  S
         21/11/92
 Fui me enrolando em incertezas
 Deixei a dúvida tomar conta de mim;
 Quando me dei conta,
 E desejei me desfazer dos laços,
 Das tramas do destino,
 Foi, que assustado percebi,
 Que já não era o ser de antes;
 Que desejando me encontrar eu me perdi.
 Agora caminho sem rumo
 Seguindo sendas subjetivas,
 Tentando, em vão, encontrar
 Um caminho para mim mesmo.
 Descobri que essa longa estrada
 Que terei de percorrer
 Para voltar a ser feliz,
 Depois de serpentear por ilusões
 Irá terminar em você.
T R A N S P A R Ê N C I A
         11/01/93
 A cor dos olhos
 Não é essencial
 Para fazer a beleza do olhar.
 O que transmite vida
 É a expressão que comunica,
 O amor, a paz, a tranqüilidade,
 Ou seus opostos radicais;
 Qualquer deles mexendo,
 Profundamente com nossas emoções.
 São sentimentos que nascem
 No mais profundo da alma,
 Nos prende e nos conquista
 E são confirmados
 Pela entonação da voz
 Vinda, também,
 De um labirinto de emoções.
A  M  I  G  O
 O cão, com certeza,
 É o amigo que o homem quer,
 Tão dedicado e fiel
 Em suas manifestações de amor.
 Quando seu dono sai,
 Para o trabalho ou passeio,
 Esse amigo de sempre
 Demonstra a falta com seu choro.
 Basta pressentir a volta,
 Para que seu coração se expanda,
 Os olhos brilham de alegria.
 Pula e rola, em suas manifestações de amizade;
 O seu prazer se completa!
A M O R  O C U L T O
         28/06/93
 Amar em silêncio
 Com o coração explodindo
 Incapaz de conter as emoções.
 Sem poder exteriorizar
 A coisa mais pura
 Que aos impuros 
 Irá escandalizar.
 Será útil manter
 Hipócritas aparências
 Para satisfazer o egoísmo
 De pessoas imperfeitas?
 Ou será melhor
 Romper com a tradição
 Desprezar as convenções
 Que silenciosas, nos esmagam
 Com inveja de sermos felizes?
P  A  Z    N  A    S  O  L  I  D  Ã  O
         20/07/93
 Eu amo você!
 Quando faço esta afirmação
 Não me refiro ao seu belo corpo
 Nem à tonalidade da sua voz;
 Ainda nem penso em seus olhos expressivos.
 Não visualizo o seu belo coração.
 O que aprendi a amar em você,
 É algo que emerge
 Do mais profundo do ser,
 Envolvendo os que a cercam
 Transformando vidas 
Criando gente . . .
 Como em um passe de mágica.
 Embora tudo em você seja precioso
 Eu amo mais a sua essência.
 Eu amo a sua alma,
 Antiga companheira
 De ululantes caminhadas,
 À procura da paz
 Que hoje encontramos
 Em nossa solidão.
R E T O R N O   À    D O R
          29/01/94
 De tempos em tempos
 Ressurge a desesperança
 Me roubando os momentos
 De paz de criança.
  
 Apresenta-se como febre causticante
 A ferir a alma cansada
 Por percorrer caminhos distantes
 E afinal quedar-se desamparada.
 Volta para o presente
 A dor das desilusões sofridas
 Que esvaziam a vida de sentido
 Instala-se a dor pela musa ausente
 Da vida as esperanças são perdidas
 Sinto em mim o coração partido.
R  I  O      T   I   E   T   Ê
         30/01/94
 A terra formosa
 Preparada por mão Divina
 É fecundada pela chuva
 Que lavando a seiva da mata
 Penetra em seu interior.
 O milagre da vida
 Evolui a sua prenhez
 E aos rugidos de felicidade
 Rompe o véu sagrado
 Para dar à luz o rio.
 Este, a princípio
 Arrasta-se tímido
 Espalhando-se pela mata
 Fertilizando o solo.
 Depois cresce
 Vencendo os obstáculos que o cerceiam
 Traçando o seu caminho
 Percorrendo distancias
 Na procura do seu destino.
 De pequeno arroio
 Como chuva de lagrimas
 Brotando do seio da mãe terra
 Logo cresce e avoluma-se
 Varrendo tudo em sua passagem
 Construindo delicioso leito
 Compartilhando com seus habitantes
 Que irão alimentar o homem
 Para em troca receber
 A agressão que tenta mata-lo
 Tenta banhar a cidade
 Para vê-la vicejar ao sol gigante
 Espalhando o brilho humano
 De acolhedora da nação.
 
Sem vida em seu leito
 Despovoado e quase agonizante
 Reage, saltando corredeiras e cachoeiras
 Respirando o ar oxigenado
 Da mata verdejante
 Que a sanha do homem, ainda não destruiu.
 Refeito continua a sua peregrinação
 Visitando cidades florescentes
 O progresso transportando
 A riqueza consolidando
 Devolvendo em benesses
 O mal que recebeu.
 
 Acorda São Paulo
 Desperta a alma do homem
 Conscientiza-o do dever a cumprir
 Que será unir a vontade
 O poder e o querer
 Revertendo o processo vigente
 Saudando, em sua passagem, o R I O
 Que, ainda, insiste em não morrer.
 
M E L A N C O L I A
         04/02/94
 A melancolia nos colhendo
 Aproveitando-se da languidez do tempo
 Que nos faz parar para pensar
 Em tudo que deixamos para trás.
 Esperanças de ter alguém a nos querer
 Unicamente pelo nosso ser
 Um querer bem sem falsidade
 Um amar sem dissimular.
 O que encontramos é a morbidez
 Nos desiludindo de desejar viver
 Por não mais alguém esperar
 
 Já é por demais pesada a vida
 Carga que não podemos suportar
 E partimos para alcançar o fim.
S  E  R      O  U      N  Ã  O      S  E  R
         02/03/94
 Ser ou não ser
 O ser que quero ser
 É a dúvida que povoa
 A minha mente febril.
 Alimento alcançar
 O objetivo principal
 Desta vida transitória 
 Para  poder evoluir
 E encontrar o conhecimento
 De coisas incertas
 Que a vida constrói
 Alinhavando destinos
 Prendendo na rede
 O futuro de alguém.
 Se chegar ao fim do caminho
 Por certo poderei ser
 O ser supremo
 Que será condutor
 De quem deseja alcançar,
 E passarei a participar
 De um objetivo maior.
N Ã O   S E R 
         
         25/06/94  
 
 O amor não é,
 Mesmo que muitos o julguem,
 Uma simples mercadoria
 Que possa ser objeto de trocas
 Sem que essa transação 
 Seja do próprio ser.
 O amor é a seiva do ser
 Que nasce do interior
 E doa-se de si mesmo
 Para outro ser igual.
 O amor não se compra
 O amor não se vende
 Doa-se a quem compreende
 Os nossos sentimentos profundos
 E se dispõe a uma troca justa
 Para que haja a fusão de ideais
 Que propiciará um mesmo caminhar
 Rumo a objetivos comuns
 Com a certeza de lá chegar. 
P R O C U R A
         23/12/94
 Estou só!
 Quero ficar só!
 Preciso estar só,
 Para que repasse minha vida
 Pelo prisma das realizações;
 Para rever os meus caminhos
 Imaginar os desvios
 E as trilhas verdadeiras.
 Tenho de ficar só,
 Porque só assim poderei
 Desnudar a minha mente
 Sondar o coração
 E encontrar as razões
 Que me motivaram a sentir
 O vazio dentro de mim.
 Preciso estar só
 Para refazer caminhos
 Remover as frustrações
 Criar um mundo novo
 Onde possa vencer o amor.
 Amor de entrega voluntária
 Sem cobranças infindáveis
 Que possa realizar a entrega
 Não solitária mas mútua
 Que construa a felicidade.
 Preciso estar só
 Para vencer o tédio que me empurra
 Para corredeiras e cachoeiras
 De amargura e solidão.
 Preciso estar só
 Assim desvendando o meu destino
 Que parece estar prestes a findar.
V I A J A N D O   P E L O   T E M P O
         26/12/94
 O tempo é veloz como o vento
 E nos impede de acompanhar a vida
 Por mais depressa que caminhemos.
 Juntamos no presente
 O passado e o futuro!
 Aquelas meninas que vimos nascer
 Às quais com cânticos
 Embalamos o sono
 Transformaram-se como num sonho
 E se apresentam a nós
 Com um perfil de mulher.
 Por mais que desejemos ignorar
 As mudanças sutis
 E enxergar os traços infantis
 Esse novo ser nos emociona
 E mesmo na solidão
 Em nosso coração vivido
 Vemos renascer o amor.
N A S C E   A   E S P E R A N Ç A
         31/12/94
 O cinza da manhã
 Tornando opaca a visão
 Foi transbordando
 Pelas frestas do dia
 E desaparecendo
 Deixou nascer o sol .
 As moças tristes
 Que antes choravam
 Viram brilhar a luz
 E nascer-lhes a esperança
 Do nascimento de um novo amor.
 As crianças cantam alegres
 Indiferentes ao azul do céu
 O verde do mar
 E à cor das nuvens, que talvez
 Viessem gerar os seus destinos.
A N O   N O V O
         01/01/95
 Floresce um novo dia
 Parte do infinito tempo
 E introduz um novo ano
Semeando nos corações a esperança.
 Vidas que de ano em ano
Buscam novos caminhos
 Aspiram realizar a ventura
 De um encontro com a alegria.
 A cada espaço de tempo
 Renovam-se as frustrações
 Fruto de maldosos corações
 Que tira da vida todo o alento.
 Quando se dará o milagre
 De corações transformados
 Transbordando a vida de alegria
 Consolidando em nós a paz?
 Quando nos amarmos como irmãos
 Abandonando egoísmo e orgulho
 E unidos juntarmos nossas mãos
 Em uma prece de fé ao Senhor.
O   P E S O   D A   S O L I D Ã O
          19/01/95
 Tem horas
 Que nós sentimos
 Uma dor tão profunda . . .
 Parece-nos ter de suportar
 O peso de todo o mundo.
 Então percebemos que
 Justamente nesse instante,
 Não podemos contar com ninguém.
 Apropria-se de nós
 Um vazio incomensurável
 E constatamos que estamos sozinhos.
 Não que as pessoas não nos rodeiem;
 Elas estão presentes,
 Mas ausentes de nossa vida.
 Acreditamos não poder suportar
 O peso da solidão . . .
 As lagrimas umedecem nossa face
 Na ânsia que sentimos
 De lavar a amargura
 Que nos fere profundamente,
 Ao nos mostrar um caminho
 Que nos levaria à felicidade,
 A tanto tempo procurado,
 Mas que se encontra fechado
 Pela incompreensão dos corações.
D E S T I N O   F U G I D I O
         20/01/95
 Os sentimentos que vivemos
 Em cada instante de visão
 São pontos perdidos do destino
 Que explodem em nossa mente
 Mas que não param;
 Continuam a sua trajetória
 Perdendo-se na imensidão do universo.
 Cá ficamos nós
 Esquecidos dos momentos
 Em que fomos premiados
 Por revelações inusitadas
 Que, inocentes, deixamos escapar.
 Quando acordados pela reflexão
 Constatamos que em um lapso instante
 Poderíamos ter nos transformado
 Para dominarmos nosso destino
 E sermos senhores do caminhar.
V I D A   I M P R E C I S A
      
         20/01/95
 A vida vem, a vida vai
 A vida caminha, tropeça,
 E com ela rolamos,
 Lutando para não sermos vencidos,
 E possamos alcançar
 O que a vida pode nos dar;
 Não simplesmente o que deseje
 Nos oferecer sem uma escolha apurada
 Mas tudo aquilo
 Que as nossas aspirações idealizam
 Que poderá nos transportar
 Através de esquemas dimensionais
 Às esferas onde iremos encontrar
 Os sublimes enlevos do amor
 Que vencerá a amargura
 Dissipará a angústia
 Transformando vivências
 Contidas de desesperanças
 Em vidas cantantes e felizes. 
A  M  A  N  H  Ã
         23/01/95
 Amanhã
 Independente de todas as injustiças
 Os pássaros estarão cantando
 Amanhã
 Embora muitas criancinhas faleçam
 Agredidas pela miséria que campeia
 O sol estará nascendo para um novo dia.
 Amanhã,
 Quando em muitas mesas não haverá pão
 Estará havendo semeadura e ceifa
 Para enriquecer os gananciosos
 Amanhã, 
 Enquanto continuará a crescer o desemprego
 Os magnatas estarão planejando
 Para implantar novas tecnologias
 Que aumentará os seus prazeres
 E tirará do pobre o pão
 Amanhã,
 Quando o cinza encobrir o sol
 E as flores deixarem de nascer
 Para enfeitar e alegrar a vida
 E não houverem mais criancinhas a chorar
 E o último sabiá entoar o seu lúgubre canto
 A humanidade estará caminhando
 Para alcançar o fim. 
C  A  R  Ê  N  C  I  A
        21/05/95
  Em minha carência constante
  Sinto falta de afeto
  O vazio, neste instante
  Substitui o meu amor dileto
  A jornada que empreendi
  Carregando a cruz dos pecados
  Não me fez compreender, até aqui,
  O que em vidas havia acumulado.
  Mais não suporto, o vazio,
  Construindo paixões ao vento
  Sem recursos de sublimação
  Vivo, do inferno, o estio
 Já esgotou o alento
  Em meu peito cresce a desilusão.
  
N E C E S S I D A D E   D E   A M O R
         10/06/97
  Quando não temos um amor
  Alguém que seja parte de nosso viver
  O nosso coração para de bater
  Fazendo definhar o nosso ser
  Preciso de alguém
  Que me retorne a vontade de sentir
  Aquelas ânsias de querer
  Quando o coração não pode mentir.
  Há! Vida que busco em vão!
  Para que não venha a fenecer;
  Que me dê amor em vez de pão
  As aspirações que vida são
  Que me possa oferecer
  De uma vez o fim da solidão.
O    M  A  R
    Itanhaem,16/03/97
 Caminhando na orla marítima, com as ondas vindo, amigáveis,  roçar os meus pés, medito sobre a grandiosidade dos mares e o que Deus desejou dizer aos homens  quando o contemplassem!
 Talvez pela ligação a todos os continentes exista uma mensagem de paz para ser vivida,  pelo exemplo de um espírito guerreiro que tumultua os tempos vergastando as costas pedregosas, mas insinua-se mansamente pelas enseadas, para dizer suavemente que existe o amor.
 Sepultura que através dos séculos recebeu, em turbilhão, os lutadores, com a incumbência de devolvê-los em data certa para a realização do milagre do renascimento
 Parceiro da lua e dos coqueirais em suaves noites de primavera, encanta os namorados tornando doce o enlevo de morrer no mar.
 Triste destino de tragar a esperança da volta daqueles que nas tormentas não resistem ao chamado da morte.
 Alegre mensageiro para aqueles que contam com a ventura de novamente receberem o ser amado.
 Guardião dos tesouros dos egoístas e dos usurários que preferem empreender a fuga de si mesmo em lugar de traduzir a riqueza em felicidade para os menos afortunados.
 Celeiro pródigo que tem o dom da multiplicação para que quanto mais se lhe tira mais sobra-lhe o que oferecer ao homem cansado, ao pobre e fraco, à criança que ainda espera a esperança.
 O mar! Ele brinca, ele canta, ele alimenta, ele ama, ele castiga, se enfurece, e amaina a sua impetuosidade e vem suavemente nos beijar os pés, humildemente, sem importar-se com a sua grandiosidade; somente consciente do seu destino que é amar!
 Caminho na orla marítima! Caminho pelo caminho de toda a gente. Caminho, também, para o meu destino que é amar . . .
P A R A  J U L I A N A
         13/06/97
  Como a mitológica Poliana
  Que de otimismo construiu o seu viver
  Para vencer e passar a ser;
  Assim outro personagem épico
  Que ao físico dedica seu lazer,
  Sente-se feliz por ver nascer
A heroina do amor, Juliana,
Que em sendo, também, um ser mítico
Nasceu para vencer.
  
P R A N T O
        28/08/95
 Enquanto ela caminhava
 Com seus passos trôpegos
 Derramando copioso pranto
 Resultado de angústias passadas;
 Eu, silencioso, a seguia
 Colhendo as sobras da desdita
 Que, também, a mim colheu.
 Tantos foram os desencantos!
 Quando o destino fugidio
 Nos separava da felicidade!
 Agora colhemos os espinhos
 Das plantas que cultivamos,
 Negam-nos o perfume das flores.
 Diamante
 De que serve ao diamante
 Ser o que ele é
 Se solitário sempre será
 Imitando o desiludido amante?
N E N H U M A   E S P E R A N Ç A
13/03/95
  Um casamento sem amor,
  É como um barco à deriva;
  É um corpo sem vida,
  Um monstro com duas cabeças,
  Cada uma delas procurando
  Outro corpo para juntar-se.
  Esse agrupamento espúrio,
  Independente do tempo que perdurar
  Transforma-se em um edifício desabitado
  Prestes a desmoronar.
  Cada um dos parceiros,
  Desesperado mas covarde
  Busca apenas um alento,
  Um pequeno sinal de encorajamento,
  Para que possa partir
  Na busca de ser feliz;
  Sem o perigo de enveredar-se,
  Através de um labirinto maior,
  Que o levará a uma solução infeliz,
  Salvo do naufrágio, para morrer de solidão!
Meu Pai
22/06/1.996
   
   Aquele homem terno e suave
   Incapaz de desencadear uma procela
   Qual água morna em fogo brando
   Recolhia só prá si as emoções.
   Alheio ao sentir de seus amores
   Caminhava sem pressa ao objetivo
   De doar de si um lenitivo
   E transformar a vida em flores.
   Trocando sua vida por vidas
   De seres inocentes e singelos;
   Simples animais, naturais,
   Das matas donos pela natureza.
   Esse ser de presença tão marcante
   Que em silêncio ordenava meu crescer
   Foi-me tirado de repente
   Para além, partindo sem esperança de voltar.
   O vazio instalou-se em meu ser,
   A angústia tomou conta de mim
   Foi cortado o caminho do futuro
   Transmudando todo o meu caminhar.
   O tempo, porém, não apagou
   De mim aquela vida afim
Conservando, cravada, assim,
   Lembranças de tempos que vivi.
   Por que aquela viajem tão cruel,
   Que tomou o futuro em suas mãos,
   Mudando o transcorrer, então,
   Dos sonhos e esperanças de criança?
   Esse ser que ainda vive em mim,
   Transparecendo no meu proceder,
   É meu pai, que partiu e não voltou,
   Para alegrar-se com o que eu poderia ser.
   
    
‘  F I N A L ‘
  Chegamos ao final
  De uma caminhada preciosa
  Quando juntos percorremos
  Alguns lances da história.
  Vivemos juntos os momentos
  Que marcaram nossas vidas
  Unindo-nos na construção do sonho
  Incentivando-nos a viver a fantasia.
  Depois de trilharmos o caminho
  Unidos pela força do destino
  Coisa alguma jamais nos separará
   
  Pois juntos construímos,
  Aos pedaços, nossas vidas,
  Juntos alcançamos o ideal.
D E S P E D I D A
Morrer, Morrer, Morrer!
Soluçava meu triste coração.
Morrer o amor, de abandono fenecer;
Em meu peito explodiu uma oração.
Já não vivo a ilusão
Da espera infinda
Que não trouxe a solução
Da paz definitiva.
Da carta última
Em tom de despedida
Revelou-se a falta de estima
Transformando o amor em desdita.
Já não diviso no futuro
Um transparecer tranqüilo
Ergue-se, sim, o monturo
De coisas que não desejo esquecer........
Miragem de um Sonho
Escrito especialmente para homenagear ao meu filho Antônio Paulo no lançamento do seu livro "Vôo na Miragem"  21/03/1.996
Miro a mira na miragem
Mirando o que Miró mirou;
Alço o vôo para o sonho
A força alada me transformando.
Contemplo a imagem produzida
Atento, tento abrir espaços,
Alargar meus horizontes,
Conseguir chegar às fontes.
Chegarei a encontrar o que procuro
Nessa imagem que é miragem e sonho,
Nesse sonho que alimenta a fantasia?
Em um vôo que visiono o futuro
Talvez a mira só mire o sonho
De venturas e retalhos que existia.
DESENCONTRO
Onde estavas, 
Que chegastes tão tarde à minha vida?
Já vai longe o alvorecer dos meus dias,
Que passaram-se tão rápidos,
Na ânsia de encontrar o amor primeiro!
Talvez estivesses aprisionada
No solerte casulo da eternidade,
Aguardando, embora apaixonada,
Que a vida e o tempo oferecessem
As prendas ansiosamente esperadas.
Encontras-me já no fim da existência
Sem tempo de acrescentar à vida.
Outros degraus conjuntos de experiência.
Repete-se em nós o desencontro
De vidas sem poder viver,
De almas gêmeas desamparadas,
Cuja sina é viverem separadas.
A  D  E  U  S
  Um adeus é sempre dorido
  Ele indica vidas separadas
  Vislumbramos um futuro indefinido
  A nos esperar no final da estrada.
  Essa dor que nos assola, indefinida,
  Sem manifestar-se nem se ir,
  Deixando o nosso coração pequenino,
  Apertado pela vontade de ir também.
  Desejamos alcançar cenas passadas,
  Fazer renascer outras lembradas,
  Ressuscitar a felicidade que se vai
  Sem mais esperança de voltar.
  
  Agarramo-nos à despedida
  Fazendo dela o elo da esperança,
  Algo que desminta a desdita
  De vidas que não mais se encontrarão.
  Mas essa dor crucificante
  O temor de o futuro enfrentar
  Cura-se com o tempo
  Quando medicados pela saudade.
S E M   T Í T U L O
Já se aproxima o desfecho
Da história que vivemos juntos,
Já percebo fechar-se o tempo,
E delinear-se o alvorecer da nova vida.
Preciso dizer que te amo
Apesar do desencontro
Que alheio aos nossos desejos
Manteve-nos separados.
Prestou-se para consolidar
O sentimento tremendo
De corações que se desejam
Não importando as mágoas do caminho
Que como espinho nos feriu a ambos
Maior, mais forte é a chama,
Que alimenta nossos destinos.
Senti, na tua despedida,
O desejo que tinhas de ficar
Sendo esse, também, o meu desejo,
Para consolidarmos a vida
Que o encontro prometia.
A  D O R  D A  S A U D A D E
Há momentos que nos recolhemos
Para buscar dentro de nós
Os sonhos que não se cumpriram,
E a dor que sentimos
É algo dilacerante.
Idealizamos o encontro do amor,
Um sentimento que preencha o coração,
E quando o encontramos
E julgamos encontrar a felicidade
O adeus vem nos machucar
Com a partida da pessoa amada.
Imaginamos que, talvez,
Outra pudesse ocupar esse lugar
Para que não soçobremos
Com a dor que veio se instalar;
Mas tomamos conhecimento
Que ocupar apenas o lugar físico
Não nos aliviará o peso
Que sentimos no coração.
Porque aí, na sede da emoção,
Não existe ninguém que possa,
Nem de leve, substituir,
A dona do amor real!
Só você, minha amada,
Poderá aliviar a dor
Que parte meu coração!
Coração Vazio
Bruder Klein
Derramo a emoção estonteante
Ao contemplar meu interior
E ali não encontrar a imagem,
Imagem tão querida
Que ali plantei feliz
E que preencheu o vazio,
Vazio de minha existência!
Da aspereza de meu viver
Galguei o céu ao te encontrar
Trazendo-me a esperança
De um amor maior,
Amor maior alucinante.,
Que transformou o meu viver!
Mas, hoje lá já não mais estás,
Partiste para o infinito
Infinito que me magoa o coração!
Meu grito ecoa, então, na busca,
Na esperança de tornar-te a ver
De tornar-te a ver
Ali onde a plantei.
Mas o espaço, hoje, está vazio,
Vazio que mata a esperança
Mata a esperança de viver.
Por que, minha vida,
Por que partiste?
Por que me deixaste no abandono?
Com este coração vazio
E uma alma a mendigar.
Resposta
Bruder Klein
Irei enxugar as suas lágrimas
Para que nunca fique triste. 
Ouvirei os seus gritos
E a socorrerei. 
Darei as mãos a você
Para que corramos juntos
E recuperaremos todo o tempo. 
Oraremos juntos 
E nossos destinos serão iguais. 
Sempre nos encontraremos
Por que estaremos escondidos
No coração, um do outro. 
Dormiremos para juntos sonhar. 
Dançaremos e cantaremos
As mais lindas canções, 
E todos aplaudirão. 
E, quando estiver triste,
E a solidão a alcançar
Tomarei conta de você
Para que nada de mal sofra. 
Fecharemos os olhos
E veremos a luz Divina
Para vivermos
O mais puro amor.
Segredo
14/01/97
O segredo que guardo no peito
Em meio a pedreiras de sentimentos
É preciso que tenha um jeito
De um dia se revelar.
No silêncio ele machuca
Anulando os preceitos
De um amor fraternal
Criando paixão sem igual.
Por que criamos o sofrimento
E vez de anseios de ventura
Que grita em nosso interior
Que o amor é para vencer
Oh! Amargura sem fim
Começo do amanhã
Estrada que não termina
E hoje enfrenta o fim
Quisera ser garimpado
Por quem me haja amado
Para que fosse encontrado
O diamante de um grande amor.
Cleusa
Que linda poesia minha querida!
É um sonho de amor unindo duas vidas, 
Enternecendo os nossos corações
Para que juntos caminhemos
Sem olhar para os lados 
De mãos dadas 
Rumo a um objetivo de felicidade. 
É sonho ou realidade; 
Esse sentimento que nasce forte dentro do peito
E nos conduz nas asas do vento
Para um destino precioso?
Uma entrega verdadeira
Juntando-se dois em um
Para que sigam entrelaçados, 
Corações e almas, 
Em uma fusão que ninguém separará. 
Se for sonho não me acorde, 
Porque quero continuar a amar!
Esperança
Bruder Klein
Um acontecimento
Um amor
Dois corações apaixonados.
A busca
Por sentimentos
Que tragam a felicidade.
Realização do inusitado
Esperança no futuro
Realizar algo grandioso
Que transforme vidas
E as junte na caminhada.
História de folhetim
Embora cheia de emoção
Mas que é apenas ficção
E com o tempo se apagará,
Deixando-nos frustrados,
Com o coração vazio
E a alma a mendigar.
Acorde-me desse pesadelo,
E ensine-me a sonhar!
Outras  Obras do Autor:
Mensagens e Reflexões
Contos Para Ler a Dois na Cama
Devaneios
Minhas Incursões Pelo Jornalismo
Nova Dimensão
Contos Pontos e Contatos
Memórias de Um Cidadão Comum
Serões em Família
Frases e Pensamentos
Aconselhamento Matrimonial
Aconselhamento Matrimonial II
Relendo Cartas
Relendo Cartas II
Proversando
Cartas Vivas
Outras Histórias
Outras Mensagens
Poesias Reunidas
Textos Para a Terceira Idade
Walkyria
Uma História em Três Tempos
Aconselhamento Matrimonial III
E-Mail: mik346@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário